Bolsonaro deverá estimular estratégia de conflitos, prevê cientista político

Bolsonaro deverá estimular estratégia de conflitos, prevê cientista político

Juliano Corbellini avalia o comportamento do presidente e a influência na eleição de outubro

Luiz Sérgio Dibe

O cientista político Juliano Corbellini avalia movimentações políticas do país

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O cientista político Juliano Corbellini, autor do livro "A eleição disruptiva: por que Bolsonaro venceu", afirmou nessa semana, após participar de debate no Programa Esfera Pública da Rádio Guaíba, que o governo de Jair Bolsonaro não pode ser analisado pelas características de um governo tradicional. "Quando vence uma eleição, um presidente com comportamento tradicional desce do palanque e dá início a um processo de ampliação das alianças. Deixa de dialogar com um grupo e passa a conversar com toda a sociedade", aponta.

Para Corbellini, Bolsonaro faz o contrário, seguindo uma lógica de estimular o conflito, ao invés de buscar a unidade e a convergência de interesses entre diferente setores da sociedade. "Com tal atitude, o presidente mantém viva a pauta de 2018, do descrédito com o sistema politico e da polarização extrema entre os pensamentos divergentes", diz.

Na análise do cientista político, ao prosseguir praticando a estratégia que o elegeu, Bolsonaro garante apoio de cerca de 35% do eleitorado brasileiro. "Este foi o caminho que lhe conferiu êxito no processo eleitoral e, ao que parece, é o único pelo qual o presidente consegue se articular. Com esta base de cerca de um terço de apoio, ele fica confortável, no aguardo de uma reação da economia que o colocaria em condições de competir pela reeleição", define.

Corbellini alerta que este tipo de estratégia pode gerar resultados negativos para o país. "A instabilidade e o conflito geram um custo impossível de mensurar. A aposta na desconstrução do tecido social e político é péssima para o Brasil", argumenta o cientista político.

Na visão de Corbellini, Jair Bolsonaro não deverá se desvincular da linha de atuação e discurso que o cientista político qualifica como "lavatismo" em referência aos eventos relacionados com a Operação Lava Jato. "Bolsonaro apropriou-se de temas como o sentimento generalizado anticorrupção, as crises na economia e na segurança pública, o apelo pelos valores tradicionais de família e patriotismo. Se analisarmos, veremos que são temas universais, que importam para todos. Mas o presidente soube transformá-los em temas ideológicos, ao ponto que, quem faz oposição a Bolsonaro, não consegue superar os sentimentos antissitema e antipolítica", explica.

O cientista político diz considerar que este ciclo de postura política não deverá ser modificado de forma significativa nas eleições desse ano, sobretudo pela inexistência, ao menos até o momento, de uma nova linha de conduta e propagação do pensamento político e social. "A narrativa do centro, que era baseada no antagonismo à esquerda, foi destruída e engolida pelo bolsonarismo e pelo lavajatismo. A esquerda tem no lulismo (referência ao ex-presidente Lula) uma narrativa muito representativa, que faz sentido para as pessoas, mas que esbarra em um nível de interdição muito alto, que a impede de construir maioria. Teremos uma eleição muito diferente", conclui.


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