Bolsonaro rebate acusações e afirma que Moro cobrou indicação ao STF

Bolsonaro rebate acusações e afirma que Moro cobrou indicação ao STF

Em pronunciamento, presidente disse que nunca pediu acesso a investigações

Correio do Povo

Jair Bolsonaro fez discurso acompanhado dos ministro de seu governo

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Em pronunciamento nesta sexta-feira, o presidente Jair Bolsonaro acusou o agora ex-ministro Sergio Moro de barganhar uma vaga no Supremo Tribunal Federal em novembro – quando haverá a próxima indicação à suprema corte. Conforme Bolsonaro, a possibilidade foi rechaçada. Ao longo do discurso, em que esteve acompanhado por praticamente todos os seus ministros, o vice-presidente Hamilton Mourão deputados federais aliados, Bolsonaro fez diversos ataques a Moro e negou as denúncias que o agora ex-ministro fez em sua despedida. "Sempre mantive diálogos republicanos com todos os meus ministros", afirmou.

De acordo com Bolsonaro, o pedido de Moro para ingressar no STF teria ocorrido em reunião entre os dois, enquanto discutiam a saída do então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo – aliado de Moro e demitido nesta sexta por Bolsonaro. “Ele (Moro) disse que pode trocar o Valeixo, mas em novembro, depois que o senhor me indicar para o Supremo Tribunal Federal”, relatou, ao que afirma ter dito: “Me desculpa, mas não é por aí”. O presidente contou que nunca prometeu a vaga ao, agora, ex-ministro: “Reconheço as suas qualidades em chegando lá, se um dia chegar, pode fazer um bom trabalho, mas eu não troco. E, outra coisa, é desmoralizante para um presidente ouvir isso”.

O presidente afirmou que o ex-ministro tem compromisso consigo próprio, com seu ego e não com o Brasil. “Ao prezado ex-ministro. Como você disse na sua coletiva por três vezes que tinha uma biografia a zelar, eu digo que eu tenho o Brasil a zelar”, disse Bolsonaro, que, ao longo de 40 minutos, falou a maior parte de improviso e deixou para ler o pronunciamento apenas na parte final. 

Troca de comando na PF

A saída de Moro passou pela troca de comando da Polícia Federal. Mais cedo, o ex-ministro acusou o presidente de tentar interferir politicamente no órgão com a mudança. Bolsonaro, porém, ressaltou que a prerrogativa de nomeação e exoneração é do presidente da República e não do ministro da Justiça. 

Bolsonaro relembrou o início de governo ao citar que acatou as indicações de Moro, mas estranhou que as sugestões eram de nomes que haviam trabalhado em Curitiba, onde Moro era titular da 13ª Vara de Justiça: “Todos os cargos chaves são de Curitiba. Me surpreendeu. Será que os melhores quadros da PF, todos estavam em Curitiba?”, questionou.

Quanto à saída de Valeixo, o presidente destacou que o ex-diretor-geral da Polícia Federal vinha se queixando desde janeiro de cansaço e que isso foi a motivação de Bolsonaro para destituí-lo do cargo. E revelou que conversou por telefone com Valeixo na noite de quinta-feira, comunicando-o da exoneração, tornada pública no Diário Oficial desta sexta. 

Antes de acusar Moro de cobrar a vaga no STF, Bolsonaro afirmou que os dois divergiram sobre o substituto de Valeixo e que o presidente se dispôs a procurar um nome de consenso entre os dois, o que não foi acatado. 

Bolsonaro nega interferência na PF

Ao contrário do que sugeriu Moro no seu pronunciamento de despedida da pasta, Bolsonaro negou que queira interferir na Polícia Federal, e sim que gostaria de acompanhar relatórios das atividades. “Sempre falei para ele: 'Moro não tenho informações da Polícia Federal. Eu tenho que ter todo dia um relatório do que aconteceu nas últimas 24 horas para decidir o futuro desta nação'”, declarou. “Nunca pedi para ele o andamento com qualquer processo.” Também disparou: “Com ele (Moro), a inteligência perdeu espaço na Justiça, quase implorando por informações. Eu sempre cobrei informações dos órgãos”, acrescentou, citando a Abin. 

Apesar de elogiar a Polícia Federal, afirmando que deve à vida à instituição – ao lembrar a tentativa de assassinato contra ele durante a campanha eleitoral – presidente reclamou da postura de Moro à frente do Ministério, ao qual a PF é subordinada. Bolsonaro reclamou da falta de apuração no caso do atentado que sofreu: “A PF mais se preocupou mais com Marielle do que com seu chefe supremo”, comparou. “Entendo que, entre o meu caso e o da Marielle, o meu está muito menos difícil de apurar”.

Divergências

O presidente alegou sempre ter sido claro tanto com Moro quanto com os outros ministros, mas disse que agora não tem certeza se houve reciprocidade de Moro. E reafirmou que, apesar de aceitar sugestões, a prerrogativa é dele: “O dia que eu tiver que me submeter a qualquer subordinado meu, eu deixo de ser o Presidente da República”.

Bolsonaro citou que, pela manhã, já projetava um discurso de ataque por parte de Moro: “Hoje pela manhã, entre sete ou oito deputados, tomaram café comigo. Eu lhes disse: 'Hoje vocês vão conhecer quem realmente não me quer na cadeira presidencial. Esse alguém não está no Poder Judiciário e nem no Parlamento Brasileiro'. Não disse o nome. 'Vocês vão conhecer às 11h'”. 

Disse também que tem se sacrificado: “Eu tenho o Brasil a zelar. Não apenas fiz um juramento, de dar a vida pela minha pátria, se preciso fosse. Mais que a vida eu tenho dado. Tenho dado o desconforto da minha família. As acusações mais torpes possíveis, não só contra a minha família, como aqueles que estão ao meu lado”.

O presidente afirmou que “poderosos” se levantaram contra ele e destacou: “Estou lutando contar o sistema, contra o establishment. Coisas que aconteciam no Brasil praticamente não acontecem mais. Me desculpem à modéstia. Em grande parte pela minha coragem de indicar um time de ministros comprometido com o Brasil”, disse, citando que “conta com muitos parlamentares no Congresso Nacional”.


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