Cinco dias após tomar posse, Manuel Merino renuncia à presidência do Peru
Dez dos 18 ministros do gabinete renunciaram na noite de sábado em meio à violenta repressão a manifestações
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O presidente do Peru, Manuel Merino, anunciou sua renúncia neste domingo, cinco dias após tomar posse em decorrência do impeachment relâmpago do popular ex-mandatário Martín Vizcarra. "Quero tornar público para todo país que apresento minha renúncia", declarou em um mensagem ao país transmitida pela televisão, o que deflagrou uma celebração nas ruas de Lima, um dia depois da violenta repressão a manifestações, com saldo de dois mortos e mais de 100 feridos. Ontem, dez dos 18 ministros do gabinete renunciaram.
O Congresso designará seu sucessor – escolhido entre os parlamentares – em uma sessão convocada para as 18h (20h em Brasília). Isso significa que, durante seis horas pelo menos, o Peru não terá presidente. Na manhã deste domingo, o Congresso exortara Merino a renunciar de maneira imediata para pacificar o país. "Em uma junta de porta-vozes (líderes das nove bancadas), concordamos em convidar o senhor presidente da República, Manuel Merino, a apresentar sua carta de renúncia à Presidência do Peru", disse o presidente do Parlamento, Luis Valdez.
Na noite de sábado, Valdez pediu a "renúncia imediata" de Merino, conforme reivindicado nas ruas por milhares de manifestantes desde terça-feira. O Congresso deve pedir desculpas ao país por uma decisão tão irresponsável (de remover Vizcarra)", disse a legisladora Mirtha Vásquez, da Frente Amplio, uma das 19 integrantes do Parlamento que votaram contra a remoção, ao chegar neste domingo à reunião das bancadas.. A ação policial tem sido duramente questionada pela ONU e por organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional, desde que começaram os protestos na terça-feira. Foi nesse dia que Merino assumiu o cargo.
Até alguns jogadores da seleção peruana de futebol, concentrados para enfrentar a Argentina em Lima na próxima terça pelas eliminatórias para a Copa do Mundo Qatar-2022, publicaram nas redes sociais pedidos para que Merino recue. "Chega", escreveu o meia Renato Tapia. Hoje, ele comemorou.
Lo logramos. Se dan cuenta lo que somos capaces de hacer? ahora, se viene lo mas complicado, asumir el cargo alguien con los huevos suficientes para que esto cambie. Vamos Perú ❤️
— Renato Tapia Cortijo (@renatotapiac) November 15, 2020
O atacante colorado Paolo Guerrero, em recuperação de lesão, também se manifestou.
O prefeito de Lima, Jorge Muñoz, do Partido Ação Popular, o mesmo de Merino, também exigiu sua saída. Merino, um político provinciano de 59 anos, quase desconhecido dos peruanos até assumir o cargo, não comentou as críticas à violenta repressão policial no sábado, nem os apelos por sua renúncia.