Convocados nunca chamados mostram mudanças de rumo da CPI da Covid

Convocados nunca chamados mostram mudanças de rumo da CPI da Covid

A comissão apostou em linhas de investigação que já foram superadas por novas revelações; 26 pessoas aguardam na fila

R7

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Em sua primeira etapa antes do recesso parlamentar, a CPI da Covid apostou em linhas de investigação que já foram deixadas de lado ou perderam parte da importância que pareciam ter para a comissão. Além dos 34 depoentes que estiveram no Senado, outros 26 tiveram os requerimentos aprovados, mas nunca foram chamados. 

Alguns deles, como é o caso do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), foram pautados para o reinício dos trabalhos, em agosto. O parlamentar, que pode esclarecer se teve alguma participação em indicações e negócios questionáveis do Ministério da Saúde por vacinas, deve ser ouvido no dia 12, mas passou por um longo chá de cadeira até ver efetivamente seu depoimento agendado. 

Sua convocação foi aprovada em 30 de junho, após o deputado federal Luís Miranda (DEM-DF) afirmar que o presidente Jair Bolsonaro citou que 'isso devia ser coisa do Ricardo Barros" ao saber das denúncias de irregularidades na negociação da Covaxin. 

A acusação de que existiam coisas estranhas no acordo do Ministério da Saúde para trazer a Covaxin foi responsável, aliás, por empurrar várias pautas para o fim da fila, mas mesmo desdobramentos desse assunto ficaram no limbo. 

Rodrigo Lima, um servidor do Ministério da Saúde que teria comentado com o autor da denúncia da Covaxin, Luís Ricardo Miranda (irmão do deputado do DF), que falava-se em propina em outras negociações da pasta, foi convocado assim que os senadores escutaram pela primeira vez a história. Em dois dias o pedido foi feito e aprovado, em 28 e 30 de junho, mas ficou nisso a intenção de levá-lo. 

No primeiro mês da comissão, em abril, fazia sentido, por exemplo, o requerimento do vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), de conversar com o marqueteiro do ex-ministro Eduardo Pazuello, Marquinhos Show. Nunca foi ouvido. 

No início da CPI, a discussão sobre o esforço feito pelo governo federal para comprar vacinas justificava chamar um dirigente da Johnson, para explicar de que forma se deu o acordo com o Ministério da Saúde. O requerimento de Alessandro Vieira (Cidadania - SE) foi aprovado em 26 de maio, mas a empresa não entrou na agenda. 

No mesmo dia foi aprovada a convocação de um executivo da White Martins, companhia responsável por entregar oxigênio aos hospitais do Amazonas. O colapso da saúde na capital Manaus, em janeiro de 2021, foi bastante explorado pela comissão em alguns dos 34 depoimentos ocorridos nos três primeiros meses de CPI, que teve a primeira sessão em 4 de maio. A empresa ainda aguarda ser chamada.  

Filipe Martins, assessor internacional de Bolsonaro, falaria sobre o gabinete paralelo do presidente, que lhe sopraria rumos a tomar e posicionamentos que deveria ter na pandemia. Alessandro Vieiro pediu para levá-lo em maio, o nome chegou a entrar na agenda, mas saiu assim que outros assuntos mais quentes dominaram o noticiário. 

Os médicos Paolo Zanotto e Antonio Jordão, defensores do tratamento precoce e da cloroquina e presentes em eventos do suposto gabinete paralelo, esperam sentados. 

Covaxin e Davati 

Entre os 26 requerimentos de convocação aprovados de pessoas que nunca foram chamadas entram Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos da pasta da Saúde. Nesse caso, como em outros, o roteiro das perguntas ainda pode ser refeito, sem grande prejuízo. 

Em maio, quando foi aprovado o pedido para chamá-lo, Angotti Neto falaria sobre as falhas no planejamento do país para ter insumos médicos suficientes, daria sua versão sobre remédios sem comprovação científica que foram usados contra a covid, testes, vacinas etc, mas o tempo passou e ele, agora, pode fornecer detalhes sobre as negociações da pasta. 

Uma delas é a história da Davati. A empresa, sediada nos Estados Unidos, teria negociado com o Brasil a entrega de 400 milhões de doses da AstraZeneca. O assunto, revelado pelo jornal Folha de S. Paulo no fim de junho, dominou a pauta da comissão dem seu último mês antes do recesso.

Segundo o cabo da polícia militar Luiz Paulo Dominguetti, o ex-diretor do Ministério da Saúde, Roberto Dias, pediu propina para seguir adiante com o acordo, que acabou não sendo fechado. Os dois foram ouvidos pela CPI - Dias chegou a ser preso - , assim como o representante da empresa, Cristiano Carvalho, que listou diversos servidores do governo em transações obscuras para trazer o imunizantes.

Angotti não foi citado diretamente por Cristiano Carvalho, mas estava no ministério no período das negociações tanto da Davati quanto a da Covaxin. 

Google, Facebook e Twitter 

Temas mais genéricos também ficaram pelo caminho. Randolfe Rodrigues solicitou e conseguiu que fossem chamados em junho representantes do Google, Facebook e Twitter para cobrar punições aos propagadores de notícias falsas durante a pandemia. Nenhum jamais pisou na CPI. 

Na ocasião, o vice da comissão queria entender por que muitos defensores do presidente Bolsonaro continuavam atacando impunemente vacinas, máscaras e restrições a aglomerações para conter o coronavírus. 

Se depender do presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), as empresas talvez ainda voltem ao foco das apurações, mas sob outro prisma: para ajudarem na investigação de quem são os propagadores de fake news. "É importante investigar a disseminação de notícias falsas na internet. No âmbito da CPI da Pandemia, também enfrentamos este problema e os representantes do YouTube, Facebook e Twitter podem contribuir sim. Bom domingo a todos", disse em suas redes sociais. 


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