CPI: Campêlo explica crise de oxigênio e ênfase do governo federal no tratamento precoce

CPI: Campêlo explica crise de oxigênio e ênfase do governo federal no tratamento precoce

Ex-secretário de Saúde do Amazonas foi ouvido nesta terça-feira no Senado 

R7 e AE

Campêllo foi ouvido nesta terça-feira na CPI da Covid, no Senado

publicidade

O ex-secretário estadual de saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, encerrou, no fim da tarde desta terça-feira, o seu depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. A crise no abastecimento de oxigênio no Estado foi o principal questionamento ao ex-secretário que, entre as explicações, relatou que avisou o então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, dos problemas da falta de oxigênio no dia 7 de janeiro e da ênfase do governo federal ao tratamento precoce para contornar o avanço do coronavírus no Amazonas.

Sobre o alerta ao ex-ministro da Saúde, o ex-secretário esclareceu que pediu a Pazuello apoio logístico para o transporte de oxigênio de Belém para Manaus. "Somente aeronaves militares poderiam fazer esse tipo de transporte". A fala de Campêlo contradiz aquilo que foi declarado pelo ex-ministro da Saúde na CPI. O ex-titular da pasta alega que soube do risco iminente de colapso no sistema público de saúde em Manaus (AM) em 10 de janeiro, quatro dias antes do colapso.

Campêllo também atribuiu à secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, a ênfase ao tratamento precoce no Estado. "Vimos uma ênfase da doutora Mayra Pinheiro em relação ao tratamento precoce e relatando um novo sistema que poderia ser utilizado e que seria apresentado oportunamente, o TrateCov", afirmou. 

Segundo o ex-secretário, ela apresentou teses científicas a respeito desse tema e recomendou a adoção na atenção primária. Já o TrateCov foi lançado dias depois, sendo um aplicativo que iria orientar médicos na prescrição de remédios como a cloroquina, usada para tratar malária, é considerada ineficiente no combate à infecção por Covid-19 por grande parte da comunidade científica internacional. 

Pedido de hidroxicloroquina

Ex-secretário também disse que partiu do governo do Amazonas o pedido de hidroxicloroquina para a secretária do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro. A solicitação ocorreu no dia 4 de janeiro, dez dias antes do colapso do oxigênio em Manaus.

"Nós estávamos com nossos estoques zerados de hidroxicloroquina. Pedidos (foram) para a distribuição às prefeituras. A prioridade não foi essa, havia muitas outras nesse momento", respondeu à senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA).

Segundo ele, Mayra Pinheiro enviou o remédio para o tratamento precoce de Covid-19, o que não queria dizer que o Amazonas usaria só para esse fim. "É um medicamento que utilizamos também para outras doenças, como malária e lúpus."

Questionado por Eliziane por que ele priorizou o pedido de hidroxicloroquina e não o de oxigênio em 4 de janeiro, ele afirmou que não se sabia que faltariam cilindros no Amazonas naquele momento. "Só no dia 7 que a gente teve conhecimento da dificuldade logística da White Martins de trazer oxigênio", explicou Campêlo.  

Contudo, o depoente garantiu que na rede estadual do Amazonas nunca orientou o uso do medicamento contra Covid-19.

White Martins

Ainda sobre a crise do abastecimento, Campêlo também relatou que a empresa fornecedora de oxigênio White Martins chegou a pedir que o Amazonas paralisasse momentaneamente a ativação de mais leitos de UTI até que a companhia pudesse ampliar o fornecimento do oxigênio. A conversa, segundo ele, ocorreu no dia 7 de janeiro. 

"Estavam preocupados com aumento de consumo e precisariam fazer uma programação do fornecimento. Então a White Martins pediu que não ativássemos mais nenhum leito de UTI até o sinal da empresa que poderia ter segurança para a ampliação do fornecimento de oxigênio, e assim fizemos, ativar somente na anuência da empresa com segurança. Aí nesse dia informamos que tínhamos capacidade de aumentar em 150 leitos", disse ele. 

Pressão popular

Sobre a decisão de revogar o decreto que estabelecia medidas restritivas para conter a disseminação do novo coronavírus no Amazonas, publicada pelo governo Wilson Lima (PSC), Campêllo disse que revogação ocorreu por conta da pressão popular.

As medidas foram revogadas em dezembro do ano passado, segundo Campêlo, sem aval da secretaria de saúde do Estado. "Manifestações, inclusive com violência, com barricadas, com a interrupção do direito de ir e vir da população", afirmou, comentando várias autoridades federais e figuras públicas que foram às redes criticar o decreto no final do ano passado, o que poderia "influenciar a ação de outras pessoas". 

Terceira onda 

Marcellus Campêlo também não descartou a possibilidade de uma terceira onda de pandemia da Covid-19 atingir o Estado. Antevendo um possível recrudescimento do número de casos de covid, ele afirmou que já foi apresentado ao ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, um plano de contingência para lidar com um novo aumento no número de casos no Estado. 

Durante seu depoimento, o ex-secretário afirmou que o plano de contingência prevê medidas específicas para lidar com possíveis problemas com o consumo e o fornecimento de oxigênio no Estado. Segundo Campêlo, há o plano de instalar mais 30 usinas de oxigênio no Amazonas, sendo que cinco já estão compradas e outras 25 em processo de instalação.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895