Deputados questionam articulação de Lara sobre Banrisul

Deputados questionam articulação de Lara sobre Banrisul

Parlamentares contrários à venda das ações falam em ação combinada com governo Leite, do qual o PTB participa

Flavia Bemfica

Encontro promovido pelo presidente da AL, Luis Augusto Lara, nessa segunda-feira

publicidade

Gera questionamentos entre parlamentares a ação do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Luis Augusto Lara (PTB), sobre a venda de ações do Banrisul. Na quinta-feira passada e nesta segunda-feira Lara, como presidente do Legislativo, promoveu dois encontros com entidades sindicais dos quais resultou a decisão de encaminhar ao governador Eduardo Leite (PSDB) um ofício para solicitar que o dinheiro da venda seja destinado ao pagamento da folha do funcionalismo, como é a posição do petebista. Durante os encontros, Lara tem esclarecido que seu entendimento não é unânime dentro do Parlamento, apesar de promover os eventos como presidente da Casa. Ele também defende que a articulação se estenda junto ao poder Judiciário. O questionamento sobre o formato da venda não é prioridade nos debates.

Segundo seus críticos, com as ações o presidente do Legislativo sinaliza falar em nome de todo o Legislativo, o que não poderia acontecer, uma vez que vários deputados e bancadas são contra a operação de venda das ações. Eles também apontam para o que chamam de falta de efetividade da medida, já que a solicitação é para que o governador faça o que já externou o que pretende fazer com os valores. É ponto pacífico entre parlamentares que o governo precisa colocar a folha em dia, mas deputados de diferentes bancadas destacam o fato de serem contra a operação de venda porque, no seu entendimento, ela não é lucrativa para o Estado e não resolve o problema do pagamento dos salários do funcionalismo para além de um mês. “É surpreendente que o presidente da Assembleia faça um movimento para solicitar que o governador faça o que já disse que pretende fazer. O nome disso é demagogia”, dispara o líder da bancada do PT, Luiz Fernando Mainardi.

“Presidente deve ser presidente de todos”, resume o deputado Sebastião Melo (MDB). “Essa movimentação do chefe do poder Legislativo nos causa preocupação e até um certo constrangimento porque além de endossar uma posição que no nosso entendimento é equivocada, soa como uma ação coordenada entre o governo e o presidente da Assembleia para buscar dar legitimidade a uma ação. É absolutamente desnecessário se utilizar de recursos da Assembleia, pagar café da manhã a sindicatos para pedir ao governador algo que ele já publicamente disse que quer fazer. É realmente estranho”, afirma o líder da bancada do Novo, deputado Fábio Ostermann. O parlamentar pretende tratar do assunto na reunião de líderes desta terça-feira e o tema deve ser objeto de manifestações no plenário, também nesta terça. Ostermann e Melo também estudam a possibilidade de encaminhar uma convocação para que o presidente do conselho de administração do Banrisul compareça ao Legislativo para prestar esclarecimentos sobre a venda das ações. E, nesta segunda, são avaliadas as medidas possíveis a respeito da segunda audiência pública que havia sido solicitada para tratar do assunto.

Também entre entidades sindicais a movimentação entre o presidente da Assembleia e parte dos sindicatos gera questionamentos. Das 22 entidades que na manhã desta segunda assinaram o documento que o chefe do Legislativo pretende encaminhar ao Executivo, 12 são da área da segurança pública, na qual o PTB, partido de Lara e do vice-governador, Ranolfo Vieira Júnior, tem forte atuação. Outras três representam servidores das chamadas “carreiras do topo”. E seis são filiadas e outras quatro são apoiadoras da Federação Sindical dos Servidores Públicos (Fessergs), que também assina o documento.

O Cpers ficou de fora do acordo. “Fomos convidados para o encontro da semana passada, mas, para o desta segunda, não recebemos convite. Somos contra a venda das ações e nossa leitura é de que, se avalizássemos este documento, estaríamos avalizando a venda. Além disso, se o governo vai vender para pagar salário, isso independe de qualquer movimento do presidente da Assembleia”, aponta a presidente do Cpers, Helenir Schürer. O presidente da Fessergs, Sérgio Arnoud, nega que a participação no movimento signifique apoio a operação de venda das ações do banco. “Não é apoio à venda. Mas já que ela é irreversível, exigimos que o dinheiro seja utilizado para prioritariamente colocar os salários em dia e atualizar o pagamento do décimo terceiro. Além disso, estamos atentos ao que esse valor pode significar em termos de retomada da economia do Estado”, afirma. O argumento de retomada da economia é o mesmo utilizado por Lara para articular a movimentação.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895