Deputados temem tentativa de enfraquecer Moro e buscam se afastar de Bolsonaro

Deputados temem tentativa de enfraquecer Moro e buscam se afastar de Bolsonaro

Parte dos "lavajatistas" integra o Podemos, que entrou com três Ações Diretas de Inconstitucionalidade no STF contra medidas vistas como ataques a avanços da Lava Jato

AE

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Parlamentares que tentam se firmar como defensores da Lava Jato e do combate à corrupção dizem ver a polêmica sobre a recriação do Ministério da Segurança Pública como uma tentativa do presidente Jair Bolsonaro de enfraquecer o ministro Sérgio Moro. Eles buscam se afastar de Bolsonaro e, assim como Moro, criticam ações do Executivo que podem afetar o combate à corrupção. Parte dos "lavajatistas" integra o Podemos, que, durante o recesso, entrou com três Ações Diretas de Inconstitucionalidade (ADIs) no Supremo Tribunal Federal (STF) contra medidas aprovadas pelo Congresso e sancionadas por Bolsonaro vistas como ataques a avanços da Lava Jato: o juiz de garantias, o fundo eleitoral e a lei de abuso de autoridade. "São ações nossas que divergem da ação do governo", disse o senador Alvaro Dias (PR), líder do Podemos e candidato derrotado à Presidência em 2018.

Segundo o deputado José Nelto (Podemos-GO), líder do partido na Câmara, Bolsonaro está "deixando a desejar" na agenda de combate à corrupção. Além da criação do juiz de garantias, ele citou como exemplos a retirada do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) da alçada de Moro e a tentativa do presidente em interferir na troca de comando da Polícia Federal.
"O Podemos não é governo, não tem cargo no governo. Somos um partido legalista", afirmou. "Sinto que tem gente na Câmara, no governo e no Judiciário querendo abafar e acabar com a Lava Jato." Apesar de tentar se distanciar de Bolsonaro, o Podemos acompanhou o governo na maior parte dos projetos. Segundo o Basômetro, ferramenta do jornal O Estado de S. Paulo que mede o grau de governismo de parlamentares e partidos, o Podemos votou favoravelmente ao governo em 82% das votações na Câmara no ano passado.
Frequentemente, o Podemos é especulado como um possível destino de Moro caso o ministro decida se filiar a algum partido. Dias refutou que haja tratativas. "Queremos ajudá-lo a cumprir uma missão e a executar um projeto de combate à corrupção do País. Não queremos atrapalhar, então nunca especulamos", disse. "Evidentemente, se um dia o ministro cogitar se filiar a algum partido será muito bem-vindo", afirmou.
Agenda
Segundo o cientista político da UFMG Felipe Nunes, a atuação dos parlamentares pró-Lava Jato tem, como pano de fundo, as eleições. "Os deputados e senadores do Podemos têm uma agenda de segurança pública muito voltada à sua base", disse. Para Nunes, há uma tentativa do partido de atrelar sua imagem ao ministro da Justiça. "O Moro é um rival como liderança política ao presidente Bolsonaro e ele tem se transformado em um ator blindado por certos grupos."
Outro senador alinhado à pauta anticorrupção e ao ministro Moro, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) também criticou o movimento de tentar separar a Segurança Pública do ministério do ex-juiz. "Sem dúvida nenhuma atrapalharia porque você tem uma estrutura que está funcionando e está dando resultado e vai gastar energia e dinheiro para criar uma nova estrutura", afirmou.

 

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