Dia do Rock é comemorado com festival na Hebraica, em Porto Alegre

Dia do Rock é comemorado com festival na Hebraica, em Porto Alegre

Bandas gaúchas mantêm o gênero vivo no Estado

Chico Izidro

Dia do Rock é comemorado com festival na Capital

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Neste sábado, 13 de julho, se comemora no Brasil, e só aqui, o Dia Mundial do Rock. A data homenageia o Live Aid, megaevento que aconteceu nesse dia em 1985, com o objetivo de arrecadar fundos em prol do povo que passava necessidades na Etiópia. Os shows foram realizados no Wembley Stadium, em Londres, e no John F. Kennedy Stadium, na Filadélfia. O dia começou a ser celebrado no país em meados dos anos 1990, quando duas rádios paulistanas dedicadas ao rock - 89 FM e 97 FM - começaram a mencionar a data em sua programação, e logo foi encampada pelos ouvintes.

Hoje, aqui em Porto Alegre, vai ocorrer o festival Viva o Dia Mundial do Rock, que irá reunir algumas das bandas da cidade, como Tenente Cascavel, Justa Causa, Cowboys Espirituais, Oly Jr. e Império da Lã, na Hebraica, no Bom Fim. O evento vai rolar das 12h até a madrugada, e terá bandas, gastronomia, cervejas artesanais, espaço kids, tatuadores e muita movimentação roqueira. Haverá também venda de ingressos solidários em prol de uma iniciativa social bem bacana: o banho solidário. Quem for à Hebraica poderá levar produtos de higiene e obter descontos nos ingressos.

O auge do rock ocorreu nos 1960 e 1970 no mundo e 1980 no Brasil. Era executado nas rádios e as tevês abriam um espaço considerável para o estilo, que caiu no gosto popular dos brasileiros, principalmente depois do advento do primeiro Rock in Rio, em 1985. Mas o tempo foi cruel, e o gênero perdeu relevância para a mídia, que agora prefere dar espaço para outros gêneros. 

O estilo já foi dado como morto centenas de vezes, mas a realidade é que mesmo sem o espaço de antigamente segue vivo e não respirando por aparelhos, como pregam alguns. Mas manter uma banda e atrair o público nos dias de hoje exige muito jogo de corpo, imaginação e vontade. Fomos atrás de algumas bandas gaúchas, que vivem ativas longes dos holofotes, mas impulsionadas pelo amor de seus integrantes pelo gênero que já nos deu Beatles, Rolling Stones, Black Sabbath, Deep Purple, Pink Floyd, Judas Priest, Metallica, Nirvana, AC/DC, entre outras milhares.


Eloy Fritsch, professor da UFRGS, diz que o rock progressivo da banda se inspira em nomes sagrados como Pink Floyd, Rush e Genesis. Foto: Guilherme Testa

A progressiva Apocalypse é uma sobrevivente do rock gaúcho, pois foi formada em Caxias do Sul em 1983 pelos irmãos Eloy Fritsch (teclados) e Ruy Fritsch (guitarra), até hoje integrantes, ao lado do vocalista Gustavo Demarchi, presente na banda desde 2004 e os músicos Rainer Steiner na bateria e Daniel Motta no baixo.

A banda se inspira desde sempre em nomes sagrados do progressivo como Pink Floyd, Rush, Genesis e Yes. Nestes 35 anos foram lançados 12 álbuns, entre eles três CDs na Europa e um CD duplo ao vivo gravado nos Estados Unidos. O grupo também gravou o DVD “Live in Rio” e tocou em grandes festivais como o Motofest (SP), ProgDay99 (USA), Rock in Concert Brazil (Canecão - RJ), Planeta Atlântida (RS) e Rio Art Rock (RJ). Em 2019, a Apocalypse comemora seus 35 anos com o lançamento do álbum ao vivo “The 35th Anniversary Concert” nas plataformas digitais, incluindo faixas como como “Refuge”, “Ocean Soul” e “Follow the Bridge”.

"A gente se criou nos anos 1980, no auge do rock, na nossa juventude. Eu tinha 15 anos quando fizemos nosso primeiro show, ainda na escola, lá em Caxias do Sul", relembra Eloy, que ainda é professor de música na Ufrgs. "Hoje em dia viver de rock é algo que vem de dentro, de querer ser músico", destaca. "Então é mais uma satisfação pessoal, de ter necessidade artísticas do que está sentindo, do que está a nossa volta. E não dá para pensar no aspecto financeiro", ressalta.

A Apocalypse encontra algumas dificuldades por fazer um trabalho autoral. "Temos nossas próprias composições. Muita gente opta por sobreviver de covers, mas não tem trabalho autoral e isso acaba não dando uma identidade. Fizemos uma escolha, mesmo sabendo que não apareceríamos na mídia", conta. Mas se na terra natal o reconhecimento é pouco, fora é diferente. A banda é muito conhecida nos Estados Unidos, onde já tocou, e na Europa. Aliás, Eloy mantém uma carreira solo paralela, já tendo lançado 13 discos de música instrumental.


Epitaph lançou primeiro álbum em 2009. Foto: Alina Souza

Já a Epitaph, formada em Porto Alegre no ano 2000, faz um heavy metal de qualidade inspirado em Judas Priest, Saxon, Dio, Accept e Exodus. O grupo é formado atualmente pelo baterista César "Five" Louis, os guitarristas Marlon Steindorff e André Carvalho, o vocalista Joe F. Louder e o baixista Fábio Figueiredo. Em sua trajetória, a Epitaph começou lançando as demos "Waiting your Death" e The Toll of the Bell" e participou das coletâneas Rock Soldiers (VI) e Garagem Hermética Metal. Em 2009, lançou o primeiro CD, intitulado "Getting Down to Business". São dez faixas em inglês onde a sonoridade da banda surge pesada e muito bem produzida. O trabalho contou com a participação Gustavo Demarchi (Apocalypse) cantando com Joe F.Louder a música Death Bell. O grupo também tem no currículo mais de 150 shows pelo Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e prepara o lançamento de um novo trabalho, ainda em fase de produção. 

O guitarrista Marlon Steindorff destaca que o heavy metal sempre esteve fora das mídias tradicionais. Por isso a Epitaph se utiliza muito das mídias sociais para se manter em destaque no circuito alternativo. "Hoje em dia usamos muitas mídias, temos canal no youtube, com todos os nossos vídeos, página no Facebook, Instagram", enumera. "Este ano é de Rock in Rio, e as bandas de fora vem tocar aqui. E isto acaba gerando público. Vai ter a noite só do metal. Vai respingar na gente, com gente querendo conhecer o gênero", vislumbra.

Uma das dificuldades do grupo é trabalhar com músicas autorais. "Todos nós temos trabalhos com bandas covers, mas só que a parte autoral é mais legal. É a tua marca, é o teu trabalho, o autoral tu vai lá e dá a cara a tapa. chegar numa cidade que não te conhecem e tocar músicas desconhecidas", cita César. "É recompensador mais a nível pessoal, mas se tiver uma pessoa que estiver ali curtindo, já valeu a pena", alegra-se.

 
Depois da desilusão com o futebol amador, jornalista formou banda. Foto: Guilhermes Testa 

A porto-alegrense Eletroacordes surgiu do desencanto do jornalista Rodrigo Vizzotto com o futebol. Zagueiro vigoroso do time do Inimigos da Bola, formado por funcionários do Correio do Povo, ele se viu a volta com muitas lesões, nos idos de 2009. E um dia simplesmente decidiu parar de jogar e se dedicar à música. Naquele mesmo ano, criou a banda com dois amigos, se dedicando a fazer covers, mas "começaram a surgir criações, e quando vimos, tinhamos um repertório de 10, 12 músicas". Já são até hoje 115 shows, cinco vídeos gravados, participação em quatro coletâneas e dois EPs, "Respire Fundo" e "Insanos", e o terceiro, em fase de produção "O que me resta!?!"

Rodrigo conta que optar por ser uma banda autoral exige muito sacrifício. "É um caminho árduo. Desenvolver hoje projeto autoral é tu chegar num bar e tocar músicas desconhecidas. Isso envolve atrativo de público, que ao escutar algo que não conhece, se dispersar. Assim mesmo conseguimos ultrapassar essas barreiras. Temos refrões fortes, como o Respire Fundo, e o pessoal vem e canta junto", vibra.

Após muitos anos como trio, hoje a Eletroacordes é um quarteto, que além de Rodrigo Vizzotto como vocalista, guitarra, harmônica, teclado e banjo, tem Marcelo Bacci no baixo, Luis Tissot na guitarra e Mateus Melo na bateria. O som é calcado nos anos 1970, mistura de rock, progressivo, blues, jazz e pop. Neste ano já foram onze shows, incluindo um recente no Teatro de Arena, na Capital.

O baixista Marcelo Bacci diz que "percebe as pessoas até com certo preconceito de irem assistir a um show de uma banda autoral. Mas quando vão, acabam reconhecendo as influências clássicas e acabam gostando. E ficam pedindo mais referências. Mas em POA ainda existe uma barreira do público, muito, muito exigente", lamenta. "No Interior e Grande Porto Alegre o público é mais receptivo. Temos tocado em Sapucaia do Sul, Canoas, e a vibração é intensa", comemora Rodrigo. "E sempre que vamos tocar num local, levamos junto outras bandas para apoiar o trabalho dos outros", ressalta Marcelo.

Ele conta que a opção por ser banda autoral também complica na hora de marcar shows. "É difícil, por ser banda autoral. Mas tu tem de gostar de fazer som, de fazer música, e mostrar para os donos dos bares que vale a pena dar força. A gente investe em equipamentos, clipes, e às vezes não ganhamos nada em uma apresentação", revela. "Dinheiro não dá, mas gostamos muito de fazer música. Pior que ser jornalista, que ganha pouco, é ser músico, que não ganha nada", finaliza Rodrigo.


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