Edegar Pretto: Uma trajetória ligada à terra

Edegar Pretto: Uma trajetória ligada à terra

Político é filho de Adão Pretto, um dos fundadores do MST no Estado

Flavia Bemfica

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Instalado na sala do comitê de campanha que decorou com uma foto emoldurada na qual, ainda criança, aparece acompanhando o pai, e desenhos recentes feitos pelos dois filhos menores, o deputado estadual Edegar Pretto, 51 anos, candidato ao governo pelo PT, admite que é difícil separar a política de toda a sua vida, sejam as lembranças, os gostos ou os relacionamentos sociais. Ele começa a falar sobre músicas, hábitos e preferências, como a paixão por cultivar flores – plantou 800 mudas de flores, entre elas muitas rosas e azaleias, e árvores frutíferas na chácara de 1,5 hectare que possui na Lomba do Pinheiro, durante o ano e meio da pandemia em que se mudou do apartamento no Centro para lá. Mas logo a política invade de novo a conversa porque, se fala em mudas, não há como não lembrar do cultivo da terra. E a terra, afinal de contas, marca toda sua trajetória familiar, que é política.

O pai, o ex-deputado federal Adão Pretto, falecido em 2009, foi um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul, e é mais do que referência em sua vida. Foi para manter o seu legado que Edegar concorreu a uma vaga na Assembleia Legislativa pela primeira vez em 2010, reelegendo-se nos dois pleitos seguintes. Dos seus sete irmãos vivos (Artur faleceu em 2010), dois vivem em assentamentos. Na confraternização anual que a família faz entre o Natal e o Ano Novo na casa que comporta 25 pessoas na praia de Arroio do Sal, evento ao qual o deputado se refere carinhosamente como “a nossa farofada”, alimentos produzidos por eles mesmos em suas propriedades, de pão a carne de ovelha, passando por salame, torresmo e banha de porco, são parte do cardápio dos dias de festa. 

Sem titubear, contudo, o petista confirma que prefere o campo ao Litoral. “Conheço cada canto deste Estado, às vezes é como se existissem vários estados dentro de um só, tamanhas as diferenças de um lugar a outro. Mas, por mais que eu ande, carrego a roça comigo. Não tem como ser diferente”, revela.

Bem jovem, e por estar sempre acompanhando o pai, Edegar percorreu todo o Estado, que se orgulha de entender não só geograficamente, mas também politicamente. “Quando falo de mim, acabo falando muito do pai não só porque ele é uma referência, mas porque na nossa vida começou tudo meio que junto. Quando ele, lá no início, foi escolhido ministro da Eucaristia, isso funcionou como uma grande porta, foi lhe enchendo de conhecimento. Aí, no finalzinho dos anos 1970, para se comunicar, ele vendeu uma porca e comprou uma gaita. Deu mais um leitão e o antigo dono da gaita ensinou ele a tocar. E eu, desde 1979, fui o companheiro dele de trovas e poesias. Ficamos muitos anos fazendo isso.” Na foto que mantém na sala do comitê, o hoje deputado está se apresentando com o pai na Encruzilhada Natalino. O ano: 1982.

Nascido em Miraguaí, no Noroeste do Estado, o parlamentar conheceu a Capital, Porto Alegre, em 1984, quando veio com Adão se apresentar em um comício pelas Diretas Já, na Esquina Democrática. Ficou impressionado com a profusão de carros iguais que pareciam estar por todos os lados em sua chegada, os táxis da Estação Rodoviária. “Lá em Miraguaí, a gente não tinha carro, e demorava para ver um. A cidade mesmo, eu só conheci com seis anos, quando fui fazer uma dose de BCG para entrar na escola.”

Pouco tempo depois daquele comício, Adão foi escolhido para disputar uma vaga como deputado estadual. E Edegar, então com 14 anos, foi morar em Frederico Westphalen, a cidade que era polo da região, para ajudar a tocar a campanha. “Eu era o responsável pelo comitê e, de noite, ia às reuniões pela região para fazermos as trovas. Um pouquinho depois virei apresentador das reuniões, porque já sabia falar na frente de gente”, relembra. Quando o pai entrou na Assembleia Legislativa pela primeira vez como deputado eleito, de novo, Edegar o acompanhava. No Legislativo gaúcho, não tinha cargo, mas ficava junto o tempo inteiro no gabinete. E quando Adão então se elegeu deputado federal, o filho, já com 19 anos, se transformou em assessor parlamentar do então deputado estadual Antônio Marangon, dando início a uma trajetória de trabalho político sem mandato dentro do partido que percorreu pacientemente durante 20 anos.

A paciência marca sua fala mansa, pausada, e o modo como externa a satisfação em atividades e tarefas de rotina ou lazer: “Adoro pescar, e não me importo em ficar horas esperando, imaginando qual o peixinho que vai beliscar o anzol, e se eu vou pegar ele ou não.” A mesma dedicação ele tem na hora de assar o churrasco, que prefere fazer com lenha de laranjeira ou de canela, o que torna o preparo mais demorado, já que é preciso esperar a lenha virar brasa. “É mais lento, mas não importa, porque vai dando um aroma na carne. Quem experimenta meu churrasco diz que eu sou o melhor assador, deixo a carne no ponto, suculenta. E quem experimenta meu peixe ensopado fala que é a melhor coisa do mundo”, garante, e dá uma gargalhada, para na sequência emendar: “Como diz o Collares, é um ‘balaqueiro’ esse cara.”

O ritmo de mandatos e campanhas, contudo, não tem permitido ao deputado muito espaço para o lazer e hoje, solteiro após o término de dois casamentos, ele acaba concentrando o tempo livre para ficar com os filhos. “As horas vagas eu fico com os guris. O Yuri (Manão) tem 31 anos e é meu vizinho. O João tem sete e o Ângelo vai fazer seis. Com eles eu mexo na terra, ando a cavalo e de bicicleta. E tenho um acordo com o Manão, para segurar um pouco ideias sobre netos até que o João e o Ângelo cresçam um pouco. Porque aprendi e sempre conversava com a minha mãe que, numa família, os maiores sempre ajudam a cuidar dos menores.”


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895