Manuela incentiva eleitores a não perderem a esperança

Manuela incentiva eleitores a não perderem a esperança

Ao reconhecer derrota, ela desejou sorte a Melo e prometeu atuar para que cidade possa "sonhar em ser mais justa"

Flavia Bemfica

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Faltavam 15 minutos para as 19h e mais de 90% das urnas de Porto Alegre já estavam totalizadas quando Manuela D’Ávila (PCdoB) ingressou no salão do hotel Embaixador, reservado para sua manifestação final sobre a eleição municipal. Na semana de expectativas que antecedeu a ocasião, e ante as incertezas de um pleito polarizado, sua militância sonhou que aquele momento seria de alegria, com um discurso sobre o futuro da Capital sob uma gestão de esquerda. Pela segunda vez em menos de 15 dias, contudo, os números projetados em pesquisas não se confirmaram nas urnas. Assim, a candidata ela fez uma manifestação de poucos minutos, na qual ficaram evidentes sua disciplina e autocontrole. Porque só quem não conhece a trajetória da ex-deputada poderia se enganar com a firmeza da voz ou a ausência de lágrimas. Manuela estava emocionada. Começou desejando sorte ao adversário Sebastião Melo (MDB), eleito

Seguiu destacando a campanha marcada por lances polêmicos e muitas agressões. Incentivou seus eleitores a não perderem a esperança. E prometeu seguir atuando pela cidade. Após classificar a eleição como “a mais baixa de nossa história”, se adiantou aos questionamentos sobre o que fará agora. “Vamos voltar para onde sempre estivemos. Para as nossas comunidades, com os nossos mandatos. Para os nossos bairros e vilas, fazendo com que Porto Alegre possa sonhar em ser uma cidade mais justa.” Ao agradecer à militância, fez uma deferência a seu vice, Miguel Rossetto (PT), e deixou a emoção contida transparecer na voz. “Vocês foram incansáveis. As vezes encaminhavam mensagens, perguntando de onde eu tirava forças. Ora, como vocês não sabem de onde eu tirei forças! Nós enfrentamos a violência, o ódio e a mentira com a força que vocês nos deram. Sentindo orgulho de novo de carregar nossos sonhos. Fizeram com que nos levantássemos todos os dias para festejar a democracia.” Ao final, Manuela agradeceu à família, que a rodeava.

Terminava ali uma jornada para a qual Manuela se preparou desde 2018, e de forma diferente das duas ocasiões anteriores em que disputou a prefeitura.  Desde o início do primeiro turno, sua superioridade nas redes sociais foi admitida pelos adversários na corrida. A qualidade e o preparo se repetiram em encontros em entidades  e pelas periferias, na propaganda no rádio e na TV. E nos debates. Por isso, o resultado do primeiro turno já havia sido um baque. Porque, apesar de as sondagens indicarem o contrário, Manuela ficou em segundo lugar, e abaixo dos 30%. Uma linha de corte importante para garantir que uma candidatura à esquerda na Capital “fure a bolha” do eleitorado que já lhe é simpático.

Em busca dos votos necessários para uma virada que podia ser obtida com parte da abstenção altíssima, e para fazer frente a um adversário que aumentava sua coalizão de forças à direita, a estratégia de Manuela mudou. No segundo turno, ela investiu com força na campanha de rua e em atividades nas periferias. Abandonou os trajes conservadores e se mostrou ainda mais propositiva. Insistiu na importância da questão sanitária, na redução da desigualdade, na educação e em alternativas para a economia. Na propaganda na TV, mostrou peças ainda mais refinadas. E, sempre, destacou bandeiras associadas ao eleitorado feminino. Mas não conseguiu diminuir a abstenção. E seguiu enfrentando uma rejeição alta, ideológica, turbinada pela disseminação de conteúdos falsos. Como o que anunciava que, caso vencesse, a cidade se transformaria em uma nova Venezuela, onde seria preciso comer até “carne de cachorro”.


Correio do Povo
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