Onyx Lorenzoni: Tranquilidade e paz interior

Onyx Lorenzoni: Tranquilidade e paz interior

Político afirma que 2018 foi um ano “divisor de águas” em sua vida política

Flavia Bemfica

publicidade

O cenário é um prédio baixo em uma rua pouco movimentada do bairro Petrópolis, sem nada que o identifique como um local de campanha, a não ser a profusão de assessores que entram e saem. A princípio, não é o melhor lugar para uma entrevista cujo propósito é extrair de um político experiente preferências pessoais e memórias com emoção genuína. Ao longo de mais de duas horas de conversa, contudo, o deputado federal Onyx Lorenzoni (PL) emenda uma história na outra, se emociona com facilidade e fala da vida com uma animação que torna irrelevante o fato de estar em um escritório movimentado. Mostra, acima de tudo, porque, apesar de já terem existido momentos ‘de baixa’, e não foram poucos, se mantém na vida pública há 28 anos. Agora novamente em evidência e na disputa pelo principal cargo político do Estado.

Prestes a completar 68 anos no próximo dia 3 de outubro, Onyx, que está na corrida para o governo de 2022, contudo, parece mais descontraído, apesar de toda a polarização que o país vive, e fala da vida pessoal com satisfação. “Hoje vivo muito em paz comigo mesmo, com muita tranquilidade. Me sinto bem”, resume. A quem o escuta, explica as referências constantes a Deus que nos últimos anos incorporou ao discurso e aponta o ano de 2018 como um “divisor de águas” de um processo pessoal que teve início três anos antes e o modificou.

Começou com uma lesão grave, e sem possibilidade de cirurgia, na coluna vertebral, em 2015. Teve seguimento com uma viagem à Espanha para fazer o caminho de Santiago de Compostela, em 2016, na expectativa de obter respostas para uma série de questionamentos sobre sua vida. E seguiu, no mesmo ano, com a desistência da disputa pela prefeitura de Porto Alegre, a relatoria do projeto das 10 Medidas Contra a Corrupção, a aprovação de um texto diverso do que havia idealizado, a decepção com o então partido, o DEM, o início do namoro com a atual esposa, Denise, e a ideia de não mais concorrer para a Câmara dos Deputados.

A conclusão de todo este processo pessoal viria em julho de 2018, quando o deputado, atendendo a um pedido da ainda namorada, cancelou uma série de agendas de uma nova campanha para o Parlamento que tinha no Rio Grande do Sul para ir a um evento religioso. “Foi quando Deus me virou do avesso e me deu todas as respostas. Chorei quase todo o tempo”, conta. Ali, Onyx, até então luterano, tomou a decisão de se batizar na Igreja Sara Nossa Terra: “Quando a gente toma essa decisão adulto, nasce uma nova pessoa. Eu tinha essa relação com Deus, claro, mas não era tão forte para mim. Hoje integra a minha vida. Eu falo publicamente, tem gente que entende, tem gente que não.”

A conversão religiosa ocorreu sob influência direta de Denise, que ele “já tinha visto” no Senado, mas que conheceu de fato após buscar em Brasília a indicação de um profissional que o auxiliasse na reabilitação para a lesão na coluna vertebral. “Foi uma surpresa, a maior da minha vida, me apaixonar depois dos 60. Sim, sou apaixonadasso”, garante. A história acabou em casamento em 2018, o terceiro do parlamentar, que não esconde a satisfação com o tamanho da família. Da sua parte, são um filho e uma filha do primeiro casamento, e mais um casal do segundo, além da filha de uma prima que também considera como sua. A atual esposa tem mais duas filhas. Além dos sete filhos, a família já contabiliza cinco netos. Os nomes dos filhos, e o da atual esposa, o deputado tem todos tatuados entre braços e costas.

A prole numerosa se divide entre Porto Alegre e Brasília. O filho mais velho, Rodrigo, é quem hoje toca, com uma sócia, o hospital veterinário da família no bairro Menino Deus, que começou com o pai do deputado. Em 2023, a instituição completará 70 anos “na mesma rua”, assinala Onyx, ao se referir, orgulhoso, ao pai: “Ele era da segunda geração de italianos no Brasil. Terminou sua alfabetização com 20 anos, o segundo grau com 30, e se formou veterinário com mais de 40. Aí começou como auxiliar de inspeção na Swift em Livramento e terminou como catedrático na Ufrgs. Era um cirurgião muito hábil. Então, a perda do meu pai, na década de 80, foi sem dúvida o pior momento da minha vida”.

O deputado continuou atuando no hospital até 2003, quando a ida para Brasília, após a primeira eleição para a Câmara Federal, inviabilizou que seguisse se dedicando às cirurgias nas quais havia se especializado. Foi o fim da carreira imposto pela política que o fez se interessar pela gastronomia. “Quando fui para Brasília, sentia falta de operar. E comecei a brincar com as panelas porque, para mim, a preparação de um prato se assemelha à de um procedimento cirúrgico, tem que imaginar o que vai usar, planejar. Aí fiz curso, tenho um monte de livros, e curto demais. Faço um camarão no abacaxi que todo mundo ama, foi uma das armas para conquistar a Denise”, diz.

Quando está no Estado, a base do deputado é a residência que mantém em Guaíba há 20 anos. “Aqui em Porto Alegre tenho vínculo com a zona Sul, o Menino Deus, por causa da minha infância. Amo Guaíba, é linda demais. Gosto muito da região da Campanha, e de Gramado, os Natais da família geralmente são lá. Mas prefiro praia à serra, porque sou louco por água. Adoro Bento, por causa da origem da minha família, e porque lá hoje está fantástico. E simplesmente amo estar no Beira-Rio”, enumera.

Colorado em família de gremistas, Onyx lembra de como optou por ser torcedor do Inter ainda criança, influenciado pelas comemorações dos amigos da Ilhota com quem jogava bola: “Essa coisa dos times, Inter e Grêmio, as vitórias e derrotas, me trazem lembranças de momentos que dizem muito sobre minha vida em outros aspectos. Como quando o pai, na minha adolescência, virou colorado para ser solidário comigo. Parte da força dos times está na rivalidade, desde que seja saudável. E têm coisas que se assemelham à política, onde a gente deve sempre prestar a atenção na oposição. É algo que nos ajuda a corrigir rumos.”


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895