Receio de contaminações por Covid-19 assombra candidatos em Porto Alegre

Receio de contaminações por Covid-19 assombra candidatos em Porto Alegre

Caso de Gustavo Paim, que testou positivo para coronavírus, aumenta preocupações com doença e suas consequências para a saúde e a corrida eleitoral

Flávia Bemfica

A pandemia da Covid-19 está presente na campanha eleitoral

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A confirmação de que o candidato do PP à prefeitura, Gustavo Paim, e sua vice, Carmen Santos (Avante), estão com coronavírus, aumentou as preocupações das coordenações de campanha dos candidatos das majoritárias em Porto Alegre. A 30 dias exatos da realização do primeiro turno, que acontecerá em 15 de novembro, duas situações assombram os candidatos à prefeito e seus staffs. A primeira é a possibilidade de o postulante ao Paço ser infectado e precisar cumprir quarentena de duas semanas, o que, a esta altura, por si só, reduziria sua participação na campanha a metade do tempo. Ou, considerando-se uma infecção futura, já que as próximas semanas são de intensificação das agendas, poderia resultar na ausência do candidato na reta final de uma campanha na qual já se desenhou uma disputa acirrada pela garantia de vaga no segundo turno. Ninguém quer sequer considerar de público hipóteses ainda piores, como um candidato acometido por uma forma mais agressiva da doença.


O candidato terá que ficar afastado das campanhas presenciais durante duas semanas / Foto: Divulgação CP

A segunda situação que coordenações de campanha e equipes de marketing tentam evitar a todo custo são insinuações de concorrentes ou dúvidas de apoiadores sobre se os candidatos estão promovendo atos ou iniciativas que podem colocar eleitores em risco de contaminação. Um ou mais eleitores acometidos pela Covid-19 e desconfiados de que podem ter contraído a doença após contato com um postulante ao Paço é um dos principais ‘pesadelos’ das equipes nesta campanha de 2020. À exceção de Paim, o único dos candidatos a prefeito que divulgou já ter testado positivo para o coronavírus é o deputado estadual Sebastião Melo (MDB), infectado no final de junho. A condição vem permitindo a Melo o que os adversários apontam internamente como uma certa ‘vantagem’ em relação aos eventos de rua tão comuns em campanhas do passado. No último domingo, por exemplo, sua agenda incluiu quatro caminhadas.

O fato de já ter passado pela doença, contudo, não chega a ser um salvo conduto ao deputado. Tanto porque ainda existem muitas dúvidas sobre a possibilidade de reinfecção como porque a circunstância do emedebista não se estende a outros integrantes do núcleo da campanha. “Já fui infectado, mas continuo usando máscara e cumprindo todos os protocolos de segurança, porque ainda não temos conhecimento da possibilidade de retorno da doença”, admite Melo. De acordo com ele, a coordenação de campanha consultou especialistas e adotou protocolos que permitissem as equipes envolvidas trabalharem com o menor risco possível de contaminação.


Sebastião Melo garantiu que todos os protocolos de segurança estão sendo cumpridos / Foto: Divulgação CP

Segundo o coordenador de campanha de Manuela D’Ávila (PCdoB), Márcio Cabreira, a candidata e as equipes vêm adotando “rigor extremo”. “Ser infectado é muito mais do que sair da campanha. Significa que o candidato é um polo transmissor, colocou ou está colocando outras pessoas em risco. E, além disso, nada garante que não tenha seu estado de saúde agravado”, elenca. Na campanha da ex-deputada, as tradicionais visitas em casas nos bairros, por exemplo, ganharam uma variação: conversas em casas de eleitores consultados previamente sobre se aceitam receber a candidata. Apresentadas nas redes sociais e na propaganda eleitoral, elas trazem candidata e eleitores de máscara e mantendo distanciamento. Caminhadas são evitadas. “Estamos deixando de fora porque são incontroláveis no sentido de evitar aglomerações”, resume Cabreira.


Manuela D'Ávila adaptou sua camapanha para novas maneiras de conversar com a população / Foto: Divulgação CP

Estratégia semelhante para ‘driblar’ as dificuldades impostas pela pandemia às atividades presenciais de corpo a corpo vem sendo adotada pela candidata Fernanda Melchionna (PSol). Fernanda também desenvolveu uma variação para visitas a bairros e a proliferação de caminhadas, e a transformou em uma das principais atividades de campanha. De forma a manter o distanciamento, ela e o vice passam por diferentes partes da cidade a bordo de um carro de som, do alto do qual vão apresentando as propostas da chapa na corrida municipal.


Fernanda Melchionna e seu vice, Márcio Chagas, encontraram novas maneiras de apresentar suas propostas / Foto: Divulgação CP

Na campanha de José Fortunati (PTB) a orientação é pela atenção aos detalhes. “A maior parte das reuniões é remota. Nas presenciais, todos de máscara e em locais amplos. Evitamos contatos próximos, eu e o Fortunati nunca nos deslocamos no mesmo carro, e, nas visitas às comunidades, conversamos com três, quatro lideranças, e seguimos. Sempre de máscara. Após cumprimentos, álcool gel”, lista o candidato a vice e coordenador do grupo de trabalho da campanha que trata especificamente do coronavírus, o médico André Cechinni. Conforme ele, as gravações para a TV e as de lives são a exceção no uso das máscaras, mas também com regras específicas. “Nas lives o Fortunati fica sem máscara, mas a cinco metros de distância do diretor e do técnico, as únicas outras duas pessoas no estúdio, e que permanecem com elas. Eu fico numa sala ao lado, sozinho.”


O candidato José Fortunati tem abordado o assunto na campanha eleitoral. / Foto: Divulgação CP

A preocupação com uma eventual contaminação integrou o planejamento do comitê de campanha de Nelson Marchezan Júnior (PSDB). O local tem demarcação de todas as cadeiras, reservatórios de álcool gel na entrada com acionamento em pedal e aferição da temperatura dos que chegam. Nas salas devem ficar no máximo três pessoas, com orientação para uso individual. E as reuniões ocorrem por grupos, pequenos. No final de semana, para tratar dos rumos da campanha, o que no passado seria um evento ampliado, que incluiria todos grupos responsáveis pelas diferentes áreas, foi substituído por reuniões que se desdobraram ao longo do domingo e de toda a segunda-feira.


Na campanha de Nelson Marchezan os eventos ampliados foram substituídos por reuniões. / Foto: Divulgação Cp


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