Vieira da Cunha: Uma vida de paixão e política

Vieira da Cunha: Uma vida de paixão e política

Político relembra o início da relação com a mulher, Luciana, ainda na juventude

Flavia Bemfica

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Da recepção calorosa na porta, ao cafezinho que faz questão de servir na saída, tudo na casa do ex-deputado Carlos Eduardo Vieira da Cunha, candidato ao governo do Estado pelo PDT, transmite gentileza. A escada de acesso ao segundo andar da cobertura no bairro Menino Deus que divide com a esposa, Luciane, e as filhas gêmeas Alice e Marina, Vieira sobe mostrando fotos que contam um pouco de sua trajetória política. Quando chega ao piso superior, com um satisfeito “Este é o meu canto”, apresenta uma sala espaçosa. Nela, livros de Política e Direito se destacam na estante, e a lareira é cercada por sofás convidativos. Uma mesa comprida revela almoços e jantares feitos para reunir a família e os amigos. Mais de uma dezena de medalhas e honrarias está em destaque em um nicho. E a área aberta, de onde se avista uma parte do Guaíba, abriga uma pequena piscina para ajudar a espantar o calor do verão porto-alegrense. “Sou feliz aqui”, resume, enquanto afaga a cachorrinha Luna.

Aos 62 anos, o pedetista diz que a convivência com a família e os amigos é o que faz sua felicidade. “O churrasquinho do final de semana para mim tem aquele sabor especial. E eu tenho paixão por futebol, temos um grupo do Ministério Público que joga todas as terças, mas que agora não estou indo por causa da campanha. Eu adoro frequentar o Beira-Rio, eu desestresso cantando, xingando. E tem o mar, que eu e a Luciane gostamos demais”, conta. Quando fala da esposa, com quem está casado desde 1983, Vieira ri com alegria, descontraído, e lembra datas e cenas com exatidão. Tudo começou com a amizade entre o ex-deputado e o irmão de Luciane, o hoje presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior. “Convivo com o Romildo desde que a gente tinha uns 15 anos. Primeiro da praia, depois do colégio, nossos pais também se conheciam. Mas a Luciane, que tem três anos a menos do que eu, só fui enxergar ela como mulher quando tinha 17 anos”, lembra. 

O pedetista não esqueceu mais aqueles dias de 1980, quando ele e o amigo haviam colocado mochilas nas costas e viajado para o Nordeste. Quando estavam em Salvador, por uma daquelas coincidências do destino, encontraram as irmãs de Bolzan na praia. “A gente ficou ali conversando e, quando ela se levantou para ir para o mar, eu falei: ‘Romildo, como tua irmã está bonita’. Ele respondeu direto: ‘Ué, te habilita, é questão de competência’. Era julho. No dia 11 de outubro fui levá-la para casa depois de uma festa. Quando chegamos à frente da Catedral, dei um beijo na Luciane e disse: ‘Nós vamos casar aqui. No dia 3 de dezembro de 1983 casamos na Catedral. E hoje temos quatro filhos maravilhosos”, revela.

O mais velho, Carlos, de 35 anos, é advogado, mas vai inaugurar uma pizzaria no Campeche, em Florianópolis. O segundo, Eduardo, de 32, também advogado, mora em Xangri-Lá e atua no Litoral. Marina faz Nutrição na Unisinos e Alice Pedagogia na Ufrgs e Psicologia na PUC: “Com os guris, a Luciane está em campanha por um neto. Está doida para ser avó”.

A vida pública, desde muito, o ex-deputado divide entre a política e a carreira no Ministério Público estadual: “Eu faço política desde os 15 anos, quando me elegi presidente do Grêmio Estudantil do Anchieta”. Aos 19, conheceu Leonel Brizola pessoalmente. A filiação ao PDT viria dois anos depois. Aos 22, concorreu pela primeira vez à Câmara de Vereadores da Capital. Ficou na suplência e acabou assumindo uma cadeira em 1986 após Alceu Collares se tornar prefeito. Em paralelo, seguia com a carreira jurídica.

Formou-se em Direito na Ufrgs em 1982 e começou a advogar em Osório, tendo Bolzan como sócio. Em 1986, prestou concurso e tomou posse como promotor de Justiça. Mas, em função da política, atuou como promotor, sempre na área criminal, por breves períodos. Porque, como ingressou na carreira antes da Constituição de 1988, pode se licenciar para disputar eleições e exercer mandatos, sem a necessidade de exoneração. Além disso, o tempo dos mandatos conta para a progressão por antiguidade, o que explica o fato de hoje ser procurador.

Na política, se elegeu vereador, depois deputado estadual e federal. Presidiu o DMLU e a CEEE. Em 2014, concorreu sem sucesso ao governo. No ano seguinte, foi convidado para chefiar a Secretaria da Educação, onde permaneceu até 2016. Quando saiu, retornou ao MP, onde atuou como procurador de Justiça Criminal. Em abril deste ano, atendendo a um pedido de dirigentes partidários e do próprio Bolzan, se licenciou novamente para poder se candidatar na disputa regional.

Neste meio tempo, porém, um fato abalou toda sua vida. Em 2018, Vieira havia se matriculado em um mestrado na Universidade de Lisboa, para onde, a princípio, iriam também a esposa e as gêmeas: “Mas as gurias não se adaptaram de jeito nenhum e voltaram. Aí, no feriado de Páscoa de 2019, eu vim para visitar e agendei meu check-up de rotina. Foi quando recebi o diagnóstico de um tumor no mediastino. E começou todo aquele processo de quimioterapia, radioterapia. Fiz todo o tratamento na Santa Casa, foi bem-sucedido, e voltei ao MP e à carreira. Mas um momento assim faz com que a gente amadureça demais e se fixe no que é de fato importante na vida. Sou católico, reafirmei minha fé, e hoje me sinto mais disposto, mais forte e mais seguro”.

Como já tinha o número mínimo de presenças, Vieira voltou ainda a Portugal para apresentar alguns trabalhos entre os tratamentos e agora aguarda ser chamado para defender, provavelmente em 2023, sua dissertação, sobre colaboração premiada. O trabalho é uma continuidade de estudos que ele já desenvolvia aqui, como autor do substitutivo que resultou na chamada Lei de Combate à Organizações Criminosas. O texto, entre outros pontos, regulamentou a colaboração premiada no país.


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895