Violência e desigualdade salarial mobilizam voto feminino nas Eleições de 2020

Violência e desigualdade salarial mobilizam voto feminino nas Eleições de 2020

Em Porto Alegre, maioria dos candidatos aborda de algum modo a questão da violência contra a mulher, mas nem todos apresentam propostas

Flavia Bemfica

Eleições no Brasil utilizam urna eletrônica

publicidade

Em um cenário no qual a alta incidência de casos de violência contra as mulheres vem alcançando visibilidade crescente; o número de eleitoras é ligeiramente maior do que o de eleitores; e há três mulheres disputando o cargo máximo do Executivo; a discussão sobre se os candidatos à prefeito em Porto Alegre têm propostas específicas para o eleitorado feminino é uma das marcas desta campanha de 2020.

Na propaganda no rádio e na TV, nos debates ou nas redes, as pautas com potencial para atrair votos femininos, sob diferentes recortes, são uma constante. Mesmo que, não raro, possam trazer embutidos equívocos ou visões que acabam por reduzir os interesses femininos a velhos estereótipos. Ou que incorram no erro de considerar o gênero como definidor de demandas únicas.

“Há duas questões unificadoras para atrair o olhar das mulheres em geral: a violência, em especial a violência doméstica; e o salário desigual. A diferença salarial entre homens e mulheres une legisladoras à esquerda e à direita no espectro político, por exemplo. Já na temática dos direitos reprodutivos, há divergência e conflito”, elenca a professora Maria Lúcia Moritz, do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Ufrgs, e que pesquisa o protagonismo político das mulheres.

Moritz explica que, apesar de na verdade todos os temas interessarem às mulheres, e de a violência e a diferença salarial se destacarem, as pautas que tratam da figura feminina como a de uma cuidadora; e da atuação ligada à vida privada, ainda são bastante associadas a elas, mesmo que possam estar na verdade reproduzindo estereótipos. No item "cuidados" estão, entre outras, questões relacionadas à educação, à saúde e ao saneamento básico.

“Mulheres ainda são as principais usuárias destes serviços, em função de que, na divisão de tarefas existente, que perpetua um determinado modelo, cabe a elas majoritariamente cuidar das crianças e dos idosos da família. Por isso são pautas que, em linhas gerais, também acabam mobilizando muitas delas” explica a professora Natalia Méndez, do Programa de Pós-graduação em História da Ufrgs, e pesquisadora da história das mulheres e do feminismo.

Escolhas levam em conta uma diversidade de elementos

As duas temáticas apontadas como unificadoras do eleitorado feminino independente de classe social, faixa etária ou viés ideológico aparecem de formas variadas nos programas de governo dos candidatos à prefeito em Porto Alegre. Entre os 12 postulantes* ao Paço, nove abordam de algum modo a questão da violência e da violência doméstica contra a mulher, mas nem todos apresentam propostas de fato.

Em alguns casos, no programa, o problema se resume a uma citação no texto. Quando o assunto é a diferença salarial entre homens e mulheres, as propostas são ainda mais escassas. Há referência à equidade entre gêneros em políticas nos programas de três dos candidatos. Em dois, especificamente, às diferenças salariais. Mas não há indicação ou detalhamento de ações efetivas da administração municipal para diminuir o problema. Já as propostas que têm como alvo as mulheres "cuidadoras" são apostas praticamente unânime dos candidatos, independente do partido ou coligação, e principalmente quando os temas são educação e saúde.

A visibilidade alcançada por determinadas pautas também não é sempre garantia de votos. A professora Natalia Méndez alerta que as mulheres não mobilizam seus votos exclusivamente nos direitos relacionados a gênero, o que ajuda a explicar, inclusive, o desempenho de candidatos que externam posições contrárias a temas considerados sensíveis à população feminina. “O eleitorado feminino é tão diversificado quanto o eleitorado em geral. Suas escolhas são influenciadas por elementos geracionais, de classe social, raciais, religiosos e geográficos, entre outros.”

Na última década, conforme a professora, é possível observar um engajamento de eleitoras mais jovens com causas feministas. Mas há, ainda, uma parcela considerável do eleitorado feminino que se identifica com uma visão mais conservadora, na qual a equidade nem sempre é central. “Por fim, em eleições municipais, pesam bastante as relações pessoais. Que, por sinal, são uma característica muito acentuada nas eleições no Brasil”, lembra.

*A 13 candidatura em Porto Alegre está indeferida com recurso.

O peso das mulheres

Além de o gênero não ser um definidor exclusivo do voto feminino, na hora de apresentar propostas e prioridades, os candidatos incluem na conta também as estatísticas do eleitorado. E elas mostram que, apesar de as mulheres serem maioria, a diferença sobre o eleitorado masculino não é tão significativa quando se leva em conta a diversidade de elementos que influenciam as escolhas.

Eleitorado de Porto Alegre

Mulheres: 595.291 (54,98%)

Homens: 487.435 (45,02%)

Total: 1.082.726 (100%)

Eleitorado no RS

Mulheres: 4.422.947 (52,51%)

Homens: 4.000.361 (47,49%)

Total: 8.423.308 (100%)

Eleitorado no Brasil

Mulheres: 79.073.367 (52,53%)

Homens: 71.405.810 (47,44%)

Não informado: 40.458 (0,030%)

Total: 150.519.635 (100%)

Na Capital, eleitoras entre 45 e 59 anos são a faixa mais numerosa

16 anos: 156 (54,93%)

17 anos: 666 (50,57%)

18 a 20 anos: 14.988 (50,87%)

21 a 24 anos: 35.155 (51,02%)

25 a 34 anos: 100.194 (51,95%)

35 a 44 anos: 114.711 (52,75%)

45 a 59 anos: 144.704 (54,30%)

60 a 69 anos: 89.069 (57,38%)

70 a 79 anos: 55.630 (61,18%)

mais de 79 anos: 40.018 (66,92%)

Fonte: TSE

 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895