Emendas que bancaram ato pró-Lula somam quase R$ 1 milhão

Emendas que bancaram ato pró-Lula somam quase R$ 1 milhão

Eduardo Suplicy e Alfredinho, ambos do PT, e Sidney Cruz, do Solidariedade, são autores das emendas, que somam R$ 885 mil

R7

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Vereadores destinaram quase R$ 1 milhão em emendas parlamentares para o evento realizado em 1º de Maio, Dia do Trabalhador, em São Paulo. O ato contou com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, durante as apresentações, artistas manifestaram apoio ao petista, que é pré-candidato ao Palácio do Planalto nas eleições deste ano.

Os vereadores que enviaram emendas para o evento cultural são Sidney Cruz, do Solidariedade, e Eduardo Suplicy e Alfredinho, ambos do PT. Recentemente, o deputado federal Paulinho da Força, que comanda o Solidariedade, oficializou apoio a Lula na corrida eleitoral.

A reportagem apurou que o vereador Sidney Cruz destinou R$ 360 mil, dos quais foram utilizados R$ 187 mil. O montante é a mesma cifra que a administração municipal utilizou para o pagamento dos artistas que se apresentaram na manifestação. Segundo a equipe petista, Suplicy e Alfredinho enviaram, R$ 125 mil e R$ 400 mil, respectivamente, para contribuir com a estrutura do evento, que reuniu artistas como Daniela Mercury, Francisco El Hombre, Dexter e Sampagode.

Ao R7, o vereador Alfredinho argumentou que o envio de emendas ao setor cultural é legal e previsto na Constituição Federal. "Não é a primeira vez que enviamos emendas para a cultura. Não tem nada fora do normal nessa questão. Eu tenho o direito de indicar emenda para onde eu quiser, e essa é a minha responsabilidade. Depois, a aplicação desses recursos é com a prefeitura", disse.

Questionado sobre os princípios morais de se fazer um evento público com artistas expressando solidariedade e apoio a um pré-candidato, o vereador argumenta que foge de seu escopo político. "Eu não posso controlar o que o artista vai falar no palco. A Virada Cultural [outro evento na capital paulista] é feito exclusivamente com recursos públicos, inclusive a [cantora] Daniela Mercury já participou e houve manifestações políticas. Os artistas têm liberdade de expressão, assim como qualquer cidadão", completou.

Após questionamentos da reportagem, a prefeitura confirmou as informações e argumentou que a emenda parlamentar é um direito de todos os vereadores, que têm total autonomia para indicar onde os recursos devem ser aplicados, restando ao órgão executor, no caso a Secretaria de Cultura, a averiguação da documentação dos contratados, a avaliação se os valores estão dentro da média de mercado e o cumprimento das normas e determinações de órgãos de controle. Além disso, a administração informa que o evento de 1º de Maio é organizado e realizado, anualmente, pelas centrais sindicais, responsáveis pela curadoria e conteúdo exposto.

Artistas e shows

Como o R7 mostrou, a cidade de São Paulo gastou quase R$ 200 mil para o pagamento de artistas que se apresentaram na manifestação de 1º de Maio, de acordo com as publicações no Diário Oficial do Município. A artista que mais recebeu dinheiro público foi a cantora Daniella Mercury: R$ 100 mil. Na sequência, aparecem a banda Francisco El Hombre (R$ 30 mil), o rapper Dexter (R$ 28 mil), a banda Sampagode (R$ 17 mil) e DJ KL Jay (R$ 12 mil). Somados, os valores chegam a R$ 187 mil.

Durante a apresentação na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, a cantora baiana criticou o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), levantou a bandeira do Partido dos Trabalhadores e incentivou o voto no petista. "Tem que ser Lula, eu quero Lula", disse. "O pagamento se dará no 30º (trigésimo) dia após a data de entrega de toda documentação correta relativa ao pagamento", dizem os trechos que mencionam os artistas citados pela reportagem.

Os shows foram contratados pela Secretaria de Cultura e intermediados por ao menos cinco empresas.  A manifestação foi organizada por diversas centrais sindicais, como a CUT (Central Única dos Trabalhadores), UGT (União Geral de Trabalhadores), CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), NCST (Nova Central Sindical de Trabalhadores), Intersindical Central da Classe Trabalhadora e Pública Central do Servidor e Força Sindical.

O pedido de alvará de autorização para o evento foi feito pela INNER Enterprises Produções e Eventos LTDA. A reportagem buscou contato com a companhia, mas não obteve retorno. Outros artistas se apresentaram na manifestação, como Leci Brandão, Kimani, Lucas Afonso e Max B.O. No entanto, não há divulgação de pagamentos feitos pela administração municipal para esses intérpretes. O empresário de Leci Brandão informou à reportagem que a "cantora abriu mão do cachê artístico".

Em nota, a equipe de Daniela Mercury informou que a contratação da artista foi feita pela produtora MGioria Comunicações, o que não consta na publicação do Diário Oficial de São Paulo. "O valor do cachê foi quitado integralmente pela MGioria. A produtora da artista esclarece que não recebeu e nem receberá nenhum recurso da prefeitura", diz o comunicado. Ainda segundo a equipe da cantora, o contrato com a prefeitura não foi e nem será efetivado. "Não houve qualquer recebimento de verba da prefeitura de São Paulo."

Centrais sindicais

Já a CUT e demais centrais sindicais informaram que as apresentações artísticas foram contratadas via emendas parlamentares, mas sem citar quais vereadores destinaram os recursos e qual o total das quantias enviadas.

"O uso das emendas parlamentares para a realização de festas populares é respaldado pela lei orçamentária do município, que permite a vereadores e vereadoras destinar o valor das emendas a atividades culturais com apresentações artítistcas abertas ao público, como festas juninas, festas de aniversário de bairro, atividades esportivas amadoras, como corridas de rua e campeonatos, Dia do Trabalhador, entre outras", defende.


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