Entenda o que é a proposta de "fatiamento" da PEC dos Precatórios

Entenda o que é a proposta de "fatiamento" da PEC dos Precatórios

Presidente Arthur Lira fala em promulgar trechos de consenso entre as duas Casas, mas senadores não aprovam proposta

R7

Presidente Arthur Lira fala em promulgar trechos de consenso entre as duas Casas, mas senadores não aprovam proposta

publicidade

Após intensos debates na Câmara e no Senado, o Congresso continua a discussão em torno da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios. A proposta foi aprovada no Senado na última semana após diversas alterações no texto enviado pelos deputados. Agora o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), fala em promulgar apenas os trechos que foram consenso nas duas Casas, fazendo um "fatiamento" da PEC.

A tramitação de uma PEC é diferente de projetos comuns, pois o texto promulgado (pelas mesas das duas Casas) precisa ser o mesmo aprovado por deputados e senadores. Assim, regimentalmente, seria possível promulgar apenas os trechos aprovados de forma idêntica, fazendo, na prática, uma divisão entre pontos da matéria, o que se tem chamado de fatiamento. A ideia não é bem vista pelos senadores, que avaliam que algo do tipo representaria uma quebra de acordo. No âmbito dos técnicos do Senado e da Câmara, discute-se o que, na prática, poderia ser feito em relação ao fatiamento.

De forma geral, o entendimento é de que há dois trechos que não foram alterados pelo Senado: a mudança no cálculo do Teto de Gastos e a possibilidade de parcelamento das dívidas previdenciárias dos municípios em até 240 meses. Eles poderiam, então, ser promulgados. Leonardo Ribeiro, analista do Senado e especialista em contas públicas, estima que o espaço fiscal chegaria a R$ 60 bilhões, suficiente para pagar o Auxílio Brasil a R$ 400 e fazer a correção do Orçamento.

Dentro da consultoria legislativa da Câmara, entretanto, há o entendimento de que também entrariam mais dois trechos na promulgação: um que permite o uso de precatórios na compensação das dívidas dos estados com a União fora do limite e do Teto de Gastos; e outro que vincula R$ 15 bilhões do espaço fiscal aberto com a proposta para despesas de vacinação contra a Covid-19 ou relacionadas a ações emergenciais e temporárias de caráter socioeconômico.

A liderança da oposição no Senado é contra a proposta de que a proposta seja fatiada e que sejam promulgados apenas os trechos aprovados de forma idêntica em ambas as Casas. O entendimento é de que haveria uma quebra de acordo garantido pelo líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

Precatórios

Em ambas as Casas, entende-se que para promulgar agora qualquer trecho sobre precatórios (dívidas que a União é obrigada a pagar porque já se esgotaram os recursos na Justiça), a Câmara precisará aceitar as alterações feitas pelo Senado. Assim, ou a Câmara aceita promulgar tudo sobre precatórios ou não promulga nada. Se não quiserem promulgar, os deputados poderão fazer as alterações que desejarem e enviam o texto novamente para análise dos senadores. 

O trecho relativo aos precatórios, entretanto, é o mais importante para o governo, tendo em vista que sem ele, a União pode ser obrigada a pagar a totalidade dos precatórios de 2022, na ordem de R$ 89 bilhões.

A proposta se refere a um um "subteto" para o pagamento de precatórios. Na prática, foi estabelecido um limite anual do que a União pode gastar com precatórios, e o restante fica para o próximo ano. Na Câmara, foi estabelecido que esse subteto dure até 2036. O prazo, entretanto, era visto como muito extenso e no Senado isso foi reduzido em 10 anos — ou seja, para 2026.

Já pensando em um risco de fatiamento da proposta na Câmara, os senadores incluíram esse prazo no artigo principal e não em um inciso, "costurando" o texto. Isso impossibilita, na avaliação geral, que a Câmara promulgue um teto para o pagamento dos precatórios que não seja o do ano de 2026 e que não seja vinculado com gastos sociais (Auxílio Brasil, Previdência, saúde e assistência social). Se os deputados quiserem alterar, o texto precisa voltar novamente para o Senado.

Líder da bancada Feminina, a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que atuou de forma significativa nas articulações no Senado, afirmou ao R7 que está tranquila em relação ao texto costurado pelos senadores. "Eles só causam problema para o governo, porque a alteração [dos precatórios] é o ponto essencial para o governo. Nós amarramos de tal forma que ou promulga tudo ou não promulga nada da nossa parte", disse.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895