Estudo do Novo aponta que reforma tributária aumentará carga sobre famílias mais pobres

Estudo do Novo aponta que reforma tributária aumentará carga sobre famílias mais pobres

Partido argumenta que projeções apresentadas pelo governo Eduardo Leite ignoram cenário correto, que é o do fim da majoração das alíquotas a partir de 2021

Flavia Bemfica

Levantamentos do estudo atingem um dos argumentos centrais utilizados pela administração Eduardo Leite

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A bancada do Novo na Assembleia Legislativa está realizando uma série de estudos técnicos com o objetivo de demonstrar que a reforma tributária proposta pelo governo do Estado, nos moldes previstos, deverá aumentar a carga de impostos para famílias de baixa renda. 

Os levantamentos atingem um dos argumentos centrais utilizados pela administração Eduardo Leite (PSDB) para defender as mudanças, o de que elas promovem justiça tributária, beneficiando as famílias de menor renda. O Novo fez uma simulação que comparou a situação de uma família com renda bruta mensal de R$ 2,4 mil em 2021, com e sem as alterações previstas na reforma proposta pelo governo. E concluiu que as mudanças poderão aumentar em aproximadamente 20% o que famílias de baixa renda pagam em impostos.

Pelos estudos da bancada, uma família com renda de R$ 2,4 mil mensais brutos e que possui um carro antigo poderá arcar com perda de pelo menos R$ 1 mil em dois anos e aumento de 26% em impostos, já que terá devolução de ICMS a partir de 2023, mas começará a pagar IPVA em 2021.

Devolução incerta

O líder partidário do Novo, deputado Giuseppe Riesgo, completa que a devolução de ICMS proposta ainda é incerta, uma vez que o programa de restituição será efetivado por decreto do Executivo, e poderá passar por alterações.

No levantamento, mesmo quando considerado um cenário com a devolução do ICMS, uma família com a renda de R$ 2,4 mil chegaria a 2023 com carga tributária maior do que se a reforma não existisse e as alíquotas voltassem a ser aquelas de 2015, antes de a majoração temporária do ICMS ser aprovada. Pelas estimativas da bancada, se levada em conta apenas a devolução automática proposta pelo governo, de R$ 30 mensais, o aumento no que essa família paga em impostos deve chegar a quase 20%.

Conforme os números apresentados pela sigla uma família com renda bruta de R$ 2,4 mil/mês teria um gasto mensal com ICMS e IPVA de R$ 254,52 em 2021 caso mantida a majoração de alíquotas. O valor subiria para R$ 287,55 com as novas regras implementadas pela reforma. E cairia a R$ 228,20 se não houvesse reforma e a majoração do ICMS terminar, como inicialmente previsto. No ano, a projeção de gastos apresentados para a mesma família é de R$ 3.054,24; R$ 3.450,63 e de R$ 2.738,40, respectivamente.

“O governo anuncia que, com a reforma, taxará os mais ricos, defendendo que está aumentando a tributação sobre patrimônio e reduzindo aquela sobre consumo. Porém, essa taxação do patrimônio é sobre veículos velhos, cujos proprietários, via de regra, são famílias de baixa renda. Além disso, ainda há o aumento dos impostos sobre os produtos da cesta básica”, argumenta Riesgo. Segundo ele, é fundamental que, nos debates, ocorra a comparação de cenários para 2021 com a implementação da reforma e sem ela. “Aí fica escancarado o aumento de impostos”, argumenta.

Entenda

Em setembro de 2015, durante o primeiro ano de governo de José Ivo Sartori (MDB), a Assembleia Legislativa aprovou, em uma votação apertada (diferença de um voto) e após debates acirrados, a majoração de alíquotas de ICMS por tempo determinado: três anos. A majoração entrou em vigor em 2016, com validade para aquele ano e os de 2017 e 2018. E deveria ter acabado em 2019. Com ela, a alíquota básica de ICMS, aplicada a todas as operações e prestações de serviços sem alíquota específica, subiu de 17% para 18%. As alíquotas sobre energia elétrica, álcool, gasolina e telefonia subiram de 25% para 30%.

Em dezembro de 2018, ao final do governo Sartori e com Eduardo Leite (PSDB) já eleito governador a partir de 2019, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto que estendeu o aumento de alíquotas de ICMS por mais dois anos, ou seja, com validade para 2019 e 2020. A partir de 2021 elas deveriam voltar aos patamares que vigoravam até o início de 2016. Para estender a majoração das taxas por mais dois anos o governador eleito, na época,  costurou um acordo que incluiu bancadas de oposição, o que possibilitou que a prorrogação passasse por margem larga no Legislativo: 40 votos a favor e 10 contra.

A partir de 1º de janeiro de 2021 as alíquotas do ICMS no RS voltam a cair. O Executivo argumenta que não tem como arcar com a queda na arrecadação resultante do fim da majoração e apresentou um pacote de três projetos de reforma tributária que, defende, não só compensa suas perdas, mas também promove maior justiça tributária.

O pacote, protocolado em 10 de agosto, tem pontos contestados não apenas pela bancada do Novo. Também é alvo de questionamentos entre siglas de oposição e gera dúvidas entre parte dos aliados. O Executivo, contudo, utilizou a prerrogativa de urgência na votação, o que significa que, se os textos não forem apreciados pelos deputados em 30 dias, passam a trancar a pauta a votação a partir de 16 de setembro


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