Flávio Bolsonaro visitou Nóbrega na cadeia, diz ex-colega de miliciano na prisão

Flávio Bolsonaro visitou Nóbrega na cadeia, diz ex-colega de miliciano na prisão

Família nega relação com ex-policial morto no dia 9, na Bahia

AE

Adriano da Nóbrega foi morto na Bahia, no dia 9 de fevereiro

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Ex-colega de prisão do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, o vereador do Rio e sargento da Polícia Militar Ítalo Ciba (Avante) afirmou ao jornal O Globo que o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ) visitou os dois "mais de uma vez" na cadeia. A família Bolsonaro tem negado que existia uma relação entre ela e o miliciano morto no dia 9 na Bahia. O Estado tentou contato com o vereador, que não quis falar. A equipe dele, no entanto, confirmou as afirmações.

Ciba também disse que Nóbrega frequentava o gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio, quando o senador era deputado estadual. As idas ao local teriam sido feitas a convite de Fabrício Queiroz, ex-chefe de gabinete do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro e apontado como operador dos desvios no gabinete. O próprio Nóbrega seria beneficiado pela "rachadinha", segundo o Ministério Público fluminense.

Ex-capitão do Bope, Nóbrega teve a mãe e a ex-mulher empregadas no gabinete de Flávio. Além deste vínculo, o então deputado estadual também presenteou o miliciano, em 2005, com a Medalha Tiradentes. Nóbrega estava preso na ocasião.

O senador afirmou, em nota, que só visitou Nóbrega para a entrega da medalha. Ítalo Ciba, contudo, disse que houve mais visitas. Ele e o miliciano ficaram presos juntos em 2003, quando integravam o Grupamento de Ações Táticas (GAT). Foram acusados de homicídio, tortura e extorsão.

Foi nesse período, segundo o vereador, que Flávio visitou mais de uma vez a prisão. Mais tarde, no Twitter, Flávio disse que sempre defendeu os direitos dos policiais e que visitou "inúmeras vezes" o Batalhão Prisional da PM (BEP) "para ouvir PMs presos injustamente". "Vários foram inocentados e voltaram para seus batalhões, trabalhando desmotivados porque foram abandonados pela corporação quando mais precisavam."

O advogado Frederick Wassef, que defende Flávio, divulgou nota em que diz que o senador "nunca fez visitas a criminosos". Ele disse que Flávio "desenvolveu um importante trabalho para garantir Justiça e um atendimento jurídico adequado a policiais que, muitas vezes, enfrentavam acusações infundadas e não tinham condições de pagar por um advogado". Afirmou ainda que "sobre Nóbrega, é fato que não existe relação entre ele, Flávio e sua família".

Questionado na quinta-feira, 20, Bolsonaro minimizou o relato do vereador. "Eu já fui várias vezes no BEP, Batalhão Especial Prisional lá no Rio de Janeiro, eu já fui no presídio da Marinha no passado também, está certo?", disse o presidente.

Perito da família fala tiro à queima-roupa

O perito aposentado Francisco Moraes Silva, de 81 anos, contratado pela família do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega para acompanhar a necropsia feita na tarde de ontem no Instituto Médico-Legal do Rio, disse que, com base em fotos, o disparo que acertou o ex-capitão do Bope no tórax tem características de tiro à queima-roupa. "É a típica marca em que a extremidade distal da arma encosta no tegumento (pele)", afirmou. Ex-diretor do IML do Paraná, Silva estava com outros três peritos e um fotógrafo. Ele disse que ainda não havia examinado o corpo e que sua análise era com base em fotografias.

O novo exame cadavérico foi feito por peritos do IML do Rio. O resultado sairá dentro de 15 dias. Depois disso, a equipe do perito contratado pela família de Nóbrega tem outros 15 dias para elaborar um parecer sobre o laudo.

Sobre a necropsia feita no IML de Alagoinhas, na Bahia, Silva disse que os peritos poderiam ter dado mais informações sobre o orifício de entrada no tórax. "O novo laudo será feito por peritos do Rio que têm muita experiência com tiros de fuzil e carabina", afirmou.

A Justiça da Bahia autorizou a realização do novo exame. O objetivo é determinar a distância entre os policiais e Nóbrega no momento dos tiros, o trajeto percorrido pelas balas no interior do corpo do ex-PM e o calibre das armas. Será possível averiguar também se houve tortura.

Estão pendentes, ainda, os resultados do exame residuográfico (que determina se Nóbrega fez algum disparo), o das marcas de bala no escudo usado pela PM na invasão do sítio (o que poderia indicar uma possível reação) e o da perícia da casa onde ele foi alvejado.


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