Marcos Valério cita Lula como um dos mandantes da morte de Celso Daniel, diz revista

Marcos Valério cita Lula como um dos mandantes da morte de Celso Daniel, diz revista

PT nega acusações e fala que operador do Mensalão acusa sem provas e testemunhas para diminuir sua pena

Correio do Povo

PT diz que está tomando," desde hoje, a medidas no âmbito da Justiça contra a publicação, seus proprietários, editores e o autor"

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Em depoimento concedido ao Ministério Público em 2018 e divulgado pela revista Veja nesta sexta-feira, o operador do Mensalão, Marcos Valério, citou o ex-presidente Lula como um dos responsáveis pelo homicídio do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel. Conforme a transcrição dos documentos obtidos pela publicação, Valério contou que o empresário Ronan Maria Pinto – atualmente cumprindo pena no regime semiaberto por condenação na Lava Jato – lhe "afirmou com muita clareza e um modo simples que lhe é próprio que iria apontar o presidente Lula como mandante da morte". Celso Daniel foi executado a tiros depois de ser sequestrado em 2002, e a Polícia Civil sempre tratou o caso como um crime sem motivação política.

No depoimento prestado no Departamento de Investigação de Homicídios de Minas Gerais, Valério declarou que foi procurado por Gilberto Carvalho em 2003, na época chefe de gabinete do ex-presidente, porque Lula e outros petistas estavam sendo chantageados por Maria Pinto, que participava de um esquema de cobrança de propina na prefeitura de Santo André e ameaçava envolver a cúpula do Planalto no caso do assassinato. Para resolver o problema, contou que procurou João Paulo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, a quem uma de suas agências de publicidade prestava serviços, e o deputado Luizinho, que tinha sido vereador em Santo André.

De acordo com o operador do Menselão, Luizinho lhe revelou que Celso Daniel havia aceitado pagar com dinheiro público a caravana de Lula pelo país, mas não aceitava mais do que isso. "Uma coisa era o Celso bancar as despesas do partido, da direção do partido e do próprio presidente. Outra era envolver a prefeitura em casos que beiravam a ação de gângster”, teria afirmado o deputado, conforme a versão registrada pela Polícia. Valério, então, se reuniu em um hotel de São Paulo com o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e Maria Pinto.

No encontro, ele contou que Maria Pinto declarou que não ia “pagar o pato” sozinho e que apontaria “como cabeça da morte de Celso Daniel”. Ficou acordado um pagamento pelo silêncio. O dinheiro foi obtido por meio do Banco Schahin, no qual fundos de pensão mantinham aplicações milionárias, e que fez um "empréstimo” de R$ 12 milhões em troca de um contrato com a Petrobras. Valério ainda disse em seu depoimento que conversou com Lula sobre esse episódio. "Eu virei para o presidente e falei assim: 'Resolvi, presidente'. Ele falou assim: 'Ótimo, graças a Deus’", segundo a transcrição.

Carvalho diz que Valério mente e o desafia a apresentar prova

Em resposta à reportagem, Gilberto Carvalho afirma que a revista "dá voz a um bandido interessado unicamente em diminuir suas penas, distribui acusações infundadas e a revista não ouve o outro lado, não cuida de fazer um jornalismo minimamente decente". O ex-chefe de gabinete de Lula afirma que ele e o presidente nunca falaram com Marcos Valério. "Desafio este bandido a apresentar uma prova, uma testemunha, uma circunstância que dê base a esta acusação que ele faz buscando dar verossimilhança a uma reiterada tentativa de obter mais uma das famosas e fantasiosas “delações premiadas”. São múltiplas as tentativas que este bandido tem construído, cada vez com um acréscimo de circunstâncias novas, todas mentirosas", escreveu em nota divulgado pelo PT.

Carvalho garante que tomará "as medidas judiciais para que o senhor Marcos Valério pague por mais este crime que cometeu" e que "a morte de Celso Daniel não causa tremor nem medo ao PT". "Causa dor pela perda de um dos melhores quadros que construímos, causa revolta pela reiterada tentativa de culpabilizar companheiros que são na verdade vítimas desta dor indescritível. Celso Daniel tinha acabado de assumir a função de Coordenador da elaboração do Programa de Governo do então candidato Lula e teria sem dúvida um papel importante, essencial no Governo que se formaria".

Carvalho ainda reitera que "a Polícia Civil de São Paulo e a Polícia Federal, ambas sob o Governo do PSDB", foram as responsáveis pela investigação, cujo primeiro inquérito "realizado pela insuspeita Dra. Elisabete Sato" foi contestado. "Não é verdade que o senhor Ronan Maria Pinto tenha feito ou tentado qualquer tipo de chantagem contra mim ou contra o Presidente Lula. Até porque não teria base nenhuma para fazer qualquer tipo de chantagem, e não teríamos porque temer. Em nenhum momento Ronan Maria Pinto, também feito prisioneiro, sequer mencionou este episódio, criado pela fantasiosa mente do bandido Marcos Valério", concluiu.

 

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