MDB intensifica busca por alianças na corrida ao Piratini

MDB intensifica busca por alianças na corrida ao Piratini

Após diretório escolher Gabriel Souza como pré-candidato, partido usará negociações para ‘enterrar’ pretensões de grupo de dissidentes

Flavia Bemfica

Gabriel Souza (de camiseta preta) foi escolhido como o nome do partido para disputar o Piratini pelo MDB

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O presidente estadual do MDB, Fábio Branco, e o agora pré-candidato do partido ao governo do Estado, o deputado estadual Gabriel Souza, não querem perder tempo. Ainda no domingo, após a votação do diretório na sede partidária na qual Gabriel teve o nome oficializado para a corrida ao Piratini, os dois intensificaram os contatos com lideranças de outras siglas para encaminhar conversas sobre alianças. 

Em coletiva após o ato que sucedeu a votação, tanto Branco quanto Gabriel admitiram apenas que os telefonemas começariam de imediato, e que são buscadas siglas que tenham convergência com o MDB. De público, o pré-candidato diz que as negociações estão começando e caberão principalmente ao comando da legenda, na pessoa do presidente. “Não tem interferência e não tem conversa prévia com ninguém. O MDB escolheu seu candidato”, arrematou Branco.

Internamente, para além da já conhecida aproximação de Gabriel e da bancada estadual do partido com o governador Eduardo Leite (PSDB), há emissários emedebistas em contato com União Brasil, PSD e Podemos. A pressa em conquistar aliados ocorre em função do calendário eleitoral e da necessidade de formar uma chapa robusta, mas, também, admitem em reservado negociadores emedebistas, para “enterrar de vez” as pretensões do grupo de lideranças que segue negando apoio ao nome de Gabriel e levantando questionamentos sobre o processo de escolha do pré-candidato. 

No ato, no domingo, o deputado fez um discurso durante o qual se emocionou em diferentes momentos, mostrou humildade e assinalou a busca de convergência como uma de suas características. Mas, sempre que possível, destacou que o debate a respeito da indicação era político, e que terminou no fim de semana com a escolha feita pelo diretório.

Durante o evento, contou com um reforço de peso. O ex-governador José Ivo Sartori, que já havia gravado um vídeo na semana passada. Acompanhado do ex-vice-governador José Paulo Cairoli, Sartori citou o ex-senador Pedro Simon para pedir união em torno do deputado na nova corrida ao Piratini. “Erros todos nós cometemos ao longo do tempo, e, as vezes, cometemos atitudes equivocadas. O grande líder de todos nós continua sendo o senador Pedro Simon. Ele é o símbolo de uma trajetória e de uma caminhada que nos indica que não podemos ter dispersão. Se queremos construir esperança temos que estar unidos”, afirmou. Simon faz parte do grupo de lideranças que encaminhou à executiva uma moção solicitando que a escolha do pré-candidato fosse feita por um colégio mais amplo que o do diretório, e ficasse para o mês de abril. A moção foi colocada em votação no domingo, e derrotada por 56 votos a três. O ex-senador não compareceu ao ato.

Quanto a Sartori, ainda protagonizou um momento de descontração elogioso à Gabriel. Após dizer que o pré-candidato havia sido secretário em sua gestão, e se corrigir (o deputado foi líder do governo na Assembleia), o ex-governador emendou: “Não tinha um secretário que não se queixava, porque ele mandava mais.” 

Insistência de secretário aumenta desconfianças

No grupo de lideranças alinhadas com o pré-candidato do MDB ao governo, deputado Gabriel Souza, e também dentro do comando partidário, só crescem as desconfianças a respeito dos objetivos da ala que segue questionando a escolha feita pelo diretório e que, aberta ou internamente, defende o pleito do secretário de Planejamento de Porto Alegre, Cezar Schirmer. Na sexta-feira, após o prazo limite para inscrição de nomes para a escolha no diretório, e sem ter se inscrito, Schirmer divulgou carta na qual promete disputar a indicação partidária para a corrida ao governo na convenção da legenda. As convenções partidárias ocorrerão entre 20 de julho e 5 de agosto.

As movimentações aumentaram as dúvidas sobre se parte das lideranças trabalha por uma coalizão com a pré-candidatura do ministro Onyx Lorenzoni (PL) ao governo do Estado, e um alinhamento, no pleito nacional, à tentativa de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). “Esta insistência em refutar o nome do Gabriel e o processo de escolha do partido tem pata de elefante, orelha de elefante, tromba de elefante, mas o pessoal nega, diz que não é elefante, que trabalha por candidatura própria”, ironiza um deputado emedebista.

No domingo, mesmo com o período de inscrições encerrado, antes de a votação do diretório ser aberta oficialmente, o presidente da sigla, Fábio Branco, abriu prazo de 10 minutos para eventuais novas inscrições. Mas elas não aconteceram. O deputado Gabriel Souza seguiu como único inscrito e foi escolhido por 57 votos a favor e dois contra, ou seja, 59 dos 70 membros do diretório votaram.

Pedro Simon, Germano Rigotto, José Fogaça, o prefeito da Capital, Sebastião Melo, o deputado federal Osmar Terra, os estaduais Patrícia Alba e Tiago Simon, o ex-prefeito de Gravataí, Marco Alba, o empresário Luis Roberto Ponte, Schirmer e o deputado federal Alceu Moreira, que disputava a indicação com Gabriel mas retirou sua candidatura na semana passada, não compareceram. Todos têm assento no diretório. Tão logo foi anunciado o resultado, nas redes sociais e em grupos de whatsapp, emedebistas ligados a Terra, Schirmer e Marco Alba intensificaram mensagens com críticas ao processo de escolha e à representatividade do quórum da reunião do diretório.

Questionado sobre como o partido pretende combater o ‘fogo amigo’, o presidente estadual, Fábio Branco, reiterou que a escolha seguiu as instâncias definida pelo partido. “Vamos conversar com o Schirmer, mas a instância legal cumprimos, e o nosso pré-candidato, do MDB, é o Gabriel. Foram dadas todas as oportunidades para quem quisesse se apresentar. Qualquer outra definição, legitimidade não tem, o que tem é o aspecto do prejuízo que podemos ter daqui para a frente”, projetou.

O entendimento da maioria das lideranças é de que, na base, o nome de Gabriel tem ampla preferência e Schirmer não tem força. Desde a semana passada, o parlamentar vem tentando uma costura mais incisiva. Falou diversas vezes com Melo ao telefone. Às vésperas da reunião de domingo, também conversou com Simon, Fogaça e Rigotto. Nos próximos dias, vai procurar por Alceu Moreira. No entorno do agora pré-candidato há convicção de que, se existe algum movimento pró-Onyx ou Bolsonaro dentro do partido, Alceu não participa.

 


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