Moro diz ser vítima em vazamento e deixa perguntas sem respostas na Câmara

Moro diz ser vítima em vazamento e deixa perguntas sem respostas na Câmara

Ministro se recusou a confirmar ou rejeitar conteúdo de mensagens reveladas pelo site Intercept Brasil

Estadão Conteúdo

Confusão encerrou sabatina após mais de oito horas

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O depoimento do ministro da Justiça, Sérgio Moro, na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, transformou-se nesta terça-feira a em uma arena de embates entre deputados da oposição e o ex-juiz da Lava Jato. Sem contar com a mesma "blindagem" que teve quando foi ao Senado, há 13 dias, Moro se irritou com perguntas, disse não haver "inocentes" presos e afirmou que acompanha como "vítima" as investigações da Polícia Federal sobre a troca de mensagens atribuídas a ele e a procuradores da Lava Jato. A sessão terminou por volta das 21h45min, após confusão entre governistas e a oposição.

Moro se negou a confirmar ou rejeitar o conteúdo dos diálogos divulgados pelo site The Intercept Brasil e classificou como "revanchismo" os ataques que vem recebendo. "Há uma tentativa criminosa de invalidar condenações", afirmou ele. "Qual foi a mensagem que revela que tem inocente condenado? Que inocentes?", questionou. A oposição se revezou nas críticas a Moro e o clima esquentou várias vezes, com muito bate-boca na sessão. Dois dias depois das manifestações de rua em apoio a ele, à Lava Jato e à reforma da Previdência, porém, o ministro parecia mais seguro e até fez ironias com o episódio. "Se as minhas mensagens não foram adulteradas, não tem nada ali, nada. É um balão vazio cheio de nada", insistiu Moro.

O titular da Justiça chegou a dizer que se fala muito da anulação do processo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - preso desde abril do ano passado - mas também é preciso perguntar se alguém defende o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-diretor da Petrobrás Renato Duque. "Precisamos de defensores destas pessoas. Que elas sejam colocadas imediatamente em liberdade já que foram condenadas pelos malvados procuradores da Lava Jato, pelos desonestos policiais e pelo juiz parcial", disse Moro, sempre se referindo aos condenados como "todos esses inocentes".

Houve gritos na sala da CCJ. "Dispenso a ironia!", protestou a deputada Maria do Rosário (PT-RS). Sempre que era questionado pela oposição, Moro folheava papéis e desviava o olhar do interlocutor. "Eu gostaria que o senhor me olhasse nos olhos. Desconfiem de quem baixa a cabeça", disparou Maria do Rosário.

Na tentativa de provocar os adversários, integrantes do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, levantavam folhas de papel sulfite com apelidos dados por dirigentes da Odebrecht a políticos do PT beneficiados pela empreiteira com recursos nas campanhas. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) era um dos mais animados e comandava a tropa, segurando folhas com as inscrições "Solução" - apelido atribuído a Maria do Rosário - e "Montanha", alcunha dada ao deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Os petistas, por sua vez, empunhavam cartazes com a reprodução do PowerPoint usado pelo Ministério Público Federal para condenar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em setembro de 2016. O desenho virou piada nas redes sociais.

Moro demonstrou impaciência com os deputados do PT, do PSol e da Rede, que cobraram o seu afastamento do cargo. Questionado sobre ter aceito convite para entrar no governo Bolsonaro, quando ainda era juiz, o ministro disse já ter falado sobre esse assunto "30 mil vezes". "Se durante as investigações da Lava Jato eu tivesse deixado a corrupção florescer, me omitido e virado os olhos para o outro lado, eu não sofreria esses ataques como sofro atualmente", afirmou ele. O ministro repetiu ter sido vítima de "hackers criminosos" e disse que, mesmo se autênticos, diálogos com procuradores são "coisas absolutamente triviais no cenário jurídico".

Sem respostas

O ex-ministro deixou sem resposta algumas perguntas como, por exemplo, se é verdadeira a informação de que a Polícia Federal, subordinada ao ministério comandado por ele, pediu ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) relatório sobre movimentações feitas pelo jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil. A informação foi publicada pelo site O Antagonista.

Em um dos momentos de maior tensão, o ministro reagiu com nervosismo a uma provocação da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT. "Se alguém tem algum elemento de fato contra mim, que apresente. Não sou eu investigado por corrupção", disse Moro, em referência às investigações da Lava Jato contra Gleisi. O deputado Boca Aberta (PROS-PR) deu um troféu para Moro. Disse que a taça simbolizava o combate à corrupção.

Mesmo ressalvando não reconhecer a autenticidade das mensagens, ele tentou explicar a frase "In Fux We Trust", que apareceu em uma das conversas como sendo de sua autoria. "Pode ter algumas mensagens ali que eu tenha mandado. A referência lá: 'Confia no ministro do Supremo Tribunal Federal?' Bem, eu confio. Sempre tratei respeitosamente os ministros do STF", argumentou.


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