MPF denuncia Wesley Batista por uso de informações privilegiadas no mercado financeiro

MPF denuncia Wesley Batista por uso de informações privilegiadas no mercado financeiro

Operações feitas dias antes de sua delação se tornar pública renderam quase R$ 70 milhões

Correio do Povo e Agência Brasil

Esta não é a primeira vez que Wesley é acusado de insider trading

publicidade

O Ministério Público Federal denunciou nesta terça-feira o empresário Wesley Batista pelo crime de uso de informações privilegiadas para a obtenção de ganhos no mercado financeiro, conhecido como insider trading. De acordo com a decisão assinada pelos Procuradores da República Thaméa Danelon Valiengo, Ana Cristina Bandeira Lins e Bruno Costa Magalhães, enquanto esteve à frente da Seara Alimentos e da Eldorado Celulose, Wesley “utilizou informação relevante (Acordo de Colaboração Premiada) não divulgada ao mercado, de que tinha conhecimento e da qual deveria manter sigilo, capaz de propiciar para ele vantagem indevida, mediante negociação, em nome próprio com valores mobiliários”.

Conforme a denúncia, Batista teria comandado operações cambiais das companhias em meados de maio de 2017. Nessa época, o acordo de colaboração firmado por ele e pelo irmão Joesley com o MPF ainda estava sob sigilo. Os crimes delatados atingiam a alta cúpula da esfera política nacional e impactariam diretamente na expectativa do mercado em relação aos rumos da economia brasileira quando divulgados.

“Sabedor dos impactos que tais informações causariam na economia do país – quais sejam: uma inevitável alta do dólar - o réu resolveu se beneficiar financeiramente da instabilidade econômica que seria ocasionada com a divulgação dos termos da Colaboração Premiada e das provas apresentadas, tais como: conteúdo de gravações ambientais; mensagens de WhatsApp; documentos e filmagens obtidas”, lê-se na denúncia, assinada nessa segunda-feira.

De acordo com relatórios periciais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), foi demonstrada a atipicidade das transções realizadas. a Eldorado, por exemplo, adquiriu contratos de dólar nos dias 9 e 16 de maio no valor total de US$ 280 milhões, equivalente ao triplo de todo o lucro obtido pela empresa no ano anterior. As datas coincidem com o período entre a celebração do acordo de colaboração premiada, no início de maio, e a divulgação de seu teor, no dia 17.

Após a delação ser tornada pública, a moeda norte-americana teve alta expressiva: 9%, a maior elevação diária registrada em 14 anos. Isso rendeu ao delator quase R$ 70 milhões a partir de contratos negociados dias antes. O MPF determina que seja arbitrado o dano mínimo, no montante de R$ 69.408.960,00, correspondente ao ganho potencialmente obtido com a prática ilícita.

Mensagens de texto entre Wesley e funcionários, analisadas a partir da apreensão do telefone celular dele, comprovam que o empresário foi o mandante das operações. Esta não é a primeira vez que Wesley é acusado de insider trading. Os irmãos Batista já respondem pela prática do crime em outra ação penal, referente aos ganhos ilegais obtidos com a venda e a recompra de ações da JBS e com negociações de outros contratos de dólar na mesma época. Procurado pela Agência Brasil, o advogado do empresário Pierpaolo Bottini não foi encontrado.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895