MPF pede que STF analise suposta interferência de Bolsonaro em investigação sobre Milton Ribeiro

MPF pede que STF analise suposta interferência de Bolsonaro em investigação sobre Milton Ribeiro

Ex-ministro da Educação é suspeito de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência

R7

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O Ministério Público Federal (MPF) apontou possível interferência do presidente Jair Bolsonaro nas investigações sobre o caso do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e pediu para que fosse enviada parte dos autos ao Supremo Tribunal Federal (STF). A reportagem procurou o Palácio do Planalto e aguarda retorno. O juiz Renato Borelli, autor do mandado de prisão contra Ribeiro, atendeu ao pedido feito pelo MPF e o enviou ao STF. O caso será relatado pela ministra Cármen Lúcia, que deve acionar a Procuradoria-Geral da República para se manifestar, como de praxe.

De acordo com o documento, o procurador Anselmo Henrique Cordeiro Lopes pede que a investigação seja encaminhada à mais alta Corte do país de forma sigilosa para que seja apurada eventual ocorrência dos crimes de violação de sigilo funcional com dano à administração judiciária e favorecimento pessoal.

"Outrossim, nesta oportunidade, o MPF vem requerer que o auto circunstanciado nº 2/2022, bem como o arquivo de áudio do investigado Milton Ribeiro que aponta indício de vazamento da operação policial e possível interferência ilícita por parte do Presidente da República Jair Messias Bolsonaro nas investigações, sejam desentranhados dos autos e remetidos, de maneira apartada e sigilosa, ao Supremo Tribunal Federal, em respeito ao art. 102, I, b, da Constituição da República, a fim de que lá seja averiguada a possível ocorrência dos crimes de violação de sigilo funcional com dano à Administração Judiciária (art. 325, § 2º, do Código Penal) e favorecimento pessoal (art. 348 do Código Penal)", diz o procurador.

"Nesse ponto, destaque-se que a ausência de Milton Ribeiro perante a autoridade policial foi prejudicial ao livre desenvolvimento das investigações em curso, além de ferir a isonomia que deve existir no tratamento de todos os investigados", acrescenta o MP.

O delegado da Polícia Federal, Bruno Callandrini, que, à frente da Operação Acesso Pago, prendeu o ex-ministro, reclamou do tratamento dado ao ex-titular da pasta. Segundo o agente, tal tratamento atrapalhou as investigações.

Em um texto enviado aos colegas que participaram da operação, Callandrini critica o fato de Ribeiro não ter sido transferido para a superintendência da Polícia Federal em Brasília, como determinado inicialmente pela Justiça, e pondera que o ex-ministro "foi tratado com honrarias não existentes na lei".

A transcrição de áudios encontrados no celular do ex-ministro e anexados ao processo que corre na 15ª Vara Federal do Distrito Federal aponta que Ribeiro tinha medo de ser alvo de busca e apreensão da Polícia Federal.

O MPF destaca também indícios de "igual interferência" em relação ao tratamento dado pela Polícia Federal para Ribeiro, que "não foi conduzido ao Distrito Federal (não havendo sido tampouco levado a qualquer unidade penitenciária) para que pudesse ser pessoalmente interrogado pela autoridade policial que preside o inquérito policial, apesar da farta estrutura disponível para a locomoção de presos".

Prisão do ex-ministro

Ribeiro foi preso em Santos (SP) nessa quarta-feira na Operação Acesso Pago, da Polícia Federal, que apura tráfico de influência de pastores e corrupção para a liberação de recursos públicos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

Ao todo, foram cumpridos 13 mandados de busca e apreensão e cinco prisões em Goiás, São Paulo, Pará e no Distrito Federal. O mandado de prisão de Ribeiro cita que ele é suspeito de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência. Além dele, foram presos os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, apontados como lobistas que atuavam no gabinete paralelo do MEC.

No dia seguinte, quinta-feira (23), Ribeiro deixou a prisão em São Paulo. A autorização foi dada pelo desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal (TRF-1). A determinação também vale para os outros presos na operação: os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, o ex-assessor Helder Diego da Silva Bartolomeu e o advogado Luciano de Freitas Musse.


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