"Não estou aqui para ser advertido por outros países", responde Bolsonaro

"Não estou aqui para ser advertido por outros países", responde Bolsonaro

Bolsonaro rebate críticas de Merkel sobre ações em relação a desmatamento

AE

Bolsonaro disse que Brasil "tem exemplo para dar para a Alemanha"

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Ao desembarcar nesta quinta-feira, em Osaka, no Japão, para o encontro do G-20, o presidente Jair Bolsonaro rebateu a chanceler alemã, Angela Merkel, e disse que o Brasil "tem exemplo para dar para a Alemanha" sobre meio ambiente. Na quarta-feira, Merkel disse ver com grande preocupação as ações de Bolsonaro sobre o desmatamento no País.

"O presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores, que vieram aqui para ser advertidos por outros países, não. A situação aqui é de respeito para com o Brasil. Não aceitaremos tratamento no passado como alguns chefes de Estado tiveram aqui", disse Bolsonaro a jornalistas na chegada ao hotel onde irá se hospedar pelos próximos dois dias.

Visivelmente cansado e irritado, Bolsonaro culpou a imprensa ao comentar a fala de Merkel. "Eu vi o que está escrito e, lamentavelmente, em grande parte o que a imprensa escreve não é aquilo", disse. Advertido por um jornalista que as observações de Merkel foram publicadas pela imprensa estrangeira, e não brasileira, Bolsonaro respondeu: "Não interessa que foi alemã, e deixa eu terminar o raciocínio. Então tem que fazer a devida filtragem pra não se deixar contaminar por parte da mídia escrita, especialmente".

O presidente disse que não vê "problema nenhum" em ser abordado por Merkel para falar sobre desmatamento. A chanceler descreveu como "dramática" a situação no Brasil e afirmou que pretende questionar Bolsonaro sobre o tema. "Nós temos exemplo para dar para a Alemanha sobre meio ambiente, a indústria deles continua sendo fóssil, em grande parte de carvão, e a nossa não. Então eles têm a aprender muito conosco", disse Bolsonaro.

Não há previsão de encontro oficial entre os dois durante o G-20 até o momento. O presidente encerrou o encontro com jornalistas no meio da entrevista, após dois minutos de conversa.

Antes, deu respostas curtas a perguntas sobre a participação do Brasil na reunião das 20 maiores economias do mundo. "Vamos ouvir e falar", disse Bolsonaro sobre o G-20. Questionado sobre o que pretende dizer, Bolsonaro devolveu a pergunta a um jornalista: "O que você quer que eu fale?".

Na sequência, o presidente brasileiro disse que irá falar sobre indústria, internet e meio ambiente. Na programação do G-20 há previsão de que ele se manifeste duas vezes: a primeira em um pronunciamento de 5 minutos e a segunda, de 3 minutos. "Tudo o que estiver na pauta nós falaremos, bem como se formos questionados por alguma coisa temos certeza que estamos prontos para resolver", afirmou Bolsonaro.

Reuniões paralelas

O presidente terá ainda sete reuniões bilaterais, incluindo encontros com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e com o líder chinês, Xi Jinping. Questionado sobre o tema do encontro com Trump, Bolsonaro se limitou a responder que "se é reservada (a conversa), é reservada". O encontro acontecerá na sexta-feira, e será o segundo do brasileiro com Trump.

Na campanha eleitoral, Bolsonaro criticou a relação comercial do Brasil com a China. Em março, nos jardins da Casa Branca, o brasileiro mostrou alinhamento total de seu governo às políticas de Trump e evitou tomar lado na guerra comercial travada entre o presidente dos EUA e a China - um dos principais temas que o mundo observa com atenção em Osaka. Trump e Xi devem se encontrar no sábado para mostrar em que pé estão as negociações entre os dois países. O resultado terá poder para encerrar ou para intensificar a escalada de tarifas dos dois lados.

Ao chegar no Japão, Bolsonaro disse que o Brasil não tem lado na disputa e que está buscando "harmonia", apesar de reconhecer que o País se beneficiou com a exportação de commodities no cenário de guerra comercial entre os dois países. "Não (tem lado), lógico que os produtos da China para os Estados Unidos e para cá em parte interessam ao Brasil, porque tem a questão de commodities. Então obviamente a gente não quer que haja briga para gente poder se aproveitar. A gente está buscando paz e harmonia, como estamos trabalhando no caso do Mercosul e na União Europeia", disse.

O ceticismo de Bolsonaro sobre o investimento chinês no Brasil foi explorado na edição especial do jornal The Japan Times sobre o G-20. A publicação traz um pequeno perfil com foto dos líderes que se encontrarão na cidade a partir de sexta.

39 quilos

Após a curta entrevista, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, justificou, por duas vezes, o comportamento de Bolsonaro com jornalistas. "Irritação é porque ele acabou de chegar aqui e tem que descansar para amanhã já estar disposto para cooperar no G-20 e no Brics, para que todos os países que aqui estejam tenham oportunidade de sair daqui com coisas que realmente sejam palpáveis", afirmou.

Coube ao porta-voz comentar a prisão do segundo-sargento da Aeronáutica, Manoel Silva Rodrigues. Na terça-feira, o sargento foi detido em Sevilha, na Espanha, ao chegar ao país com 39 quilos de cocaína em sua bagagem pessoal, em um avião da FAB. "O presidente, o Ministério da Defesa, o comando da Força Aérea não admitem em hipótese nenhuma procedimentos desse tipo com relação a seus recursos humanos e desejam que o mais rápido possível isso seja aclarado e a pessoa seja punida devidamente dentro dos trâmites legais", disse o porta-voz.

Rêgo Barros afirmou que um inquérito policial militar vai verificar se houve falha nos procedimentos de segurança. O porta-voz também negou que a prisão seja a razão para a mudança na escala do voo ao Japão, inicialmente previsto para parar em Sevilha. "Não. Foi uma questão técnica, avaliada pelo comando da força aérea junto com o gabinete de segurança institucional, a mudança de Sevilha para Lisboa", afirmou o porta-voz. Nesta quinta-feira, o único compromisso de Bolsonaro em Osaka é um jantar privado.


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