Não existe nada de científico em fechar o comércio, diz líder da bancada gaúcha na Câmara

Em entrevista ao Correio do Povo, o deputado federal Giovani Cherini (PL), líder da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados, confirma a pressão sobre o governador Eduardo Leite e o prefeito Nelson Marchezan Júnior para que adotem o chamado kit Covid, faz uma defesa ardorosa de medicamentos descartados em pesquisas internacionais e contesta a forma de tratamento em vigor no Estado. Leia os principais trechos.

Correio do Povo: Deputado, o senhor não considera perigoso defender o tratamento precoce com o chamado kit Covid quando não há evidência científica de que os medicamentos que o compõe tenham qualquer eficácia no combate à Covid-19?

Giovani Cherini: Mas é porque não estão tratando as pessoas na fase inicial, que é até o sétimo dia depois do aparecimento dos sintomas. Infelizmente, no RS, por exemplo, na linha de frente do combate ao coronavírus, estão pessoas muito vinculadas politicamente, e que por isso ainda questionam a cloroquina. Tem que tratar antes. Um médico que recebe um paciente no hospital, ele vai dizer que a cloroquina não funciona. Mas por que não funciona? Porque este paciente já está na segunda fase da doença. Por isto que é preciso fazer um trabalho com os médicos que estão em postos de saúde, na atenção básica. Ali é a hora de tratar o paciente covid, mesmo sem o resultado do exame. Olha o que aconteceu com o ex-prefeito de Fontoura Xavier. Ele era meu candidato à prefeitura novamente. Ele foi ao médico na quarta-feira, deram dipirona e paracetamol, e mandaram esperar o resultado do exame. E ele ruim, com dor no corpo, gripe. Aí no sábado veio o resultado do exame. Deu negativo para o coronavírus. Até porque 40% dos exames dá falso resultado. Então ele continuou tomando dipirona e paracetamol. No domingo ele passou mal, foi para o hospital, na segunda foi intubado, na semana passada foi enterrado. Para nenhuma doença, a não ser doença do coração, existe remédio randomizado tipo A, que é o que infelizmente alguns defendem aí no RS, principalmente para justificar que a cloroquina não funciona. Eu sempre digo que caixão não vem randomizado. Tem que tratar a partir da experiência dos médicos que estão atendendo os pacientes antes de eles chegarem ao hospital. É o segredo desta doença: tratar de forma precoce. Esta é a minha pressão em cima do governador Eduardo Leite e do prefeito Marchezan.

CP: O senhor está dizendo que os tratamentos utilizados hoje estão equivocados?

Cherini: Infelizmente o governador e o prefeito, eles estão com muitos médicos importantes, mas todos infectologistas, e que estão lá dentro do hospital, recebendo os pacientes já na segunda, na terceira fase da doença, e que não estão ouvindo estes médicos que estão tratando os pacientes com protocolos que já tem no Piauí, no Amapá, em Manaus, no Pará, em São Paulo. Protocolos que dizem que toda a doença que for tratada de forma tardia não tem remédio que tenha eficácia. Eu defendo que os prefeitos, que o governador, valorizem estes protocolos, anunciem estes protocolos, para que todos os médicos se sintam mais seguros para indicar. Eu recebo muitas denúncias. Por exemplo: Passo Fundo. Não indicou o protocolo da cloroquina porque os médicos tinham medo, porque até o Tribunal de Contas (TCE/RS) ameaçou. Nunca vi um Tribunal de Contas ameaçar prefeitos que indicassem, que comprassem esses medicamentos, que poderiam ser glosados. Isso é a coisa mais política que tem no planeta terra. O TCE do RS discutindo remédio. Quem discute remédio é o médico. Agora o gestor pode disponibilizar os remédios que estão no protocolo e que o Ministério da Saúde está indicando. Que são ivermectina, cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, zinco e mais alguns. E para o tratamento precoce. Como é que se evita o respirador e a UTI? Tratando o paciente de forma precoce. E tem protocolo para isso. Só basta que o gestor, que o político, vá para a imprensa e diga. Por que Gramado tem um índice baixíssimo de doentes em UTIs? Porque lá tem um médico que está tratando paciente de forma precoce. Já leva em casa leva o kit Covid, que está em todo o Brasil. Só está faltando o nosso governador e o prefeito de Porto Alegre. Estou insistindo de forma democrática porque temos hoje dois terços da nossa bancada que defende isso.

CP: Foi para isto que o senhor articulou a reunião de ontem?

Cherini: Quem articulou a reunião de ontem foi o presidente da Assembleia, o deputado Ernani Polo (PP). Ele é um agregador e ele e eu estamos preocupados com esse negócio do abre e fecha do comércio. E todo mundo sabe que o que está relaxando para proliferar o vírus são as casas, as famílias. As lojas estão todas com protocolos, entrando pouca gente de cada vez, com distanciamento, com isolamento, sem aglomeração. O problema não está mais no comércio, está nas famílias.

CP: O senhor recebeu alguma sinalização positiva do governador?

Cherini: Eu senti muita firmeza no governador, até porque está querendo mudar o sistema, e acho que a estratégia dele vai ser correta de novo. Precisa diminuir o número de pessoas na UTI, então precisa é um novo programa do governo, que é o tratamento precoce da doença, sendo que nós temos condições, e o Ministério da Saúde dá condições para isso. O ministro me disse que o ministério vai dar todos os testes e todos os remédios que forem necessários.

CP: E por que não disponibilizou os testes ainda?

Cherini: Mas vai disponibilizar. Está chegando uma quantidade enorme de testes. A secretária Arita (da Saúde) está tendo aí milhares de testes. Só que o teste não é seguro, 40% deles são falsos negativos, todos os testes, inclusive esse do nariz aí.

CP: Deputado, se, como o senhor diz, 40% dos testes podem dar falso resultado, como propor substituir as restrições pela testagem em massa?

Cherini: Não é só o teste. Se não fizer o teste, faz o tratamento precoce. Para salvar vidas. É profilático. Hoje temos uns mil protocolos com a ivermectina, por exemplo. E as pessoas estão se automedicando, porque todo mundo quer se salvar. Não é que a gente está indicando sem receita. É que ivermectina não precisa de receita para comprar na farmácia. Eu liguei para o meu médico para saber se devia ou não tomar ivermectina. E ele respondeu que já tinha tomado, que o pai dele já tinha tomado, e que os filhos dele já tinham tomado. Então eu também já tomei.

CP: O senhor defende tomar ivermectina para evitar o contágio? Ou para tentar evitar que a doença se desenvolva em caso de contágio?

Cherini: Aí o médico é que vai dar o tratamento. Sabemos hoje que há tratamento com ivermectina em muitos lugares. Na Índia, na África, no Pará. É como uma mensagem que eu recebi de um médico de Itaqui. ‘Cherini, tu tens toda a razão. É preferível até a pessoa ter uma intoxicação de remédio e ficar viva do que ficar esperando um remédio cientificamente randomizado e ir para o caixão.’ Porque o que temos hoje são experiências e algumas evidências científicas. Não vamos ter conhecimento científico durante a pandemia. E vamos deixar de experimentar os remédios? A população corre atrás.

CP: O governador ficou de dar uma resposta?

Cherini: Sim, após a reunião do comitê realizada pela manhã. Ficou de dar uma resposta em algumas horas. Sobre o tratamento precoce. Levou para o Comitê de Crise. Mas a gente vai continuar pressionando porque sabemos que isso vai salvar vidas, e vai salvar o comércio e os negócios. Não existe nada de científico neste abre e fecha. Ora, se não existe nada de científico nisto de fechar o comércio, por que não se experimenta também o tratamento precoce. Vamos experimentar os remédios que estão disponíveis no sistema, que se chama kit Covid, e que o Brasil inteiro está usando.

CP: E a carta?

Cherini: A presidente da Federasul, a Simone Leite, deve entregar a carta hoje. Ela é uma carta dos empresários, apoiada por políticos. Eu assinei em nome de um grupo de deputados que apoiam, devido a nossa dificuldade de colher as assinaturas de todos, mas todos os federais que apoiam vão estar nominados.

CP: Se estes medicamentos funcionam, por que não foram adotados ainda para acabar com a doença no mundo inteiro?

Cherini: Todo o mundo hoje está buscando este tratamento. Hoje as indicações do mundo inteiro são de que a solução para o vírus é tratar de forma precoce. As pessoas que estão morrendo, a grande maioria, elas não estão morrendo do vírus, elas estão morrendo com o vírus. Porque é uma doença que se soma a outras doenças e somos um país de muita gente doente.