Na CPI, Araújo se esquiva de perguntas e descarta conflitos políticos com a China

Na CPI, Araújo se esquiva de perguntas e descarta conflitos políticos com a China

Ex-chanceler disse que governo não criou documento único de combate à pandemia e que Itamaraty muitas vezes agia sob orientação do Ministério da Saúde

Correio do Povo, AE e R7

Ernesto Araújo esteve hoje prestando depoimento à CPI Da Covid, no Senado

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O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, encerrou o seu depoimento à CPI da Covid, do Senado, na tarde desta terça-feira, falando sobre a sua atuação enquanto estava no governo de Jair Bolsonaro, em meio à pandemia. A sessão foi marcada por algumas discussões, acusações e revelações, que fizeram com que Araújo se esquivasse de muitas perguntas sobre vacinas, insumos e conflitos políticos com a China.

Ao ser questionado sobre as críticas feitas por Bolsonaro em relação às vacinas contra a Covid-19, o ex-chanceler repetiu a fórmula usada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. Araújo ainda descartou que os atrasos para importação ao Brasil de insumos vindos da China aconteçam por razões políticas.

"As alegações de que haveria uma negativa do governo chinês de permitir o fornecimento de vacinas ou insumos por razões políticas pressupõe algo que eu acredito que o governo chinês não é capaz: de negar vacinas que podem salvar vidas por causa de uma interferência política", afirmou Araújo durante depoimento. "Isso pressupõe uma imagem ruim da China com a qual eu não concordo e não temos indício nenhum de que tenha havido essa interferência política".

"Comunavírus"

Ele também afirmou que é falsa a informação de que foi um dos responsáveis por criar atrito com a China, principal fornecedora de insumos para a fabricação de vacinas no Brasil. "Eu não entendo nenhuma declaração que tenha feito como antichinesa", disse, quando foi questionado sobre o termo "comunavírus",usado por ele no início da crise sanitária. Araújo disse que um artigo que escreveu em abril de 2020, intitulado comunavírus, não se referia ao coronavírus, mas sim à concepção ideológica comunista, difundida não apenas na China, mas em vários países. 

Crise em Manaus

Sobre a crise que assolou a cidade de Manaus no início deste ano, Araújo afirmou na CPI da Covid, que o governo do Amazonas não forneceu dados necessários para o envio de oxigênio com o uso de um avião dos Estados Unidos específico para este fim. "Contatamos o governo do Amazonas, (para saber) que tipo de cilindro, especificações mínimas. Passaram-se dois 3 dias, acabou não viabilizando", disse. O R7 procurou o governo do Amazonas e aguarda possível manifestação sobre as afirmações de Araújo.

Questionado pelo deputado federal Randolfe Rodrigues (Rede-AP) sobre o envio de cilindros de oxigênio pela Venezuela, ele respondeu tratar-se de uma doação e que, portanto, não foi necessária qualquer intervenção do governo.

O ex-chanceler revelou que não conversou com ninguém na Venezuela sobre o envio de oxigênio e contou que sequer agradeceu à nação vizinha pelo insumo enviado no momento mais grave da pandemia no Amazonas.

Cloroquina 

Araújo confirmou sua atuação à frente do Ministério das Relações Exteriores na importação de insumos da Índia necessários para a produção da cloroquina. Ele defendeu o trabalho da pasta neste caso dizendo que com a alta procura do fármaco, "um remédio muito importante que tenha seu estoque preservado", foi necessário garantir a reserva do medicamento. 

Plano na pandemia

Mais cedo, o ex-chanceler disse que não havia um "documento único" com orientações para medidas de combate à pandemia e frisou diversas vezes que o Itamaraty agia sob os comandos do Ministério da Saúde, de onde surgiam as orientações.

"O fato de não ter havido um documento, orientação geral, não quer dizer que tenha havido improviso", respondeu Araújo, que disse não lembrar de divergências entre o Itamaraty e a Presidência. "Me reunia uma vez por semana com o presidente. Tive vários encontros com Mandetta, Teich e Pazuello", acrescentou, numa referência a ex-ministros da Saúde.

Acusação

O ex-ministro afirmou que falou a verdade quando acusou a senadora Kátia Abreu (PP-TO) de o pressionar para que agisse a favor dos chineses na implantação da rede de internet 5G no Brasil, durante seus últimos dias à frente do Itamaraty. "Em referência que fiz ao comportamento de Kátia Abreu, eu apenas disse a verdade, relatei um fato. Jamais vou me arrepender de dizer a verdade", disse, ao ser perguntado pelo senador Ângelo Coronel (PSDB-BA) se não gostaria de se retratar pela acusação. 

Kátia Abreu negou as acusações, chamou o ministro de "marginal" e pediu pela saída de Ernesto Araújo. O ataque tornou a situação de Araújo insustentável e ele acabou pedindo demissão do cargo pouco após a polêmica. 

Depois da fala, ele foi cobrado pela líder da bancada feminina no Senado, a senadora Simone Tebet (MS-PSDB). "Se Vossa Senhoria não tem provas do que disse, Vossa Senhoria agrediu, alegando à uma senadora respeitada, de credibilidade, como a senadora Kátia Abreu, um crime que ela – tenho certeza que não cometeu – de tráfico de influência", acusou. 

Tebet também pediu ao ex-ministro para voltar a confirmar a acusação. Senadores governistas protestaram contra a pergunta, mas Araújo se dispôs a falar: "Esse tema já está judicializado, e as testemunhas falarão em juízo para esclarecimento desse tema". 

Saída do cargo

Araújo ainda tentou amenizar o tom das críticas que dirigiu ao governo Bolsonaro um mês após sair do posto de chanceler. Numa série de mensagens publicadas no Twitter, o ex-ministro afirmou que a gestão perdeu a "alma" e o "ideal". Ao ser questionado por Alencar se considerava o governo "desalmado", Araújo negou. Para ele, o que ocorreu foi um desgaste do "impulso de transformação". 


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