Na CPI, Dominguetti vira alvo de desconfiança, apreensão de celular e ameaça de prisão

Na CPI, Dominguetti vira alvo de desconfiança, apreensão de celular e ameaça de prisão

Depois de empresário mostrar áudio, parlamentares falaram em "testemunha plantada"

Correio do Povo

Depois de empresário mostrar áudio, parlamentares falaram em "testemunha plantada"

publicidade

Com depoimento antecipado, o empresário e policial Luiz Paulo Dominguetti depôs, acompanhado de seu advogado, nesta quinta-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado Federal. A sessão foi marcada por tumulto após a exibição de um áudio citando o deputado Luís Miranda (DEM), apressão de telefone, teoria de "testemunha plantada" e pedido de prisão. 

Dominguetti é representante comercial da Davati Medical Supply e foi convocado para explicar o pedido de propina que teria ouvido de integrantes do Ministério de Saúde quando tentou negociar a venda de 400 milhões de doses da vacina Astrazeneca. A denúncia foi feita originalmente ao jornal Folha de S.Paulo.

O áudio mostrado na CPI apresentava uma suposta negociação do deputado Luís Miranda, que já depôs na CPI, de compra das vacinas pela empresa Davati. A apresentação da gravação causou conflito e fez com que Miranda se dirigisse à sala onde ocorre o depoimento para conversar com o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM). A Mesa da comissão decidiu apreender o telefone celular de Dominguetti após a divulgação da conversa.

Na sequência da entrada de Miranda na sessão de hoje, Aziz afirmou que o deputado teria negado que o áudio apresentado por Dominguetti tenha relação com a compra de vacinas. "Fiz questão de chamar outros senadores para ouvirem a conversa e ele (Luís Miranda) afirmou que a conversa ocorreu em 2020, antes da negociação de imunizantes pelo governo federal", disse Aziz. Horas depois, o deputado apresentou uma ata registrada em cartório que contém a transcrição de um conversa que teve no WhatsApp com Rafael Alves.

“Por rara coincidência, eu nunca deleto nada do meu telefone. E essa conversa se trata sobre a minha empresa nos Estados Unidos numa intermediação de aquisição de luvas. O áudio é enviado ao senhor Rafael Alves no dia 15 de outubro de 2020, não existia nem vacinas a disposição para serem vendidas", disse Miranda.

"Testemunha plantada"

A partir do tumulto em função do áudio apresentado, senadores começaram a discutir sobre possibilidade de "testemunha plantada". O primeiro a fazer a afirmação foi o senador Fabiano Contarato (Rede-ES). Por conta da desconfiança, Dominguetti teve o celular apreendido pela Mesa da CPI, que decidiu analisar o aparelho para saber mais detalhes do áudio apresentado.

Na gravação, Luís Miranda afirma representar um vendedor e pergunta se o interlocutor, não identificado, pode provar que tem o "produto". Pouco depois da apresentação do áudio, o próprio deputado Luís Miranda (DEM) afirmou que a conversa foi mostrada fora de contexto, teria ocorrido antes das negociações por compra de vacinas por parte do governo federal e se tratava, na verdade, de uma tentativa de aquisição de luvas.

O celular do depoente passou pela perícia da polícia legislativa.

Pedido de prisão

A exibição do áudio que mostra conversa do deputado Luís Miranda (DEM) provocou vários pedidos de senadores para que o policial Luiz Paulo Dominguetti seja preso por ordem da CPI da Covid. Contudo, o presidente da comissão, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que não irá ordenar a prisão do depoente, que se apresentou como representante da Davati Medical Supply e diz ter recebido proposta de propina do ex-diretor de Logística em Saúde da pasta, Roberto Ferreira Dias.

Aziz citou que não ordenaria a detenção de Dominguetti apenas em respeito à família do policial e classificou como grave a atuação dele frente à CPI.

Reconhecimento

O policial Luiz Paulo Dominguetti disse ser possível que o "empresário" que estaria no encontro onde recebeu a oferta de propina seja Alexandre Martinelli Cerqueira, exonerado em janeiro do cargo de subsecretário de Assuntos Administrativos do Ministério da Saúde. O reconhecimento se deu após o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) apresentar uma foto de Martinelli.

Dominguetti afirmou acreditar que ele possa ser o empresário que estava junto do tenente-coronel Marcelo Blanco e do ex-diretor de Logística em Saúde da pasta, Roberto Ferreira Dias, durante o jantar.

Dominguetti ressalvou, no entanto, que precisaria vê-lo pessoalmente para ter total certeza de que se trataria de Martinelli.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895