Na forma de PL, projeto do magistério precisa de menos votos para aprovação

Na forma de PL, projeto do magistério precisa de menos votos para aprovação

Texto revoga ou altera 24 artigos do Plano de Carreira e elimina, em partes ou na íntegra, outras 27 leis

Flavia Bemfica

Projeto relacionado ao magistério precisa de menos votos para a aprovação

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Categoria que vem sendo apontada por parlamentares e entidades de servidores como a mais atingida pelo pacote de reformas administrativa e previdenciária do Estado, o magistério estadual promete greve a partir desta segunda-feira, como parte de sua estratégia contra as mudanças. A efetividade da mobilização e as consequências sobre o capital político do governador Eduardo Leite (PSDB) só serão conhecidas em parte no decorrer das próximas semanas. Mas os números disponibilizados no Portal da Transparência e nos projetos confirmam as projeções que vem sendo feitas por deputados e integrantes dos grupos de trabalho montados nas bancadas para analisar os textos. De que eles trazem mudanças complexas nas carreiras da educação, dificultam as promoções e não preveem alterações que possam atender as solicitações históricas do magistério por melhores salários ou a chegada ao patamar de outra área essencial e numerosa, a da segurança, que conseguiu obter ganhos reais significativos nas remunerações durante as duas administrações estaduais anteriores.

O magistério é alcançado em outros dos oito projetos que compõem o pacote do Executivo, mas objeto específico de um, o projeto de lei (PL) 507/2019, que, principalmente, altera seu Estatuto e Plano de Carreira (a lei 6.672/74). É o único PL do pacote, que tem ainda uma proposta de emenda à Constituição (PEC) e seis projetos de lei complementar (PLCs). Um problema a mais para os professores. Conforme lembrado pelo próprio governador durante o anúncio do envio dos projetos ao Legislativo, enquanto uma PEC precisa obter 33 votos favoráveis (três quintos dos 55 votos do Parlamento), em dois turnos, para ser aprovada, e um PLC necessita de 28 votos (maioria absoluta entre os 55), um PL pode passar em Plenário por maioria simples. Isso significa que, em havendo o quórum mínimo para votação (28 deputados), se a maioria dos presentes votar sim, o projeto é aprovado.

O foco do PL 507 é o plano de carreira estabelecido na lei 6.672, de 1974, que o governo argumenta ter se tornado arcaica a partir das mudanças ocorridas ao longo das últimas quase cinco décadas. Da 6.672 são revogados oito artigos (25, 31, 32, 64, 65, 66, 69 e 108) e alterados ou emendados outros 16 (4º, 7º, 13, 17, 23, 26, 29, 56, 63, 70, 96, 116, 117, 118, 119, 154). Nos anexos, o PL traz ainda o estabelecimento de mais 18 artigos. A mudança não se limita, contudo, à lei 6.672. O projeto também revoga total ou parcialmente outras 27 leis, sendo uma dos anos 60, duas da década de 70, seis dos anos 80, sete dos 90, quatro sancionadas entre 2001 e 2009 e sete datadas no período entre 2010 e 2015.

Educação responde por 29,85% da folha, mas tem 61,36% dos vínculos 

Os professores argumentam que as propostas do Executivo promovem um rebaixamento em definitivo dos salários, em função, entre outros pontos, do fim dos triênios, das alterações em gratificações e adicionais e da manutenção de uma remuneração média baixa, combinada com uma diferença pequena entre a remuneração inicial e a final fixadas, o que aumentaria também a distância já existente de outras carreiras. O Executivo rebate que o principal pleito do magistério, de aplicação do atual plano de carreira sobre o piso nacional, é impossível de ser atendido, porque acarretaria custo extra que projeta em R$ 6 bilhões/ano. Apesar de admitir que os salários não são altos, justifica que o fato de a categoria ser a mais numerosa impacta fortemente as contas do Estado como um todo, obrigando as adequações.

Conforme os dados do Portal da Transparência, em agosto a Secretaria da Educação respondeu por 29,85% (R$ 564.044.219,00) dos R$ 1.889.877.946,00 despendidos com a folha geral (todos os poderes). Individualmente, é o maior percentual. Em seguida vem a Brigada Militar: 23,37% (R$ 441.666.964,00). Se a comparação for por áreas, contudo, a Segurança fica à frente, já que sua folha se desdobra em seis: Secretaria da Segurança, Susepe, BM, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil e IGP. As seis somaram 38,98% do gasto mensal com a folha (R$ 736.845.250,00). As diferenças salariais são observadas na comparação entre o gasto com a folha e o número total de vínculos. A Educação, que tem 186.514 vínculos (61,36% do total), responde por 29,85% da despesa. A Segurança tem 67.353 vínculos (22,15% do total, sendo 14,31% na BM) e 38,98% da despesa.

Entidade argumenta que, na BM, pagamento por subsídio vai reduzir médias remuneratórias 

Nas reuniões e planejamentos de ações contra o pacote do governo, os representantes do magistério não querem focar nas diferenças salariais entre as áreas da Educação e da Segurança por dois motivos: porque avaliam que os integrantes das carreiras da segurança são aliados importantes no embate com o Executivo e porque consideram que os reajustes concedidos a estas categorias foram uma medida justa no sentido da valorização dos servidores, apesar de existirem distorções.

Em comum, o projeto específico para o magistério e o projeto de lei complementar (PLC) 506, que trata de mudanças para integrantes da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros, estabelecem o pagamento por subsídios. Mas, apesar de no caso dos servidores militares, a alteração para subsídio ter sido anunciada pelo governo como feita em atendimento a uma demanda antiga dos servidores, o que é fato, o formato previsto no texto enfrenta forte resistência das corporações.

A Associação dos Oficiais da BM já divulgou nota na qual destaca que a proposta de conceder o subsídio traz embutida a redução significativa dos valores das médias remuneratórias e a aceitação, por parte dos militares, de regras estaduais para sua previdência que julgam inconstitucionais e que contrariam o projeto de lei federal (PL) 1.645/2019. Levantamento atualizado em maio pelo governo estadual aponta que, na BM, a média salarial de soldados de 1ª classe (a menor patente) é de pouco mais de R$ 6 mil. Entre coronéis, ela alcança R$ 34,5 mil.

O 1.645 é o projeto da reforma da previdência dos integrantes das Forças Armadas, cujas mudanças devem ser estendidas a policiais militares e bombeiros nos estados, que prevê regras diferentes daquelas da reforma geral da previdência, e que está em tramitação na Câmara dos Deputados.


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