Nas prévias do PSDB, Leite e Doria fazem campanha acirrada

Nas prévias do PSDB, Leite e Doria fazem campanha acirrada

A 10 dias das prévias para presidência de 22, governadores trocam farpas, cavam dissidências e anunciam benesses em série

Flavia Bemfica

Leite e Dória, que disputam as prévias do PSDB, em almoço em 2019

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A 10 dias das prévias que indicarão o pré-candidato do PSDB à presidência da República em 2022, a disputa interna entre o governador Eduardo Leite e seu colega paulista, João Doria, vem ganhando todos os ingredientes, positivos ou não, que caracterizam os pleitos muito acirrados. Ao longo do mês de outubro e nestes primeiros dias de novembro, os governadores intensificaram uma sucessão de anúncios de ‘bondades’ e de liberação de recursos para diferentes áreas em seus estados. Na prática, há uma incógnita sobre se a maior parte deles vai se tornar realidade. Mas, neste momento, entram na lista de realizações que ambos vendem nas campanhas pelos votos dos correligionários no próximo dia 21 de novembro.

Aos anúncios, se soma a intensificação de viagens a outros estados, na busca de todos os votos que possam ser amealhados em diferentes diretórios tucanos. Inclusive, depois de uma série de incursões de Leite em território paulista, em busca de dissidentes no maior diretório do país, na próxima semana é Doria quem vem fazer campanha no RS.

Como forma de mostrarem que têm estatura para liderar o país e estão atentos aos grandes debates mundiais, Leite e Doria também estenderam as agendas a roteiros internacionais. Em plena campanha de prévias, eles integraram a lista de governadores que foi à Escócia para participar da 26ª Conferência das Nações Unidas Para a Mudança do Clima (COP26).

A corrida, contudo, não desencadeou apenas uma enxurrada de anúncios e viagens. Doria e Leite mantêm um clima de cordialidade em encontros e debates mas, nos bastidores, são comuns trocas de acusações, ironias sobre ações e o perfil de cada um, provocações, e um mapeamento detalhista sobre como ‘cavar’ dissidências em redutos do adversário. Nele, expoentes locais e mesmo filiados sem mandatos passaram a ser tratados como lideranças expressivas.

Briga por apoios se destaca nas redes sociais

Como era esperado, as redes sociais servem de termômetro da diferença entre a postura educada dos eventos públicos e o tom adotado internamente por João Doria e Eduardo Leite na disputa para as prévias do PSDB. No twitter, por exemplo, os dois governadores mantêm seus perfis oficiais como chefes de Executivo, onde as prévias e os apoios conquistados aparecem em meio a sucessão de postagens sobre temas e atividades diversas. A escalada no tom dos concorrentes, porém, acontece mesmo no @psdbcomdoria e no @tucanosporel.

É no @psdbcomdoria que estão vídeos gravados pela ex-governadora gaúcha Yeda Crusius e pelo prefeito de Vacaria, Amadeu Boeira, abrindo o voto no paulista. A declaração do deputado federal Danilo Forte, do Ceará, reduto do senador Tasso Jereissati, padrinho da campanha de Leite, garantindo que escolheu Doria. A comemoração do apoio da senadora Mara Gabrilli, que vinha sendo disputada pelos dois candidatos. Cards com a imagem e uma frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso dizendo que é de Doria ‘que o Brasil precisa.’ Um tweet lamentando o ‘ódio travestido de diálogo’ e a reprodução de notícia sobre a invasão de um grupo de whatsapp da campanha do paulista por um ex-funcionário do gabinete do governador gaúcho, e sobre a veiculação de cards apócrifos para prejudicar a campanha de Doria.

No @tucanosporel está a comemoração por conquistas pulverizadas em São Paulo e pela declaração de voto do agora ex-secretário de Habitação da capital paulista, Orlando Faria, exonerado após anunciar apoio a Leite. O vídeo do ex-governador do Paraná, Beto Richa, que também era disputado por Doria, anunciando o voto no gaúcho. Os cards destacando que o voto é secreto e inviolável e que os correligionários podem votar ‘sem medo’. A reprodução de uma lista de whatsapp com pessoas pedindo para serem excluídas de um grupo com propaganda de Doria. Declarações de Leite exaltando sua inspiração em lideranças históricas do PSDB, como Franco Montoro. Os parabéns do gaúcho pelo aniversário do ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, antes padrinho e hoje inimigo político do atual governador paulista.

Entre nomes de peso do ‘tucanato’, João Doria tem o apoio público do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, colheu a dissidência do deputado federal Domingos Sávio no diretório mineiro, controlado pelo deputado federal Aécio Neves e, no RS, a da ex-governadora Yeda Crusius, que está à frente do PSDB Mulher.

Eduardo Leite, por sua vez, reuniu uma trinca forte que tem em comum, entre outros pontos, a rejeição declarada a Doria: além de Aécio em Minas, o senador Tasso Jereissati (ele se licenciou do mandato no final de outubro para reforçar a campanha do gaúcho) e o ex-governador paulista Geraldo Alckmin.

Nos últimos dias, porém, o tema Alckmin vem sendo considerado ‘delicado’ no ninho tucano. O ex-governador, que auxilia Leite a obter votos entre correligionários em São Paulo, onde o diretório é dominado por Doria, anunciou que estava deixando o PSDB, mas até agora não saiu, e a possibilidade de que vote nas prévias para só depois trocar de partido gera desconforto internamente. O incômodo aumentou após começarem a proliferar notas sobre conversas de Alckmin com o ex-presidente Lula (PT) para a composição de uma chapa presidencial em 22.


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