Os números do coronavírus que assustam o Rio Grande do Sul

Os números do coronavírus que assustam o Rio Grande do Sul

A 20 dias do Natal, pandemia avança, desgasta governo Leite e já põe em xeque promessas de prefeitos eleitos

Flavia Bemfica

Eduardo Leite anunciou novas restrições com aumento de casos

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Há uma troca de cobranças entre diferentes núcleos do governo do Estado (político, técnico, econômico) em função da nova onda do coronavírus que atinge com força o RS, e a tensão se espalha entre aliados e parte dos prefeitos eleitos no último domingo. Porque, em pouco menos de quatro meses e depois de um intervalo de relaxamento nas medidas restritivas, o número total de casos de coronavírus, 337.003 neste 4 de dezembro, é mais de quatro vezes superior ao registrado no início de agosto.

E há mais de um dado sobre o número de ativos dentro do próprio material do governo. No boletim diário divulgado pelo Comitê de Dados na manhã desta sexta sobre o cenário da pandemia no Estado, são contabilizados 12.078 casos ativos no RS. Mas, no mapa preliminar de bandeiras divulgado no final da tarde o número é outro: 25.656*.

Situação do coronavírus no RS
  EM 6 DE AGOSTO EM 4 DE DEZEMBRO
Nº TOTAL DE CASOS 76.563 337.003
Nº DE CASOS ATIVOS 3.479 25.656*
Nº DE ÓBITOS 2.163  7.104

FONTE: DEE/SES/SEPLAG

A taxa de crescimento no RS em sete dias, na comparação entre estados do país, é de 1,26. Está empatada com a do Paraná como a segunda maior do Brasil e só perde para a de Santa Catarina. Está empatada com a do Paraná como a segunda maior do Brasil e só perde para a de Santa Catarina. No início da tarde da sexta, a poucas horas da divulgação da nova atualização de bandeiras, já havia o entendimento generalizado, mas que ainda não se tornou público, apesar de óbvio, de que, sem vacina, a tão sonhada retomada econômica não consegue se desvincular das consequências sanitárias. E não há, por enquanto, movimento visível do governador Eduardo Leite (PSDB) para aliados e apoiadores no sentido de buscar por conta própria o imunizante, como anunciam outros estados, a começar pelo do também tucano João Dória.

Em disputa aberta com o governo federal, Dória não só fechou acordo com a farmacêutica chinesa Sinovac para aquisição de doses prontas, insumos para fabricação no Instituto Butantan e transferência de tecnologia para a produção da vacina Coronavac, como, na quinta-feira, 3, prometeu começar a imunização da população de São Paulo em janeiro.

Transmissão ganha velocidade no Sul

Leite chegou a tratar do tema vacina com Dória durante viagem a São Paulo no início de outubro, e o Butantan confirmou o contato do governo gaúcho. No dia 23 de novembro, contudo, em coletiva, ao ser questionado sobre a possibilidade de compra direta, o governador gaúcho evitou uma resposta objetiva. “Se não houver a disponibilização das vacinas, se for o caso, faremos aquisição direta, mas tudo leva a crer que o governo federal cumprirá seu papel de articulador para aquisição e distribuição”, disse. Em seguida, o tucano reforçou que o governo mantinha os contatos para, se necessário, fazer suas aquisições. Mas novamente com ressalvas. “O Ministério da Saúde até agora não faltou. Não há motivo para entendermos que agora não haverá a mesma parceria.”

Passados 20 dias, apesar de uma sucessão de avanços pelo mundo em relação ao início das campanhas de vacinação, o RS segue em compasso de espera. O Executivo gaúcho não detalhou o que poderia ser o planejamento de aquisição direta de doses. E não há clareza sobre se considera satisfatório o plano prévio apresentado pelo Ministério da Saúde na última quarta, que prevê o começo da imunização somente em março e, por enquanto, não considera a coronavac. Na coletiva da última segunda-feira, 30, quando o Estado voltou a endurecer medidas de restrição para evitar aglomerações, Leite fez referência a números nacionais quando se referiu a vacina. “Não há como produzir 400 milhões de doses neste momento (o necessário para imunizar toda a população do país). Não há perspectiva de vacinação para todos antes do segundo semestre.”

Dentro do núcleo técnico do governo, o entendimento é de que, sem vacina, não há alternativa para barrar a aceleração do contágio e suas consequências fora das conhecidas medidas como a obrigatoriedade do uso de máscaras e as restrições ao convívio social e a aglomerações. “Há um esforço neste momento de abrandar os números para que as pessoas possam celebrar de alguma forma o Natal e o Ano Novo. Mas evidente que as celebrações e as características do verão tendem a gerar novos aumentos. Saímos das aglomerações da campanha eleitoral e seguimos para as das festas e férias”, resume um dos especialistas da estrutura de departamentos do governo que atua no enfrentamento à pandemia.

As preocupações começaram a se multiplicar também em meio ao núcleo político após uma sucessão de situações envolvendo lideranças que passaram ou ainda se recuperam de formas graves da doença, como os deputados Edson Brum e Osmar Terra, ambos do MDB, que precisaram de tratamento em Unidades de Terapia Intensiva. (UTIs). Na noite de quinta-feira, ao lamentar a morte da prefeita eleita de Santo Antônio das Missões, Izalca Bocaccio (Progressistas), em decorrência da Covid, o deputado federal Jerônimo Goergen (Progressistas), postou nas redes: “...descanse em paz querida Amiga e que os que não acreditam na força destruidora do vírus percebam a gravidade...É assustador o número de pessoas próximas a cada um de nós infectadas a cada dia...” A menos de 30 dias do início das novas administrações municipais, os aliados também estão receosos sobre promessas feitas em campanhas que correm o risco concreto de não serem cumpridas, como as de aberturas totais do comércio, turbinadas por comparações com outros lugares do mundo ou, a se confirmar o plano de Dória, até mesmo com outras partes do país.

É o caso de Porto Alegre, onde o prefeito eleito Sebastião Melo (MDB) adotou a estratégia de “ganhar tempo”. Melo passou a campanha assegurando que, a partir de 1º de janeiro, vai “abrir tudo”. Na quinta, contudo, assinalou que até janeiro as decisões são do prefeito atual e que um entendimento melhor será possível só depois do dia 20 deste mês, quando será possível saber se as medidas restritivas atuais fizeram efeito. Sobre vacina, o emedebista vem citando desde a campanha a possibilidade de formação de um consórcio na região Metropolitana. Internamente, contudo, interlocutores do prefeito eleito admitem que a proposta já nasceria “atrasada” frente à urgência da imunização.

Números têm crescimento visível em comparação entre agosto e dezembro

 


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