“Para mim a cogestão está terminada", diz Sebastião Melo

“Para mim a cogestão está terminada", diz Sebastião Melo

Prefeitos passaram a repetir que as restrições não funcionam sem a conscientização da população

Flavia Bemfica

Sebastião Melo foi um dos prefeitos que apoiou a flexibilização

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Na outra ponta, gestores que defendem a manutenção ampla de atividades e circulação aprimoraram o argumento utilizado durante todo 2020, o ‘a economia não pode parar’. O bordão acabou esvaziado após ter se tornado evidente que uma política eficiente de vacinação é o que solucionaria a questão. Agora, prefeitos que querem retomar o controle sobre a circulação e o funcionamento de atividades passaram a repetir que as restrições não funcionam sem a conscientização da população. O governador Eduardo Leite (PSDB) garantiu que a cogestão será retomada após o dia 21, sem prorrogações.

Parte dos executivos das cidades segue lembrando que o próprio governo se contradiz a respeito das restrições, já que, quando a pandemia já caminhava para seu pior momento no RS, não só manteve a perspectiva de início presencial do ano letivo como flexibilizou ainda mais as regras para a reabertura das escolas. E, na sequência, com os números fora de controle, mesmo assim recorreu, sem sucesso, até o Supremo Tribunal Federal (STF), para tentar reabrir parte das classes. Pedindo reserva, os mais críticos apontam a contradição em relação a educação como um indício de que o governador faz uma política do “morde e assopra” que também atrapalharia a gestão da pandemia. E que esta política já estaria sofrendo a influência do fato de Leite ter se colocado como pré-candidato à sucessão presidencial de 2022.

A puxar o coro dos descontentes está o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB). “Para mim a cogestão está terminada, na medida em que houve um rompimento unilateral dela por parte do governo. Se o governador retomar a cogestão, aqui em Porto Alegre teremos que tomar uma decisão se vamos querer participar dela ou não. Eu aderi à cogestão no entusiasmo de dividir responsabilidades. Mas adiar em uma semana e suspender na outra não é cogestão”, dispara Melo.

Adepto do “abrir tudo” que inclusive foi um dos pontos fortes de sua campanha ao Paço, Melo está entre os que defendem o que chama de fiscalização “colaboradora e orientativa”, com abertura geral do comércio e sem vetos a venda de itens não essenciais nos supermercados. Assegura que os estabelecimentos comerciais de todos os setores, com raras exceções, cumprem todos os protocolos sanitários. E que a administração municipal sempre impôs as devidas restrições sanitárias e a fiscalização adequada. Mas, questionado sobre a quantidade de pessoas sem máscara que segue circulando pelas ruas e parques mesmo na bandeira preta, responde de forma contraditória. “Não temos perna para fiscalizar todas as pessoas nas ruas. Não vai funcionar ficar multando pessoas em função do uso de máscaras. A pessoa tem consciência ou não.”

“Nossa discussão para reabrir é sobre segmentos que vemos como essenciais. O risco de contaminação em um supermercado é muito maior do que em uma loja de roupas se eu puder controlar a entrada de pessoas”, completa o prefeito de Parobé e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Paranhana (Ampara), Diego Picucha (PDT). Com uma argumentação bastante semelhante a de Melo, o pedetista também fala em necessidade de conscientização e diz que a prefeitura não tem condições de fiscalizar adequadamente o cumprimento das normas sanitárias. “Não há capacidade de fiscalização. Nem eu, nem a Brigada Militar, nem a Polícia Civil. Antes de uma lei, de um decreto, o que vale é a conscientização.”

A postura, conforme técnicos do governo que atuam na elaboração das normas, acaba por deixar clara a questão do engajamento que tanto preocupa o núcleo do governo que trata do colapso sanitário. Internamente, surpreende a dificuldade dos gestores em absorver o entendimento de que, independente da atividade, mais estabelecimentos em funcionamento significam maior circulação de pessoas e, por consequência, de vírus.


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