Pazuello culpa Pfizer sobre vacina e defende "responsabilidade coletiva" sobre colapso em Manaus

Pazuello culpa Pfizer sobre vacina e defende "responsabilidade coletiva" sobre colapso em Manaus

Pela primeira vez na comissão, ex-ministro ligou presidente Jair Bolsonaro à falta de assistência na saúde pública do Amazonas

Correio do Povo, AE e R7

Pela primeira vez na comissão, ex-ministro ligou presidente Jair Bolsonaro à falta de assistência na saúde pública do Amazonas

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Depois ter o depoimento suspenso na tarde de ontem, após passar mal, o ex-ministro da Saúde e general Eduardo Pazuello voltou ao Senado Federal, na manhã desta quinta-feira, para dar continuidade na sua declaração à CPI da Covid. A sessão de hoje, que encerrou por volta das 17h, após sete horas de questionamentos, também foi marcada, assim como ocorreu ontem, por acusações de mentiras, tentativa de blindagem do presidente Jair Bolsonaro e bate-boca entre os presentes na CPI. 

Na quinta-feira, o vice-presidente da CPI da Covid, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), protocolou um requerimento para quebra dos sigilos telefônico, fiscal, bancário e telemático do ex-ministro.

Colapso em Manaus

Em diversos momentos durante o depoimento, nesta quinta-feira Eduardo Pazuello eximiu sua culpa das supostas falhas de responsabilidade do governo federal no enfrentamento à pandemia. Entre elas a do desabastecimento de oxigênio no início do ano em Manaus. O depoente afirmou que a fornecedora de oxigênio teria responsabilidade porque não colocou de "forma clara, desde o início" que estaria consumindo a reserva estratégica do produto.

"A White Martins já vinha consumindo reserva estratégica e não fez essa posição de forma clara desde o início. Não tem como isentarmos essa posição, primeira responsabilidade. E se secretária de Saúde tivesse acompanhado de perto teria descoberto que estava sendo consumida a reserva estratégica. Vejo duas responsabilidades muito claras, começa na empresa que consome e não se posiciona de forma clara", disse ele. Já sobre o governo estadual, o ex-ministro alegou que a preocupação com o acompanhamento do oxigênio não era "foco" da secretária de Saúde.

Pazuello chegou a afirmar que suas decisões enquanto estava como titular da Saúde eram compartilhadas entre o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).

Após diversas tentativas de preservar Bolsonaro e negar interferências do presidente em temas como a compra de vacinas e a recomendação de cloroquina, o general Eduardo Pazuello relacionou, pela primeira vez, o chefe do Executivo a uma das medidas do governo mais questionadas na gestão da crise sanitária. Ele atribuiu ao presidente a decisão de não aprovar um pedido de intervenção na saúde pública do Amazonas durante a crise da falta de oxigênio, em janeiro. Em depoimento à CPI da Covid, o general afirmou que o chefe do Executivo estava presente na reunião ministerial que negou a providência.

"Na reunião ministerial, o governador foi chamado, apresentou sua posição e houve uma decisão nessa reunião de que não seria feita a intervenção", disse Pazuello, sem especificar a data do encontro. "O presidente da República estava presente. A decisão foi tomada nessa reunião", completou.

Pressão sobre Pfizer

O ex-ministro também afirmou que o governo pressionou a Pfizer para flexibilizar condições do contrato para a venda de vacinas ao Brasil. Segundo ele, havia falta de amparo legal para assinar um contrato com cláusulas que seriam abusivas. Entre elas estava a obrigação de que o governo depositasse valores em uma conta da Pfizer no exterior como garantia de pagamento.

"Não somos caloteiros", afirmou Pazuello sobre as exigências. Questionado sobre o que fez para contornar o suposto impedimento legal apontado como justificativa pelo governo para não fechar o contrato no ano passado, Pazuello afirmou que "a pressão para que a empresa recuasse em suas cláusulas foi constante, para mostrar que o Brasil não merecia aquele tipo de tratamento".

Entretanto, o ex-presidente da Pfizer no Brasil, Carlos Murillo, afirmou à CPI que o laboratório fez cinco ofertas de vacina no ano passado e ficou sem resposta. A informação é contestada pelo ex-ministro.

Presidente da CPI pede relatório preliminar

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, Omar Aziz (PSD-AM), afirmou que pedirá ao relator do colegiado, senador Renan Calheiros (MDB-AL), um relatório preliminar dos últimos 30 dias de trabalho do grupo. Segundo Aziz, o documento ajudará na retomada de informações discutidas ainda no primeiro dia de audiência da comissão e, também, para esclarecer à população dos fatos já apurados.

Depoimentos serão retomados na terça-feira

A CPI da Covid volta a se reunir na terça-feira, 25, para ouvir Mayra Pinheiro, integrante do Ministério da Saúde. Na quarta-feira, 26, deverão ser analisados pelo menos 27 requerimentos, que tiveram sua votação adiada. A partir dessa votação, será definido o depoimento da quinta-feira, 27, segundo o vice-presidente, Randolfe Rodrigues.


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