Pesquisadores falam de mortes por Covid-19 evitáveis e atribuem responsabilidade a Bolsonaro

Pesquisadores falam de mortes por Covid-19 evitáveis e atribuem responsabilidade a Bolsonaro

Pedro Hallal e Jurema Werneck foram ouvidos pela CPI da Covid, no Senado, nesta quinta-feira

AE

Especialistas foram ouvidos nesta quinta-feira na CPI da Covid

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O epidemiologista e professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, e a diretora-executiva da Anistia Internacional e coordenadora do movimento Alerta, Jurema Werneck, foram ouvidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid nesta quinta-feira. Os especialistas, que foram convidados pelos senadores, responderam os questionamentos sobre estudos de combate à pandemia e os dados de mortes ocorridas por Covid-19.

Eles defenderam que a maioria dos óbitos relacionados ao coronavírus poderia ter sido evitada. O Brasil poderia ter evitado até 400 mil mortes por Covid-19 se tivesse adotado medidas necessárias para conter o avanço da doença. Segundo Pedro Hallal, quatro de cada cinco mortes no Brasil estão em "excesso", ou seja, poderiam ter sido evitadas se o País seguisse as políticas adotadas na média em outros países.   

Outro estudo apresentado na CPI, pela diretora-executiva da Anistia Internacional e coordenadora do movimento Alerta, Jurema Werneck, indica que a pandemia de Covid-19 provocou 305 mil mortes acima do esperado no Brasil em um ano. O cálculo leva em conta os dados históricos de mortalidade no País.

A especialista apontou redução relativa de 40% na transmissão se medidas mais restritivas, como isolamento social e preparação do sistema de saúde, tivessem sido implementadas. “Se tivéssemos agido como era preciso, a gente podia ainda no primeiro ano de pandemia ter salvo 120 mil vidas”, estimou Weneck durante a audiência na CPI. “Poderíamos ter salvo pessoas se a política de controle de medidas não farmacológicas tivesse sido aplicada.”

Ela explicou que buscou dados dos cartórios do país e dados oficiais, como o levantamento Pnad Covid, do IBGE, para chegar aos resultados apresentados. Segundo ela, o número poderia ter sido menor se fossem adotadas medidas mais rígidas para evitar a transmissão, além da testagem em massa da população e o rastreamento dos contatos de doentes.

Responsabilidades

Os pesquisadores responsabilizaram o governo do presidente Jair Bolsonaro – e diretamente o chefe do Executivo – por mortes na pandemia. “Um pedaço dessas mortes é responsabilidade direta do presidente da República, que não é uma figura que se esconde atrás do governo federal”, disse Pedro Hallal. “Quem disse que a vacina se transforma em jacaré foi o presidente da República, não foi o governo federal. Quem disse que não ia comprar a vacina da China foi o presidente da República.” 

Os apontamentos devem ser usados pela CPI para aumentar as provas contra Bolsonaro na apuração.

Efeito das vacinas atrasadas

O atraso na compra das vacinas da Pfizer e da Coronavac provocou 95,5 mil mortes por Covid-19 no Brasil, de acordo com Hallal. A demora na aquisição de doses é uma das linhas de investigação da CPI da Covid, que agora apura a opção do governo brasileira em comprar a vacina indiana Covaxin a preços maiores do que o ofertado no ano passado pela própria fabricante e por outros laboratórios.

O estudo de Pedro Hallal considera os dados prestados por laboratórios à CPI. As informações da Pfizer apontam que o Brasil poderia ter 4,5 milhões de doses a mais até março deste ano se tivesse respondido às ofertas feitas pela empresa em 2020 No caso da Coronavac, o Instituto Butantan estimou 49 milhões de doses a mais até maio.

Outro estudo citado pelo pesquisador, conduzido pela Universidade de São Paulo, indica 145 mil mortes provocadas pelo atraso nas vacinas: “O Brasil é um dos piores países do mundo na resposta à covid-19. Não há outra justificativa que não a postura anticiência adotada no País”, afirmou o ex-reitor da UFPel.

Ainda de acordo com os números da pesquisa de Hallal, a mortalidade da Covid-19 é maior em cidades que deram mais votos ao presidente Jair Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018. Nas cidades onde Bolsonaro teve 10% dos votos válidos ou menos, a taxa de mortalidade é de 10 para cada 100 mil habitantes. O índice chega a 313 mortes por 100 mil habitantes nos municípios que deram 90% dos votos ou mais para o atual presidente.

Os dados foram criticados por aliados do chefe do Planalto. “Qual é a base científica para poder fazer uma afirmação dessa natureza a não ser animar uma narrativa?”, questionou o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). “Cada pessoa pode fazer uma interpretação desse resultado. Esse resultado não se observa por acaso porque, quando comparamos as mortalidades em geral, não existe essa tendência”, respondeu o pesquisador.

Censura 

Hallal ainda acusou o Palácio do Planalto de censurar a apresentação de um levantamento sobre o impacto da Covid-19 por cor da pele e etnia no País, em julho do ano passado. Ele conduziu uma pesquisa bancada pelo governo federal que foi interrompida “sem justificativa técnica”, de acordo com o pesquisador. “Este slide foi censurado. Faltando 15 minutos para eu começar a apresentação, fui informado pela assessoria de comunicação que o slide tinha sido retirado da apresentação da qual eu era o apresentador.”

O levantamento de Hallal indicou que, entre maio e junho do ano passado, a infecção por Covid-19 atingiu em média cinco vezes mais indígenas do que brancos e duas vezes mais os negros do que a população branca. No final de junho, a incidência da doença entre os indígenas era de 7,8% – enquanto que em brancos a ocorrência era de 1,7%. "Esse abismo foi censurado", afirmou o pesquisador na CPI.


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