Professores aumentam representatividade nas eleições municipais no Rio Grande do Sul

Professores aumentam representatividade nas eleições municipais no Rio Grande do Sul

Mais de 74% dos servidores estaduais que se afastaram para concorrer são ligados à Secretaria da Educação

Henrique Massaro

Cpers Sindicato incentivou categoria a concorrer em 2020

publicidade

Professores e trabalhadores ligados à Secretaria Estadual da Educação são parte representativa entre os candidatos nas eleições municipais de 2020 no Rio Grande do Sul. Dos 498 servidores estaduais que se licenciaram de suas funções para concorrer a cargos eletivos, 369 são ligados à pasta, o que corresponde a mais de 74%. Os dados, obtidos pelo Correio do Povo junto ao governo do Estado, demonstram uma tentativa de maior inserção na política devido a questões que levaram a categoria a greves e mobilizações nos últimos anos, como atrasos salariais e mudanças no plano de carreira.

Mais do que um movimento isolado, a adesão de professores nesta eleição foi incentivada pela própria categoria. Quem afirma é a presidente do Cpers Sindicato, Helenir Schürer, que acredita que este seja o pleito com maior número de servidores da Seduc concorrendo. De acordo com ela, objetivo do movimento organizado é tentar formar bancadas da Educação em todas as Câmaras de Vereadores gaúchas como forma de resistência à desvalorização profissional que vem ocorrendo ao longo dos anos.

A representatividade de servidores ligados à Educação é bem maior do que à de outras áreas. Candidatos da Segurança Pública, por exemplo, que, segundo especialistas, têm aumentado nas últimas eleições, são menos de 18% neste pleito. Entre os trabalhadores licenciados da Seduc, a maioria (323) são do magistério. “É um reflexo das nossas lutas e da retirada de direitos”, explica Helenir. “Acho que foi um despertar para a política, da importância de estar nesses espaços, porque definem nossa vida, então, nada mais justo do que estarmos dentro deles.”

Professor entre as principais ocupações

Fora das pastas do governo do Estado, outro quantitativo também chama a atenção. De acordo com dados do TSE, entre todos os mais de 33,5 mil postulantes às prefeituras e Câmaras no Rio Grande do Sul, 1.298 têm como ocupação professor. O número é resultado da soma dos candidatos que atuam no Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Superior ou na Formação Profissional, o que coloca a função entre as dez principais entre os participantes deste pleito. 

Outro fenômeno é que, assim como há candidatos ligados à Segurança Pública que utilizam seu cargo ou patente - como capitão, coronel, comandante -, 700 postulantes colocaram o título professor ou professora no seu nome na urna. Somente em Porto Alegre, são 34 candidatos a vereador e, ainda, uma candidata a vice-prefeita – Professora Malu (PSB), da chapa de Juliana Brizola (PDT) – que se identifica para os eleitores através da profissão.

Busca por mais representatividade

A desvalorização profissional, a desestruturação do ensino e a tentativa de criminalização da figura dos professores nos últimos anos criaram o ambiente para que os servidores da Educação buscassem concorrer a cargos eletivos. Esta é a avaliação da doutora em Ciência Política pela Ufrgs e pós-doutoranda em Educação pela PUCRS, Cibele Cheron. “A ideia da inserção tem muito a ver com a de que se fazer representar institucionalmente no âmbito político é uma forma de resistência a esse movimento de colocar o professor numa posição antagônica à comunidade e também de luta pelos direitos da categoria”, explica.

Ela se refere a questões como os atrasos e parcelamentos salariais dos últimos cinco anos e também à tensão criada nos ambientes de aprendizado, como o discurso do professor doutrinador e o incentivo a alunos para que filmem os educadores. Mas a cientista política também faz uma leitura da desvalorização sob a perspectiva de gênero. Cita que, historicamente, todas as atividades ligadas ao cuidado, à reprodução e à afetividade tendem a ser direcionadas para o sexo feminino, daí, por exemplo, a maior presença de professoras no Ensino Infantil e no Ensino Fundamental.

Já as áreas que remetem ao poder e à geração de riquezas geralmente são relacionadas ao perfil masculino “Há uma correlação entre salários médios nessas funções socialmente identificadas com mulheres”, comenta, comparando, por exemplo, a provável diferença de salário entre um economista e uma pedagoga, apesar de ambos terem o mesmo grau de formação.

Defensora da democracia como um aprendizado que se constrói, Cheron considera que a iniciativa de servidores da Educação se inserirem na política - assim como a de profissionais da Saúde e da Segurança Pública – é positiva para o processo. Mas faz uma ressalva importante: “É preciso que cada pessoa que entra na vida pública e efetivamente seja eleita compreenda que está lá representando todo o contingente de eleitores. Não basta que levante sua bandeira, mas também que procure uma capacitação sobre políticas públicas”.


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895