PSB nacional bloqueia palanque do partido para Ciro Gomes no RS

PSB nacional bloqueia palanque do partido para Ciro Gomes no RS

Encaminhamento prejudica pré-candidatura de Beto Albuquerque. Socialistas gaúchos se reúnem para decidir o que fazer

Flavia Bemfica

Pré-candidato ao Palácio Piratini visitou o Correio do Povo nesta terça-feira

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As reuniões realizadas ao longo da quarta-feira em Brasília entre dirigentes e lideranças nacionais e regionais do PT e do PSB devem provocar uma reviravolta nas negociações para a eleição no RS. Nos encontros, ficou decidido que os partidos vão reabrir a mesa de negociação na próxima semana no Estado, mas o PSB gaúcho sofreu um revés. O comando nacional da legenda deixou claro que não pretende endossar que o PSB do RS dê palanque para a candidatura de Ciro Gomes (PDT) na disputa presidencial. Os socialistas gaúchos vão se reunir às 14h desta quinta-feira, em Porto Alegre, para decidir o que fazer.

No Estado, as duas siglas, até agora, mantêm pré-candidaturas ao governo, a do ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) e a do deputado estadual Edegar Pretto (PT). A divisão desagrada os comandos nacionais dos dois partidos, que estão juntos na eleição nacional, já que o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, saiu do PSDB, ingressou no PSB, e é vice na chapa encabeçada pelo ex-presidente Lula (PT). Em Brasília, na quarta, em diferentes encontros, tanto Beto quanto o presidente do PSB/RS, Mário Bruck, ouviram que o partido não pretende permitir que, nos estados, seus candidatos estejam em palanques que não sejam o da chapa Lula/Alckmin. Também ficou claro que se os dois partidos não produzirem rapidamente uma solução no RS, as direções nacionais vão fazer isso.

As diretrizes esvaziam as negociações de Beto com o PDT gaúcho para a formação de uma chapa na qual ele fica com a cabeça, ofertando aos trabalhistas a vaga de vice e concordando em dar palanque para Ciro Gomes em solo gaúcho. Desde o início da corrida da pré-campanha, a necessidade de se unir a uma sigla com maior capilaridade, bem estruturada no Estado, foi um dos pontos centrais para viabilizar a candidatura própria no PSB. O PDT, por exemplo, é a sigla com o maior número de filiados no RS. Já o PSB, sozinho, tem cerca de 30 segundos do horário eleitoral no rádio e na TV. Além da questão do tempo e da estrutura, Beto foi alertado sobre a possibilidade concreta de sua campanha ao governo não ter prioridade do diretório nacional no que se refere a destinação de recursos financeiros. Por fim, o ingresso do ex-governador Eduardo Leite (PSDB) na corrida para o governo também é apontado como um ponto que prejudica o socialista, já que, com a mudança, o eleitorado do chamado ‘centro’ político, que Beto atrai, vai se dividir.

No PDT gaúcho, os movimentos do PSB nacional vinham sendo acompanhados, e a sigla já fez uma adaptação no discurso. Até a semana passada, os pedetistas não negavam a possibilidade de seu pré-candidato ao governo, o ex-deputado Vieira da Cunha, ser vice em uma composição. Mas, nos últimos dias, o partido passou a insistir na cabeça de chapa e, na quarta, fez um ato público, no Bar Opinião, com a presença de Ciro, para lançar oficialmente a pré-candidatura de Vieira.

Sucessão de movimentos aumentou a tensão  

O tensionamento das negociações e a urgência de uma solução no RS se intensificaram na semana passada, após a passagem de Lula e Alckmin pelo Estado, nos dias 1º e 2. O fato de Beto não ter comparecido aos atos do roteiro da dupla em solo gaúcho irritou dirigentes das duas siglas e acabou ‘tirando pontos’ do socialista, mesmo que Lula tenha adotado um tom ‘duro’ em relação aos próprios partidários sobre a necessidade de união. Após as agendas, a dificuldade de entendimento entre PT e PSB chegou a gerar um terceiro movimento, capitaneado por grupo próximo a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB): a defesa de que ela fosse ungida pré-candidata ao governo, em uma espécie de ‘candidatura pela união’.

Publicamente, Manuela seguiu afirmando que não será candidata a nada nas eleições de 2022. Mas ela se reuniu com Beto na sexta-feira. E, a petistas e socialistas, acabou chegando a informação de que, se fosse para concorrer ao governo, preferia ter Beto do que Edegar como companheiro de chapa. A possibilidade pegou de surpresa parte de dirigentes das duas legendas, que trabalharam para ‘enterrar’ qualquer articulação neste sentido. Nos bastidores, passaram a ventilar que a ex-deputada teria ‘menos chegada’ do que Beto ou Edegar. O PT, o PCdoB e o PV formam atualmente uma federação partidária nacional.

Na quarta desta semana, antes das reuniões em Brasília, Beto saudou a chegada de Ciro Gomes ao RS. Mais uma vez, a ação desagradou dirigentes nacionais. Com a chance de que Beto desista da pré-candidatura ao governo posta na mesa, há dúvidas sobre se ele aceitaria concorrer ao Senado na chapa. O PT, de qualquer forma, está oferecendo uma das vagas da majoritária para o Psol. Se o Psol aceitar, quem vai ocupá-la é o vereador Pedro Ruas, hoje também pré-candidato ao governo.

Na expectativa por um desfecho, nas últimas horas os petistas gaúchos se recolheram, evitando declarações. O presidente estadual, o deputado federal Paulo Pimenta, usou o twitter para tratar do tema. Em duas postagens, informou sobre as reuniões em Brasília e a reabertura do ‘diálogo’. O PT do RS insiste em que seu pré-candidato ao governo, hoje pouco conhecido e com índices abaixo dos 10% em diferentes sondagens, vai conseguir ‘colar’ em Lula e replicar, no RS, com o pré-candidato do PL, o deputado federal Onix Lorenzoni, a polarização da eleição nacional entre o ex-presidente e o atual, o presidente Jair Bolsonaro (PL).


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