Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões em 483 depósitos de subordinados a Flávio Bolsonaro

Queiroz recebeu mais de R$ 2 milhões em 483 depósitos de subordinados a Flávio Bolsonaro

Dados foram obtidos pelo MP do Rio através da quebra de sigilos bancários

Estadão Conteúdo

Assessor seria responsável por indicar membros do gabinete

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O ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz recebeu R$ 2.062.360,52 por meio de 483 depósitos feitos por assessores subordinados ou indicados pelo então deputado estadual e hoje senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), conforme dados da quebra de sigilo bancário obtida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Os valores foram transferidos por 13 servidores do gabinete do parlamentar e constam no relatório da Promotoria sobre as operações de buscas e apreensões conduzidas nesta quarta-feira. As informações foram divulgadas pela revista Crusoé e confirmadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O relatório do MP aponta que chegou ao valor na análise das movimentações financeiras de Queiroz após a quebra do sigilo bancário do ex-assessor, decretada em abril, que abrangeu o período de 2007 a dezembro de 2018 e atingiu também Flávio. Segundo a Promotoria, a maior parte dos valores (69%) foi repassada por depósito bancário de dinheiro em espécie, mas também foram usados transferências e depósitos de cheques.

Queiroz é identificado pelos promotores como o "arrecadador dos valores desviados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro". Além dos depósitos, o Ministério Público afirma que o ex-assessor parlamentar "executou uma intensa rotina de saques em sua própria conta corrente", chegando ao total de R$ 2,9 milhões em espécie.

Para os promotores, o predomínio de transações em dinheiro vivo na conta de Queiroz não decorre de "acidente, nem de mera coincidência". Pelo contrário, dizem os investigadores, "essa incomum rotina de depósitos em espécie seguidos de saques também em dinheiro na mesma conta decorre de uma opção deliberada do operador financeiro". O propósito seria "não deixar rastros no sistema financeiro" da origem e do destino dos recursos.

O Ministério Público alega ainda ter identificado outros R$ 900 mil em depósitos em espécie na conta de Queiroz "cuja procedência não foi possível precisar pelo cruzamento de valores". A Promotoria diz que ocorreram "centenas de saques nas contas de ex-assessores" do senador que foram destinadas a operadores financeiros mediante entrega em mãos, sem passar pela conta de Queiroz.

Fantasmas

Além de arrecadar o dinheiro dos salários dos servidores de Flávio, Queiroz também tinha a função de indicar familiares e pessoas de sua confiança para cargos no gabinete do então deputado, conclui o MP. Entre os indicados estavam a esposa de Queiroz, Márcia Oliveira de Aguiar, que atuava como cabeleireira, mas tinha cargo no gabinete de Flávio. Ela, no entanto, jamais retirou o crachá funcional para acessar as dependências da Alerj.

Nathália Melo de Queiroz, filha do ex-assessor, também foi nomeada para cargo na Assembleia mesmo cursando Educação Física na Universidade Castelo Branco, a 38,7 quilômetros da Alerj e mantendo emprego em três academias de ginástica. Assim como a mãe, Nathália nunca pegou o crachá de funcionária de Flávio. A sua irmã, Evelyn Melo de Queiroz, foi nomeada enquanto exercia a profissão de manicure e pedicure - a família Queiroz integra o grupo de 12 servidores que teria recebido R$ 6,1 milhões em salários nos antigos gabinetes.

Núcleos

O MP dividiu a investigação contra Queiroz em quatro núcleos: o primeiro era voltado para as indicações e manutenção de assessores em cargos na Alerj em troca de repasse de parte dos salários. O segundo núcleo seria composto por operadores financeiros responsáveis por recolher os recursos e garantir o cumprimento de carga de trabalho de funcionários fantasmas. É neste núcleo que está Queiroz.

O terceiro núcleo, conforme o MP, era formado por pessoas que concordavam em serem nomeadas como "servidores fantasmas" ou como assessores com o compromisso de garantir o repasse mensal do salário que receberia. O quarto núcleo era voltado à empresa Bolsotini Chocolates e Café Ltda, de Flávio e sua esposa, que tinha atribuição de "lavar parte dos recursos desviados" por meio de depósitos e inseridos no patrimônio do então deputado estadual como lucros superestimados da atividade empresarial.


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