Ricardo Miranda deixa o país sob proteção da Polícia Federal

Ricardo Miranda deixa o país sob proteção da Polícia Federal

Segundo deputado, o irmão estaria sofrendo ameaças e entrou para programa de proteção a testemunhas

R7

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O ex-chefe de importação do Departamento de Logística do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, que denunciou o suposto esquema de propina na compra da vacina indiana Covaxin, deixou o país junto com a família nessa quinta-feira. Segundo o irmão dele, o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), Ricardo entrou para o programa de proteção a testemunhas, da Polícia Federal. O deputado Luis Miranda disse ao R7 que ficou sabendo somente na quarta-feira da inclusão do ex-servidor no programa de proteção.

“Ele (Ricardo Miranda) ocultou isso de mim porque conhece minha personalidade. Ele sabe que eu iria pra cima desses caras. Estou cansado do que o Bolsonaro vem fazendo com a gente,” desabafou. “O Ricardo optou (por manter em segredo) para não desgastar a mim e ao restante da família e só me contou ontem,” completou.

De acordo com o deputado, eles não davam importância às ameaças nas redes sociais. "Mas meu irmão sofreu outros tipos de ameaça que o deixaram preocupado e decidiu ingressar no programa de proteção a testemunhas. Ele não quis me contar que outro tipo de ameaça tem recebido, mas, por causa delas, decidiu participar do programa,” disse o deputado. “Ele contou (que tipo de ameaça sofreu) à minha mãe, mas ela também não quis me dizer. Ele (Ricardo) entendeu que as pessoas que estão no governo são perigosas e não vão deixar barato,” afirmou.

Ainda de acordo com o deputado, a família vinha preparando uma homenagem para Ricardo  pelo Dia do Servidor, mas souberam também que ele foi exonerado do Ministério da Saúde. “Ele fez uma denúncia e, em vez de receber reconhecimento, sofreu perseguição. Acertamos em levar a denúncia à Polícia Federal e erramos ao levá-la ao presidente,” concluiu.

“O governo age como se ele (Bolsonaro) fosse dono da Precisa (Medicamentos). Repare que os governistas defenderam a empresa com unhas e dentes, chegando a até apresentar documentos falsos em defesa da empresa. Em nenhum momento eles defenderam os denunciantes, mas sim à empresa corrupta que já deu prejuízo de R$ 20 milhões”, afirmou. ”Por que o Bolsonaro nunca tomou uma providência em relação à denúncia?” indagou.

Entenda o caso

Em junho deste ano, o servidor do Ministério da Saúde, Luís Ricardo Miranda, relatou à CPI da Covid que sofreu pressão por parte de três superiores hierárquicos na pasta para que desse provimento ao processo de importação para uso emergencial no país da vacina indiana Covaxin contra a Covid-19. 

Um desses superiores hierárquicos era o então coordenador de Logística, coronel Marcelo Bento Pires, chefe de Ricardo Miranda, que teria, inclusive se encontrado durante um fim de semana com um representante da Precisa Medicamentos, empresa que negociava a compra da Covaxin.

"Durante toda a execução desse contrato, recebi diversas mensagens, ligações e chamadas no gabinete sobre o andamentos do processo desse contrato", disse o servidor à CPI na em junho.  Segundo o relato dos dois irmãos, o presidente Bolsonaro teria falado que iria repassá-las para a Diretoria-Geral da Polícia Federal. Na ocasião, Bolsonaro teria comentado saber do "tamanho do problema" e teria mencionado o nome de quem poderia estar por trás da situação.

Os irmãos Miranda se reuniram então com o presidente Jair Bolsonaro no dia 20 de março e dizem ter denunciado indícios de corrupção na compra da Covaxin. De acordo com o deputado, informações suspeitas contidas na primeira versão da "invoice" (nota fiscal) da negociação motivaram a reunião com Bolsonaro. Entre as informações questionadas, estavam a exigência de pagamento antecipado e a quantidade de doses menores do que estava sendo negociado.

No depoimento à CPI, os irmãos Miranda disseram que o presidente falou com clareza que ia encaminhar o caso para a DG (Diretoria Geral) da Polícia Federal. Bolsonaro teria mencionado que suspeitava de um deputado envolvido na denúncia.

Durante o depoimento, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), fez interferências para minimizar os indícios apresentados. Ele afirmou que os métodos do contrato são normais e comparados a outros laboratórios.


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