Sem acordo, promulgação da PEC dos Precatórios segue parada

Sem acordo, promulgação da PEC dos Precatórios segue parada

Arthur Lira quer promulgar trechos que são consenso entre as duas casas agora e o restante ficaria para depois. Senado resiste

R7

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A Câmara Federal e o Senado continuam as discussões para definir o que será feito em relação à PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, aprovada pelos senadores na semana passada, após diversas alterações no texto que recebeu aval dos deputados. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), se reuniu no início da tarde desta terça-feira com os líderes da casa para discutir a proposta de fatiamento da Câmara.

O presidente Arthur Lira (PP-AL) quer promulgar os trechos das propostas que são consenso entre as duas casas e que foram aprovados de forma idêntica. Os principais pontos são a mudança no cálculo do teto de gastos e a possibilidade de parcelamento das dívidas previdenciárias dos municípios em 240 meses. Os trechos relativos ao limite para pagamento dos precatórios ficariam para aprovação posterior.

A justificativa da Câmara é que, como houve alterações no texto aprovado pelos deputados, a proposta aprovada no Senado precisa passar de novo pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e por uma comissão especial – só depois ela iria para o plenário. 

O Senado resiste ao fatiamento. Os líderes defendem o apensamento da PEC dos Precatórios a outra PEC, a 176/2012, que já está pronta para ir ao plenário da Câmara. A proposta em questão é relativa à retirada de idosos e portadores de doença grave ou incapacitante da ordem de precatórios. Com isso, a PEC dos Precatórios não precisaria passar pelas comissões.

Líder da Minoria, Jean Paul Prates (PT-RN) afirmou que o Senado como um todo apresentou a intenção de votar a íntegra do projeto logo na quinta-feira, mas que a Câmara insiste no fatiamento. Conforme apurado pela reportagem, Arthur Lira chegou a propor promulgar parte da PEC na quinta e deixar o restante para depois.

"O receio de alguns senadores é que, deixando um pedaço para depois, o governo use uma medida provisória [MP] no início do ano para criar o espaço fiscal, o que desagradaria a alguns senadores, que querem votar o assunto. A liderança do PT e da minoria se posicionou contra o fatiamento porque consideramos que todos se envolveram no Senado em uma construção coletiva para aprimorar um projeto muito ruim na origem", afirmou.

Para o líder, a justificativa da Câmara para não aprovar tudo, e levar o texto à promulgação, é apenas uma "tecnicalidade regimental plenamente superável". Segundo ele, "é apenas uma medida para protelar, e que pode levar a um problema lá na frente, caso seja usada a MP para complementar o processo".

Ao falar sobre uma medida provisória, o senador se refere à possibilidade de o governo enviar uma MP para complementar os recursos a fim de garantir o Auxílio Brasil a R$ 400. A questão já é discutida pelo governo, diante do impasse no Congresso.

Líder do PL no Senado, Carlos Portinho (RJ) é contrário, por exemplo, à ideia de completar os recursos para o auxílio por meio de uma MP. "O Congresso, em especial o Senado, conseguiu achar um caminho que teve boa repercussão no mercado", disse. Para ele, o fatiamento para promulgar os trechos de consenso que garantiriam espaço para o auxílio, o que é mais urgente, e deixar o restante para discussão na Câmara pode ser viável, desde que haja acordo para que o texto tramite o mais rápido possível entre os deputados.

A tramitação de uma PEC é diferente daquela de projetos comuns, pois o texto promulgado (pela mesa das duas casas) precisa ser o mesmo aprovado por deputados e senadores. Assim, regimentalmente, seria possível promulgar apenas os trechos de consenso, aprovados de forma idêntica, fazendo uma divisão entre pontos da matéria, o que está sendo chamado de fatiamento. 

Precatórios

Em ambas as casas, entende-se que, para promulgar agora qualquer trecho sobre precatórios (dívidas que a União é obrigada a pagar porque já se esgotaram os recursos na Justiça), a Câmara precisará aceitar as alterações feitas pelo Senado. Assim, ou a Câmara aceita promulgar tudo sobre precatórios ou não promulga nada. Se não quiserem a promulgação, os deputados poderão fazer as alterações que desejarem e enviar o texto novamente para análise dos senadores.

O trecho relativo aos precatórios é o mais importante para o governo, já que sem ele a União poderá ser obrigada a pagar a totalidade dos precatórios de 2022, na ordem de R$ 89 bilhões.

A proposta se refere a um subteto para o pagamento de precatórios. Na prática, foi estabelecido um limite anual para o que a União pode gastar com precatórios, ficando o restante para o ano seguinte. Na Câmara, foi fixado que esse subteto dure até 2036. O prazo era visto como muito extenso, por isso o Senado reduziu o período para dez anos — ou seja, até 2026.

Já pensando em um risco de fatiamento da proposta na Câmara, os senadores incluíram esse prazo no artigo principal, e não em um inciso, "costurando" o texto. Na avaliação geral, isso impossibilita que a Câmara promulgue um teto para o pagamento dos precatórios que não seja o do ano de 2026 e que não seja vinculado a gastos sociais (Auxílio Brasil, Previdência, saúde e assistência social). Se os deputados quiserem alterar o texto, precisarão voltar novamente para o Senado.


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