Sessão com Moro na Câmara tem desagravo ao general Villas Bôas

Sessão com Moro na Câmara tem desagravo ao general Villas Bôas

Ministro da Justiça e Segurança defendeu pacote anticrime e permanência do Coaf na Pasta

AE

General da reserva exerce o cargo de assessor especial do ministro Augusto Heleno

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A audiência na Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, nesta quarta-feira, foi palco de um desagravo ao ex-comandante do Exército General Villas Bôas, após ataques que lhe foram disparados pelo ideólogo Olavo de Carvalho, bastante influente no núcleo familiar do presidente Jair Bolsonaro.

O general da reserva recebeu uma salva de aplausos ao chegar à sessão e foi chamado de "modelo de homem público" por Moro - que tem mais afinidade com a ala militar do que com a ala "olavista" do governo. A primeira menção foi feita pelo líder do PSL na Câmara, o deputado federal eleito por Goiás Delegado Waldir. "Vossa excelência é sempre muito bem-vindo", disse.

Em meio a uma sessão dividida, com bate-boca entre apoiadores e críticos a Moro, o desagravo a Villas Bôas não foi acompanhado de reações contrárias. "Gostaria de aderir às homenagens ao general Villas Bôas. Na minha opinião e de muitos, um herói nacional", comentou Sergio Moro posteriormente.

O general da reserva, que hoje exerce o cargo de assessor especial do ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), estava no Congresso para uma cerimônia e resolveu comparecer à audiência quando soube que Moro estaria lá.

Villas Bôas, na saída, disse que resolveu "prestigiar" o ministro e o pacote de propostas apresentadas contra corrupção e crime organizado e com ações em prol da segurança pública. "Passei aqui rapidamente para prestigiar, porque o pacote e o projeto anticrime são da maior importância à sociedade brasileira. É um projeto que vem sofrendo muitos ataques. Então passei aqui simplesmente para prestigiar esse grande cidadão e excepcional ministro que tem feito um excelente trabalho", disse o general Villas Bôas após a sessão.

Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo publicada na terça-feira, o ex-comandante do Exército defendeu os ministros militares dos ataques do guru bolsonarista Olavo de Carvalho e seus seguidores, incluídos os filhos do presidente Bolsonaro. Disse também que Olavo "passou do ponto", está agindo com "total desrespeito aos militares e às Forças Armadas" e que "presta enorme desserviço ao País".

Nesta quarta, Villas Bôas voltou a criticar o filósofo conservador. "Praticamente todas as crises que nós vivemos, desde que o presidente Bolsonaro assumiu o governo, têm a participação direta ou indireta de Olavo de Carvalho. A gente tem tantas questões importantes e precisamos dar prioridades, e a gente fica desperdiçando energia em questões que absolutamente não contribuem para a solução dos problemas", disse. Um dos nomes mais respeitados nas Forças Armadas, Villas Bôas agradeceu o apoio recebido na Câmara dos Deputados. Sobre a fala do ministro Sergio Moro, disse que é "muito gentil". 

Defesa do pacote anticrime e discussão

Diante de uma plateia de deputados dividida entre apoio e crítica, Moro defendeu o pacote anticrime que encaminhou ao Congresso em fevereiro, a permanência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na pasta e as ações que têm sido desenvolvidas desde o início do ano. O ministro chegou a pedir cordialidade de deputados, após questionamentos relacionados, por exemplo, à atuação na Lava Jato e ao caso Fabrício Queiroz. Houve bate-boca entre deputados durante alguns momentos da sessão.

A audiência se deu por solicitação do deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), tendo como tema o pacote anticrime e o decreto que expandiu a possibilidade de obter posse de armas editado pelo governo federal ainda em janeiro. A possibilidade de saída do Coaf para o Ministério da Economia é defendida por parte da Câmara dos Deputados. Aos parlamentares, Moro disse que o órgão é estratégico para Justiça e Segurança Pública, e não para o Ministério da Economia. O ministro descartou a hipótese de quebra de sigilos dentro do Coaf e afirmou que não há vazamentos. "Fortalecemos o Coaf sem mudar regras de sigilo e preservação de dados de cidadãos", disse Moro. "Eu tenho certeza que não ocorrem vazamentos do Coaf", acrescentou".

Durante a exposição de 40 minutos que realizou, disse que tem havido registro de diminuição de homicídios desde o início do ano, mas ainda é cedo para dizer se é uma tendência ou um episódio isolado. Frisou que a crise de segurança no início do ano no Ceará foi debelada em 30 dias.

A PF, segundo ele, tem independência pra atuar. Defendeu, em outra frente, a criação de um "Drogômetro" - projeto em estudo com a proposta de servir de maneira semelhante a um bafômetro, mas para droga.

Críticas

Moro foi criticado por alguns deputados, como Freixo e Rogério Correia (PT-MG), por ficar falando das ações em desenvolvimento no ministério, e não do pacote anticrime em si e da ampliação do acesso a armas estabelecido por decreto pelo presidente Jair Bolsonaro.

Quando foi aberta a rodada de perguntas, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) disparou questionamentos sobre o pacote anticrime, sobre os critérios observados para a elaboração das propostas de alterações em leis. Questionou sobre a excludente de ilicitude, a política de drogas. O debate foi interrompido algumas vezes por conta de bate-boca entre deputados, sobretudo entre o deputado delegado Eder Mauro (PSD-PA) e a bancada de oposição, representada por Paulo Peixeira (PT-SP) e Perpétua Almeida (PCdoB/AC) entre outros. "O senhor deveria enfrentar as perguntas", disse Teixeira. O deputado Rogério Correia, em seu turno, pediu a Moro explicações sobre investigações a Fabrício Queiroz, ex-assessor do hoje senador Flavio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro. "O senhor sabe onde está o Queiroz? Ele vai depor? É um fato emblemático para a Justiça e o povo brasileiro. A milícia que ele integra está sendo investigada?", questionou.

O parlamentar cobrou respostas dizendo que não estavam diante de um semideus, mas de um ministro. Moro disse, diante da interpelação de Rogério Correia, que "poderia responder a qualquer pergunta, mas pediria que fôssemos mais cordiais". Discorreu sobre seu passado de ter enfrentado diversos casos como Fernandinho Beira-Mar, Cartel de Juárez no México, PCC. "Lava Jato não foi trabalho fácil, foi difícil, tive muita pressão como juiz de primeira instância. Tenho tentado agora fazer meu trabalho no foco de corrupção segurança pública. Os índices estão diminuindo, mas não queremos jogar rojões, e sim continuar o trabalho. Essas ofensas pequenas não me atingem, deputados, então eu peço cordialidade", disse Sergio Moro. 


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