Vereadores de Porto Alegre divergem sobre frente parlamentar do tratamento precoce

Vereadores de Porto Alegre divergem sobre frente parlamentar do tratamento precoce

Remédios sem comprovação científica estão proibidos de distribuição no município

Flávia Simões*

Mônica Leal (PP) e Pedro Ruas (PSol) divergiram durante o programa "Esfera Pública"

publicidade

Embora aprovada na Câmara de Porto Alegre, com larga maioria, 26 votos favoráveis a 6 contrários, a Frente Parlamentar sobre os Possíveis Benefícios do Tratamento Precoce no Combate à Epidemia de Coronavírus, proporcionou um embate de ideias acerca do assunto. 

Enquanto a autora da proposta, vereadora Mônica Leal (PP), acredita haver necessidade de discussão, o líder da oposição, Pedro Ruas (PSol), prevê que esse debate trará mais confusão à população. 

O chamado "tratamento precoce" é um coquetel de remédios, entre eles a hidroxicloroquina e ivermectina, que não possuem comprovação científica dos benefícios no seu uso contra a Covid-19, além de que existir entidades que alertam para o uso desses medicamentos, como a Organização Mundial da Saúde, que horas antes da sessão na Câmara recomendou que a ivermectina não seja usada em pacientes com Covid-19. 

A frente tem o objetivo de proporcionar o debate sobre um tema que tem sido discutido, esclareceu a vereadora  Mônica Leal (PP), durante o programa "Esfera Pública" da Rádio Guaíba."No momento em que há duas correntes de pensamento, o debate se faz necessário e é válido", explicou.

No entanto, a discussão ainda persiste e, segundo a vereadora, a frente irá auxiliar no entendimento da população sobre o assunto. A ideia, explicou, é levar uma série de médicos e cientistas, com diferentes pontos de vista, para elaborar um parecer final sobre o assunto. Mônica contou que desde a aprovação da frente, na tarde de quarta-feira, diversos médicos já a chamaram com o interesse em participar. "Não podemos deixar o assunto virar um tabu. Tem o interesse das pessoas", disse.

A vereadora ainda esclareceu que o seu objetivo não é colocar uma opinião pessoal dela ou da Câmara sobre o assunto, mas sim elaborar um parecer técnico. "O objetivo é fazer um amplo debate. Avaliar os riscos e benefícios. A Câmara é a casa do povo. Temos o dever de debater tudo aquilo que é de interesse ao povo", pontuou. Mônica ainda externou suas preocupações acerca da diferença entre um tratamento preventivo e um tratamento precoce, reiterando a importância da discussão. "Precisa de atenção", disse. 

Contudo, além da ausência de comprovação científica, outro argumento usado pela oposição, liderada pelo vereador Pedro Ruas (PSol), foi o fato de que a distribuição dos remédios - para essa finalidade - está proibida no município devido a ação judicial encabeçada pela bancada do PSol. "O projeto é muito ruim. Formar frente parlamentar para discutir algo que a prefeitura de Porto Alegre está proibida. A Câmara vai debater o que a Justiça já decidiu", criticou Pedro Ruas, durante entrevista. 

"Se é pra buscar informação, a OMS (Organização Mundial da Saúde) já declarou várias e várias vezes que não há nenhum benefício comprovado nesse tratamento", reforçou o vereador. "Além de não ter nenhum benefício comprovado, tem prejuízos comprovados", completou, citando o recente caso de três pacientes que morreram ao realizar nebulização com cloroquina na cidade de Camaquã e os prejuízos que a ivermectina pode causar ao fígado, como hepatite medicamentosa.

Ruas ainda reforçou que a criação da frente pode deixar a população confusa, uma vez que, caso um médico declare que o tratamento é benéfico, o cidadão não poderá obtê-lo pela prefeitura. "Não sei em que resultados isso vai chegar", finalizou.

*Sob supervisão de Mauren Xavier

 


Mais Lidas





Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895