Wizard nega participação em "gabinete paralelo" e mantém silêncio perante provocações na CPI

Wizard nega participação em "gabinete paralelo" e mantém silêncio perante provocações na CPI

Comissão irá recorrer do direito ao silêncio, amparado por decisão do STF, e empresário poderá ser novamente convocado

Correio do Povo e AE

Comissão irá recorrer do direito ao silêncio, amparado por decisão do STF, e empresário poderá ser novamente convocado

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Em quase seis horas de sessão, nesta quarta-feira, pouco se ouviu a voz do depoente Carlos Wizard, que participou da CPI da Covid-19 como investigado. O empresário, acusado de financiar um "gabinete paralelo" de Jair Bolsonaro, esteve acompanhado de seu advogado Alberto Zacharias Toron. Durante intensas provocações de parlamentares, Wizard repetiu a frase: "Me reservo ao direito de permanecer em silêncio", amparado pela decisão do ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF).

O silêncio do depoente irritou o presidente da Comissão Omar Aziz (PSD-AM) que afirmou que irá recorrer da decisão do STF. Já a senadora Simone Tebet (MDB-MS) sugeriu que a Comissão recoloque Wizard como convidado e não investigado. Assim, ele deverá prestar novamente depoimento em uma segunda convocação, como ocorreu com ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Segundo Aziz, o empresário não pode ficar sem punição, mencionando os vídeos que foram exibidos pelos integrantes da comissão, nos quais Wizard faz a defesa aberta de remédios sem comprovação científica contra a Covid-19.

No vídeo, o empresário faz uma "homenagem" ao prefeito da cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo, que teria assumido compromisso com a população da cidade, de que ninguém iria morrer vítima da Covid-19 em razão do uso do tratamento precoce.

Wizard é investigado por supostamente participar de um "gabinete paralelo" que seria responsável pela tomada de decisões na pandemia e pelo aconselhamento ao presidente Jair Bolsonaro. O grupo teria agido em defesa do uso de remédios como a cloroquina - ineficaz contra a Covid-19, conforme entendimento de grande parte da comunidade científica internacional. 

Wizard nega "gabinete paralelo"

Em sua fala inicial na CPI da Covid, o empresário Carlos Wizard negou que tenha participado ou tenha conhecimento do chamado "gabinete paralelo" de assessoramento ao presidente Jair Bolsonaro em assuntos da pandemia. Ele afirmou também que nunca fez "qualquer movimento" para a compra de medicamentos para enfrentamento à Covid-19 ou financiamento de comunicação sobre o tema. 

"Se porventura esse gabinete paralelo existiu, eu mais tomei conhecimento ou tenho informação a respeito. Jamais foi convocado, abordado, para participar de qualquer gabinete paralelo, é mais a pura expressão da verdade", afirmou Wizard, que alegou ainda não ter tido qualquer encontro particular com o presidente Jair Bolsonaro.

Sobre o tratamento precoce, que não tem eficácia comprovada para tratar a Covid-19, Wizard alegou que, no início da pandemia, havia uma "compreensão sobre o uso de alguns medicamentos", mas que com o passar do tempo e aprofundamentos dos estudos, hoje existem "posições contrárias" a esse método.

Bate-boca entre advogado e senador

O advogado criminalista Alberto Zacharias Toron quase foi retirado da sala da CPI da Covid pela Polícia Legislativa. Enquanto o empresário Carlos Wizard usa a decisão do STF para ficar em silêncio, seu advogado protagonizou com o senador Otto Alencar (PSD-BA) um bate-boca que esquentou o clima na sessão.

A calmaria desandou quando Toron classificou como "covardia" uma atitude de Alencar, que presidia a sessão naquele momento, ao fazer uma referência ao advogado e não deixá-lo rebater. "Está muito corado (Toron, que permanece ao lado de Wizard durante a oitiva), parece que tomou banho de mar, está vermelho, e o senhor, seu Carlos, amarelou aqui", disse o senador em alusão ao fato de Wizard não responder às perguntas dos integrantes da CPI.

"Vossa excelência está absolutamente enganado, não tomei banho de sol, nem de mar, e vossa excelência está errado...", respondeu Toron, que foi interrompido por Otto. "Não dei a palavra ao senhor, só fiz uma comparação", rebateu o senador. "Vossa excelência se referiu a mim e não quer que eu responda, isso é de uma covardia, senador", afirmou o advogado.

Sigilo fiscal e bancário

Após a sessão, a defesa do empresário afirmou que entregará "espontaneamente" à CPI da Covid os dados de sigilo bancário e fiscal dele. As quebras dos sigilos bancário, fiscal, telemático e telefônico de Wizard foram aprovadas pela CPI no último dia 16.

A informação sobre a entrega "espontânea" dos dados foi comunicada à comissão pela senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), enquanto presidia temporariamente o colegiado. "O advogado informa que o sigilo bancário e fiscal será entregue espontaneamente a essa CPI", disse após a provocação de Jorge Kajuru (Podemos-GO), que falou em em "puxar a capivara" das informações tributárias do empresário.

A defesa do empresário, investigado pela comissão, chegou a recorrer no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o levantamento dos dados telefônico e telemático, mas o pedido foi negado pela ministra Rosa Weber. Na ocasião, a ministra disse não ver desproporcionalidade na quebra dos sigilos do empresário, ressaltando que a medida tem 'pertinência temática' com a CPI da Covid e está amparada em 'indícios mínimos' de que Wizard 'teria concorrido diretamente para utilização de medicamento sem comprovação científica de eficácia e, por via de consequência, influenciado no agravamento da pandemia'.

 


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