Brasil se mantém longe da influenza Aviária
País redobrou esforços para usufruir das vantagens da sanidade em relação ao mercado internacional
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Houve focos da Influenza Aviária nos Estados Unidos e na China, mas os casos que mais preocuparam o Brasil, pela proximidade, foram os do Chile. Naquele país foi notificada a ocorrência do subtipo H7N6, de baixa patogenicidade, no final de 2016 e no início de 2017, em duas granjas de perus de corte na região de Valparaíso. A situação levou ao sacrifício sanitário de cerca de 385 mil perus. “Aquilo acendeu a luz amarela, quase vermelha”, lembra o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Francisco Turra. Além de redobrar cuidados no transporte aéreo entre os dois países, o governo federal adotou medidas como a publicação da Instrução Normativa 8, dando prazo até 3 de março de 2018 para todas as granjas obterem registro no serviço oficial.
Altamente contagiosa, a Influenza Aviária pode provocar danos tanto pelo seu potencial zoonótico (transmissível ao ser humano), quanto pelo seu impacto econômico, com mortalidade ou sacrifício de aves e restrições comerciais. Para o diretor-executivo da Associação Gaúcha da Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, o surto mundial de Influenza foi “o outro lado da moeda”, numa referência às perdas após a Operação Carne Fraca. “Isso acabou fazendo com que os países continuassem a depender da carne de frango do Brasil”, explica.
A recente abertura do mercado filipino, com 100 milhões de habitantes, foi comemorada por dirigentes do setor. A China, maior comprador da carne brasileira, autorizou em novembro a habilitação de mais 22 plantas, sendo 11 de carne bovina e 11 de aves. Além disso, as vendas do Brasil para outros países da Ásia e do Oriente Médio seguem aquecidas. No caso do Chile, que mantém embargo à carne de frango do Rio Grande do Sul e de outros estados, uma missão daquele país é aguardada para janeiro. A expectativa é que autorize a retomada das compras.
O Rio Grande do Sul contou com um “escudo natural” como grande aliado na busca pela biosseguridade, já que seus parques de aves migratórias que podem transmitir o vírus estão distantes das zonas de produção avícola e agroindustrial. Nas granjas, a visitação de pessoas que não estejam envolvidas na produção é desaconselhada. Durante a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016 os cuidados foram redobrados para evitar o ingresso da enfermidade.
O conjunto de medidas, porém, não é sinônimo de invulnerabilidade. O diretor da Asgav cobra que a atenção dada ao setor corresponda ao seu impacto na balança comercial, tendo em vista que o Rio Grande do Sul é o terceiro maior exportador de frango do Brasil. A fragilidade econômica dos governos estadual e federal preocupa porque pode comprometer os investimentos, especialmente na área de fiscalização. “Temos que manter o alerta total. Há acordos bilaterais que permitem tanto a exportação quanto a importação de outros tipos de alimentos que vêm de países que já tiveram ocorrência de Influenza”, justifica Santos.
Embora a Influenza Aviária continue sendo uma doença exótica (nunca detectada) no Brasil, a vigilância segue. O Ministério da Agricultura conta com um plano de contingência tanto dela quanto da Doença de Newcastle (DNC). “Se a enfermidade ingressar no país, os esforços devem seguir até a erradicação, por meio do sacrifício sanitário da totalidade das aves do estabelecimento avícola, métodos de depopulação, desinfecção e limpeza das instalações e vigilância epidemiológica no entorno, com pessoal devidamente capacitado na zona de foco”, observa a veterinária Tais Oltramari Barnasque, responsável pelo Programa Nacional de Sanidade Avícola na Superintendência do Ministério da Agricultura no Rio Grande do Sul e coordenadora do Comitê de Sanidade Avícola do Estado.
Altamente contagiosa
A Influenza Aviária é uma doença exótica no Brasil. Sua importância se relaciona com o potencial zoonótico e impacto econômico que ocasiona, seja por perdas produtivas na cadeia avícola, mortalidade de aves, medidas de sacrifício para sua contenção ou restrições comerciais. A enfermidade é altamente contagiosa e tem como principais hóspedes aves domésticas, como galinhas e perus, bem como aves silvestres. As aves aquáticas e as costeiras parecem ser os reservatórios naturais dos vírus de Influenza Aviária tipo A e são portadoras de todos os subtipos conhecidos.