Colheita do arroz: Produtores celebram safra e esperam soluções

Colheita do arroz: Produtores celebram safra e esperam soluções

Oferta menor tende a melhorar preço do grão, mas cultura pode seguir pressionada por problemas estruturais

Cíntia Marchi

Uma das ações busca frear a importação do grão, principalmente nos primeiros meses após a colheita

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A 29° Abertura Oficial da Colheita do Arroz encerrou nesta sexta-feira com a apresentação de medidas que estão em andamento e em estudo dentro dos governos federal e estadual para ajudar o setor orizícola a se recuperar da crise no Rio Grande do Sul. Uma das ações busca frear a importação do grão, principalmente nos primeiros meses após a colheita a fim de evitar a pressão sobre os preços que sequer reagiram na entressafra. 

Na primeira quinzena de março, o Ministério da Agricultura (Mapa) se encontrará com o governo do Paraguai, país que mais exporta arroz ao Brasil, para tentar estabelecer um diálogo acerca de cotas. Ao mesmo tempo, o secretário de Política Agrícola do Mapa, Eduardo Sampaio, que esteve no evento, informou que na próxima terça-feira a ministra Tereza Cristina se reunirá com produtores de arroz, indústrias e o varejo brasileiro para tentar negociar um ordenamento da entrada do produto estrangeiro no país. "Há muito atrito na cadeia. Os agentes têm que conversar para resolver isso", apontou Sampaio.

De prático, o secretário de Política Agrícola anunciou que já está disponibilizada nas agências do Banco do Brasil uma linha de crédito de R$ 500 milhões, com taxa de juro de 8,5% ao ano, para apoiar a estocagem do arroz nesta entrada de safra. Também se comprometeu a promover mudanças na área de seguro rural para melhorar as condições de cobertura das áreas orizícolas.

Sampaio também lembrou que, na última quinta-feira, em Brasília, em uma reunião entre ministérios da Agricultura e Economia começou a ser estudada a criação de um fundo compartilhado que contaria com recursos de produtores, indústria, bancos e Tesouro Nacional para melhorar as condições de refinanciamento de dívidas. "A ideia é reduzir os riscos e baixar os preços das operações de refinanciamento de dívidas. Vamos finalizar um primeiro esboço no dia 12 de março". 

O presidente da Federarroz, Henrique Dornelles, comentou que o arroz tem uma contribuição importante para o desenvolvimento da Metade Sul e para a arrecadação do Estado e, portanto, exige contrapartidas do poder público. Uma delas é a redução do ICMS para as vendas interestaduais, de 12% para 7%. O governador Eduardo Leite respondeu que este pedido de redução da alíquota necessita de estudo técnico, mas que "possibilidades já estão sendo analisadas". "Foge de uma questão política, porque temos que analisar todos os efeitos colaterais", destacou.

Em seu discurso, o presidente da Farsul, Gedeão Pereira, reforçou a cobrança por novas posturas dos governos e mencionou como pontos críticos assuntos como a ameaça do fim da Lei Kandir, a possibilidade de cobrança pela água para o uso agrícola e a alta carga tributária. "Nós, produtores, não conseguimos ser mais eficientes do que já somos. Tem muitos assuntos que precisam de solução da porteira para fora", cobrou.

O presidente da Embrapa, Sebastião Barbosa ofereceu novamente o espaço da Embrapa Clima Temperado para a realização da próxima Abertura da Colheita. O evento recebeu, em três dias de programação, 7 mil visitantes e ao todo 50 caravanas de produtores que buscavam mais conhecimento e soluções para aumentar a produtividade de suas lavouras. Apesar da expectativa de melhores preços nesta safra, esta alta nas cotações só vai ocorrer em função de uma quebra na produção neste ciclo, ocasionada pelas enchentes e pela redução na área plantada. 

A colheita foi estimada em 7,25 milhões de toneladas pela Farsul, bem abaixo dos 8,4 milhões da safra anterior. Segundo Dornelles, no RS o endividamento dos produtores atinge uma cifra de R$ 2,5 bilhões. 


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