Demanda por sistemas de irrigação cresce até 150%

Demanda por sistemas de irrigação cresce até 150%

Estiagem da primeira metade do ano e perspectiva de novos períodos sem chuva por causa do fenômeno La Niña levam
produtor a investir

Cíntia Marchi

Fornecedores percebem disparada do interesse pelas tecnologias desde março

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A estiagem que quebrou parte da safra de grãos 2019/2020 e a previsão de ocorrência do fenômeno La Niña nesta primavera têm contribuído para ampliar o volume de negócios relacionados com projetos de irrigação no Rio Grande do Sul. Empresas que trabalham com instalação de pivôs e outras tecnologias afirmam que a demanda chegou a aumentar 150% neste ano. Observam que a procura só não é maior por conta da burocracia para obtenção das licenças ambientais. Números divulgados pelo Ministério da Agricultura, referentes ao Plano Safra 2020/2021, mostram que em três meses, de julho a setembro, os produtores contrataram em todo o país R$ 246 milhões do R$ 1,05 bilhão disponível para a linha Moderinfra, voltada para a aquisição de sistemas de irrigação.

O proprietário da revenda Irrigasul, representante de equipamentos da Valley, Pedro Alessandro de Oliveira, informa que o número de negócios fechados em 2020 teve um incremento de 100% na comparação com o ano passado, na sua região de atuação, em municípios como Dom Pedrito, Bagé e Sant’Ana do Livramento. Segundo Oliveira, durante a Expodireto, em Não-Me-Toque, em março, momento em que os danos causados pela estiagem se consolidavam no Estado, se percebeu que o interesse pelos equipamentos iria disparar. “Havia fila de produtores querendo informação”, recorda.

A Fockink, de Panambi, também registra incremento significativo. As vendas de sistemas de irrigação para os produtores gaúchos tiveram uma variação superior a 150% neste ano, em relação ao ano passado.

O gerente comercial nacional da empresa, Juan Miguel Algorta Latorre, diz que, para dar conta deste crescimento, foi necessário reforçar a estrutura de pessoal, tanto na etapa de elaboração de projetos como na de manufatura, em plena pandemia. O maior número de instalações foi feita na região Central e na Fronteira Oeste para atender lavouras de milho e soja. Segundo Latorre, o agricultor tem buscado investir visando altas produtividades, independentemente do fator climático.

Demora para emissão de licenças preocupa

Mesmo em meio à forte demanda, o proprietário da Irrigasul constata que muitos agricultores desistem de projetos de irrigação quando tomam conhecimento da burocracia para a liberação das licenças por parte dos órgãos ambientais. “Este é o maior dos empecilhos”, afirma. “É uma pena porque a nossa agricultura deixa de se desenvolver mais por isto, mesmo havendo interesse do produtor e disponibilidade de crédito rural”, acrescenta. Segundo Oliveira, a tramitação das licenças é demorada (de pelo menos seis meses) mesmo para propriedades que já contam com barragens.

O coordenador da Comissão de Meio Ambiente da Farsul, Domingos Velho Lopes, considera que dificilmente crescerá a área de agricultura de sequeiro irrigada no Rio Grande do Sul – atualmente são 225 mil hectares – sem que haja flexibilização de regras ambientais e a resolução de ações judiciais envolvendo o Bioma Pampa, onde se questiona a exigência ou não dos 20% de reserva legal em área consolidada. “Enquanto não resolvermos os entraves na seara ambiental e as judicializações, não solucionaremos os problemas da seca no Rio Grande do Sul”, constata Lopes. A Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura foi procurada e não se manifestou.


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