Deriva prejudica plantios agroecológicos em Torres

Deriva prejudica plantios agroecológicos em Torres

Efeito da aplicação inadequada de herbicidas em lavouras de arroz, no interior do município, danificou a produção de hortigranjeiros

Larissa Mamouna
A comercialização dos produtos precisou ser cancelada e o prejuízo com a perda da produção foi estimado em R$ 30 mil

A comercialização dos produtos precisou ser cancelada e o prejuízo com a perda da produção foi estimado em R$ 30 mil

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Folhas amareladas, desuniformes, queimadas e com paralisação do crescimento. Esses são alguns dos sintomas associados à deriva de herbicidas hormonais que atingiram a produção agroecológica da família Martins Rosa, localizada em Vila João XXIII, na zona rural do município de Torres. De acordo com um dos sócios-proprietários, Joaquim Martins Rosa, a aplicação em lavouras de arroz irrigado nas proximidades, realizada de forma inadequada por meio de drones, acarretou o problema e a perda quase que total de seus cultivos de hortigranjeiros.

O caso aconteceu no final de novembro do ano passado na propriedade de cinco hectares que está, segundo o proprietário, entre as pioneiras da prática da agroecologia na região do Litoral Norte do Rio Grande do Sul. Conforme Martins Rosa, que além de agricultor é agrônomo, não é possível apontar com exatidão as datas das aplicações da substância e da ocorrência de deriva, mas estima-se que foram realizadas entre 25 e 28 de novembro, para o controle de ervas daninhas nas lavouras orizícolas que encontravam-se com a cultura estabelecida.

“O curioso é que (o herbicida hormonal) não afeta o arroz porque ele tem a capacidade de metabolizá-lo, mesmo não sendo um produto transgênico como a soja”, explica.

A família Martins Rosa tem sua produção orgânica certificada pelo sistema participativo de garantia da Associação Ecovida de Certificação Participativa, que integra o Núcleo Litoral Solidário e compõe o grupo Eco das Torres. “Nos últimos anos tem acontecido a aplicação aérea (nas lavouras de arroz convencionais) por drones já que a pulverização por avião não é permitida em função de se tratarem de pequenas áreas. Os herbicidas hormonais são produtos bastante tóxicos e causaram um dano muito grande na nossa propriedade”, desabafou, citando perdas nas plantações de tomate cereja, feijão de vagem, moranga cabotiá, pimentão, aipim, repolho, couve-flor e figueiras, além do abortamento floral das goiabeiras.

Conforme o agricultor e agrônomo, a comercialização dos seus produtos precisou ser cancelada. Martins Rosa conta que os sintomas nos seus cultivos foram observados no início de dezembro.

“Fizemos uma série de denúncias a partir de 10 de janeiro, e depois conseguimos os termos que confirmam que de fato houve a contaminação por deriva”, relata.

Foram acionados a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e o MP Rio Grande do Sul.

Perda financeira e danos à saúde

O agrônomo Joaquim Martins Rosa acredita que os prejuízos financeiros da família, cuja propriedade fica na zona rural de Torres, sejam de, no mínimo, R$ 30 mil com a perda da produção. No entanto, ele afirma que o dano pode ter sido muito maior, pois há valores difíceis de dimensionar.

“Tem coisas que nem se consegue calcular, como a contaminação e o risco para a saúde pública. É uma comunidade do interior do município de Torres com cerca de 50 a 60 famílias, dois rios que passam próximos e uma área de produção orgânica. Temos a responsabilidade social de produzir um alimento limpo”, desabafa.

Conforme Martins Rosa, no Rio Grande do Sul existem muitos drones, mas poucas aeronaves de comando remoto estão habilitadas para a pulverização aérea de agrotóxicos conforme a Portaria do MAPA nº 298, de 22 de setembro de 2021. Portanto, segundo ele, diversas aplicações ocorrem de forma irregular.

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