Correio do Povo Rural debate o papel da academia no agronegócio

Correio do Povo Rural debate o papel da academia no agronegócio

Pesquisa é questão essencial na produtividade do campo

Danton Junior

Ciclo de debates se encerrou nesta quinta-feira na Expodireto

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Nas últimas décadas, o Rio Grande do Sul experimentou um salto na sua produção agropecuária. O rendimento médio da soja, principal grão produzido no Estado, dobrou nos últimos 20 anos. Outros cultivos, incluindo grãos e produtos de origem animal, também registraram crescimentos expressivos. Neste contexto, a pesquisa agropecuária teve papel importante. Segundo a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapergs), a área agropecuária é a segunda maior demandante de valores, atrás apenas da medicina. Dos 600 projetos em andamento, 90 têm relação com o campo. Nos últimos anos, diversos cursos de pós-graduação foram criados tendo como foco o meio rural. Ao mesmo tempo, a restrição de recursos no setor público fez com que a participação das empresas privadas na pesquisa aumentasse.

O ciclo de debates Correio do Povo Rural na Expodireto se encerrou nesta quinta-feira com a abordagem do tema Fomento e Pesquisa por representantes de instituições de ensino e do setor privado. Entre os temas tratados estiveram o papel da pesquisa em meio à demanda do consumidor por alimentos saudáveis, a restrição de recursos para a pesquisa pública e as parcerias com a iniciativa privada.

Falando sobre os desafios da pesquisa agropecuária para o futuro, o professor Lúcio de Paula Amaral, coordenador adjunto do Programa de Pós-Graduação em Agricultura de Precisão da Universidade de Santa Maria (UFSM), citou, além do fomento à produção, a capacidade de atender a demanda por produtos específicos para perfis diferentes de consumidor. “O grande desafio vai ser como os entes que fazem pesquisa hoje vão se relacionar com esta nova demanda”, observou. Na avaliação dele, as novas oportunidades destinam-se a agregar novos valores aos produtos. São exemplos casos como o da melancia sem semente e a rastreabilidade, tanto para produtos vegetais quanto para aqueles de origem animal. Para isso, considera que o papel da pesquisa é fundamental. Ao mesmo tempo, Amaral ressaltou o papel de universidades e das instituições na redução de barreiras que travam a eficiência dos sistemas produtivos.

O chefe-geral da Embrapa Trigo, de Passo Fundo, Osvaldo Vasconcellos Vieira, concorda que o consumidor com maior poder de decisão vai exigir que a pesquisa esteja conectada com as suas demandas. “Acredito que a nossa agricultura está preparada. Vamos chegar cada vez mais a patamares elevados, com alimentos produtivos e que atendam o mercado consumidor não só do Brasil, mas do mundo inteiro”, afirmou.

Um exemplo citado pelo pesquisador é a análise de números que comprovam o desempenho da produção agrícola do Brasil. Nos últimos 40 anos, a área destinada à produção agropecuária no país cresceu 60%, enquanto que a produção aumentou 400%. Na avaliação dele, os números devem-se a uma conjunção entre tecnologia e gestão. Para os próximos anos, Vieira acredita que uma das questões a serem enfrentadas pela pesquisa será a ampliação do debate sobre a busca por alimentos saudáveis e da produção sustentável. Com relação às deficiências de recursos, Vieira considera que deve ocorrer a busca por mais parcerias público-privadas para suprir essa carência. Porém, ao mesmo tempo, vê que a pesquisa da academia fica com mais restrições.

Na produção de grãos, o melhoramento genético é apontado como um dos grandes propulsores do aumento de produção, que auxiliou a colocar no campo materiais que suportassem a variação do ambiente, de modo a expressar todo o seu potencial produtivo. Este trabalho tem grande importância para a cadeia do trigo, que sofreu nos últimos anos com intempéries e variações de preço. “Vejo a pesquisa com um papel central não só na possibilidade de produzir cada vez mais grãos, com maior produtividade e rentabilidade, mas também de agregar cada vez mais valor através de materiais com maior resistência às principais doenças, garantindo maior segurança, ao mesmo tempo em que tem se preocupado em atender às demandas do consumidor”, disse Francisco Saccol Gnocato, melhorista da Biotrigo Genética.

O professor Edson Bortoluzzi, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária da Universidade de Passo Fundo (UPF), destacou o papel da pesquisa, dentro das suas limitações, com resultados que tiveram grande impacto dentro dos sistemas de produção, aumento da produtividade e redução de custos. Um exemplo é a tecnologia da microbiologia de solo desenvolvida no Brasil, que eliminou o uso da ureia no plantio da soja. “Hoje nós economizamos em adubação graças à pesquisa e a experimentação em microbiologia”, constatou. “A maior dificuldade que temos é a corresponsabilização no processo de pesquisa e geração de tecnologia. Nós seremos muito mais eficientes e eficazes se diversos atores do processo produtivo se reunirem nos objetivos globais de produção agropecuária, respeitando o meio ambiente e tendo melhor qualidade dos produtos”, destacou.


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