Carne brasileira pauta debate do Correio do Povo na Expointer

Carne brasileira pauta debate do Correio do Povo na Expointer

Evento integra programação da feira e abordou assuntos como exportações, demanda chinesa, mercado interno, cotações e retirada da vacina contra febre aftosa

Danton Júnior

Da esquerda para direita: João Müller, diretor comercial do CP; Telmo Flor, diretor de redação do CP; e João Francisco Wolf, vice-presidente da Febrac

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A carne brasileira vive um momento de grande demanda no mercado internacional. No final do ano passado, a China ampliou suas importações, motivada pelo surto de peste suína africana, o que impactou na cotação do produto no mercado interno. Em 2020, os embarques de carne brasileira seguem em alta. No primeiro semestre deste ano, as exportações brasileira de carne bovina in natura e processada aumentaram 9% em relação ao mesmo período de 2019. Os embarques de carne suína cresceram 44% em volume em 2020. Na carne de frango, o desempenho é 1,8% superior no acumulado do ano. Ao mesmo tempo, o Rio Grande do Sul age para retirar a vacina contra febre aftosa, na expectativa de que novos mercados sejam abertos. A carne brasileira no mercado mundial foi o tema de mais uma edição do Debates Correio do Povo Rural, transmitido hoje pela internet.

O diretor executivo do Sicadergs, Zilmar Moussalle, disse não ver sinais de que países irão abrir seus mercados para a carne gaúcha após a retirada da vacina contra aftosa. Ele também salientou que não adianta o Estado querer abrir muitos mercados além dos que já tem devido ao volume que é produzido. "Estamos prevendo uma dificuldade muito grande até o final do ano para conseguir animais para abate", afirmou, ressaltando que um grande volume de bovinos está sendo exportado vivo. De acordo com ele, o Rio Grande do Sul conta hoje com cinco frigoríficos que exportam para diversos mercados, enquanto outros não atendem às condições de layout exigidas pelos países que importam e pagam bem. Apesar disso, Moussalle disse que o segmento concorda com a retirada da vacina, em solidariedade aos setores de suínos e aves, mas salientou que não haverá muita diferença para os frigoríficos de carne bovina.

O economista-chefe do Sistema Farsul, Antonio da Luz, disse não ver grandes vantagens na retirada da vacina, ressaltando que Santa Catarina - o primeiro estado a obter tal status - não tem obtido preços mais elevados devido a essa condição. "Se tiver um mercado que valha a pena, tem que retirar, desde que o Estado garanta a segurança e que os produtores possam ficar tranquilos que não teremos focos de aftosa", observou. Da Luz afirmou ainda que não acredita que exista conflito entre mercado interno e externo. Segundo ele, quanto maior for a produção voltada à exportação, maior será a produção total, o que aumentará a disponibilidade interna.

O diferencial da carne gaúcha foi destacado pelos participantes. O subsecretário do Parque de Exposições Assis Brasil, José Arthur Martins, disse que as carnes bovinas de raças europeias garantem ao produto gaúcho uma qualidade igual à carne produzida na Argentina ou no Uruguai. No entanto, segundo ele, a carne dos países portenhos acaba sendo vendida a um preço diferenciado em cidades do próprio Brasil. "A nossa carne tem que ser considerada carne de boutique. Temos um produto diferenciado. O que temos que fazer é aprender a explorar comercialmente um pouco mais", salientou. Sobre a retirada da vacina contra aftosa, o veterinário afirmou que o sistema de vigilância terá de ser aperfeiçoado. "Muito provavelmente os custos dessa vigilância são maiores talvez que o próprio custo da vacinação", disse Martins, salientando que a China, que ampliou suas compras de carne brasileira no ano passado devido ao surto de peste suína africana, não tem demonstrado restrições com relação à vacinação.

O vice-presidente da Federação Brasileira das Associações dos Criadores de Animais de Raça (Febrac), João Francisco Wolf, afirmou que a retirada da vacina contra aftosa pode abrir mercados em países importantes, tanto em abates quanto em genética, mas salientou que novas exigências deverão surgir para a carne gaúcha no futuro. "Hoje é a vacina, amanhã vão ser outras coisas. Não vai parar por aí", disse. Sobre o marketing da carne gaúcha, Wolf destacou que existem produtos muito bem divulgados e respeitados no mercado.

O momento também tem sido de demanda aquecida para a carne brasileira de frango. Segundo o presidente executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, o segmento exporta de 30% a 35% do total produzido. Ele ressaltou, porém, que houve uma pequena desaceleração nos preços internos e elevação nos custos em função dos preços dos cereais utilizados na ração animal. "Hoje estamos com preços de milho e farelo de soja que estão impactando drasticamente o nosso custo", alertou. Já a avicultura nacional, segundo ele, apresentou crescimento de embarques em volume na ordem de 1,8% de janeiro a agosto deste ano, enquanto que em receita houve queda de 11%.


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