Encontro da programação digital da Expointer discute o futuro da produção de azeite de oliva no RS

Encontro da programação digital da Expointer discute o futuro da produção de azeite de oliva no RS

Bate-papo também traz dicas para novos produtores

Camila Pessôa*

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O evento online “Novos Caminhos do Azeite de Oliva Extravirgem no Rio Grande do Sul”, promovido pela Secretaria de Inovação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (SICT), aconteceu na manhã desta quinta-feira em transmissão ao vivo pelo Facebook, como parte da programação digital da Expointer. O evento abordou assuntos como a inclusão do azeite de oliva no programa de Produtos Premium da SICT, a experiência de produtores no ramo e os desafios da produção no Brasil. Participaram do bate-papo Emanuel de Costa (Azeite Sabiá), Flávio Obino Filho (Azeite Capela de Santana), Rafael Marchetti (Empório Prosperato), Renato Fernandes (presidente Ibraoliva) e Sandro Marques (degustador profissional). A mediação foi feita por Suzana Schumacher, diretora de Conhecimento para Inovação, Ciência e Tecnologia da SICT.

O programa Produtos Premium foi criado para valorizar os produtos gaúchos, auxiliando na qualificação de produtos e serviços. Agora o programa trabalha, também, com a oliva, segmento relativamente novo no Rio Grande do Sul. O objetivo da conversa foi marcar o início desse trabalho e trazer informações para pessoas que gostariam de começar nesse empreendimento.

Na conversa, o presidente do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva), Renato Fernandes, lembrou que o Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção nacional de oliva e que o crescimento dessa cultura no país foi expressivo: passamos de 80 hectares, em 2005, para 70 mil hectares em 2021 e agora os produtores começam a ter retorno sobre o investimento que fizeram. Também observou que o Brasil tem mais de 200 premiações em todo o mundo, pela qualidade de seu azeite de oliva. “A responsabilidade é grande, porque o crescimento deve ser grande também”, disse o presidente ao citar que, segundo estudos, há mais de 1 milhão de hectares propícios para a olivicultura no Rio Grande do Sul e que há uma procura elevada por ingressar nesse empreendimento.

Segundo Fernandes, o azeite é um produto frequentemente fraudado por produtores e os selos premium vão ajudar na manutenção da qualidade do produto. Em 2019, o Brasil teve sua maior produção de azeite de oliva, com 240 mil litros. Segundo Fernandes, essa marca será ultrapassada este ano.

Sobre as dificuldades com o clima inconstante do estado, o presidente da Ibraoliva afirmou: “o gaúcho é um resistente. Ele não vive, ele sobrevive de todas as maneiras. E essas dificuldades que nós temos com o clima existem, mas eu ainda acredito na vocação do nosso estado. Nós não podemos esquecer a questão da nossa posição geográfica: nós estamos no paralelo 30, onde as condições são favoráveis e a cada dia os técnicos estão descobrindo maneiras de contornar essas condições. Os últimos anos mostram que é possível”.

No evento, também foram abordadas as características da olivicultura para pequenos produtores. O produtor Flávio Obino, do Capela de Santana, tinha uma propriedade considerada imprópria para esse cultivo, mas decidiu começar e, em dois anos e meio, já tinha produção de azeite. “A proposta do estado e da secretaria é de um produto premium e é isso que os produtores devem buscar”, disse o produtor. Para ele, a produção do azeite é trabalhosa: é preciso preparar a terra, escolher mudas, combater pragas, podar e utilizar defensivos agrícolas. “Há uma discussão grande sobre o orgânico, porque o mercado internacional quer orgânico, mas temos uma situação de pragas diferentes do mediterrâneo”, afirma. Segundo ele, o retorno é demorado, depende de persistência e podem ser consideradas alternativas, como a venda da oliva para produtores de azeite e a produção da azeitona de mesa.

Para o diretor do Empório Prosperato, Rafael Machetti, o azeite brasileiro é um produto caro, então a qualidade deve ser a melhor possível. É necessário que o cliente compre a ideia antes do produto. Assim, é preciso lembrar que o azeite brasileiro é o mais fresco possível e dessa forma ele preserva antioxidantes e outros elementos que fazem bem à saúde. O diretor afirma que esse frescor nunca será superado, porque o tempo que o produto leva para chegar ao consumidor é bem menor. “Nosso concorrente é aquele muito bom, da loja especializada e supermercados dedicados a isso e que competem com uma qualidade igual ao nosso”. Machetti também comenta que o objetivo dos brasileiros ao buscar premiações, diferente de produtores estrangeiros, que buscam exportar, é mostrar para o brasileiro que o produto nacional é bom. Para o avanço da olivicultura no país, o diretor afirma que trabalhar em pesquisa é importante, especialmente na busca pelo melhor material genético das mudas. “A gente sabe que aqui não é o melhor clima, então temos que buscar novas técnicas e observar as variedades nativas. Cada uma tem um clima diferente e temos que ir atrás das que tem um clima mais parecido com o nosso estado”, complementou.

“O mercado brasileiro começou bem, com uma estrutura de produção de última geração”, disse Emanuel de Costa, sócio-diretor da Sabiá. Para ele, a produção está avançada nas técnicas, mas o desafio é a parte da implementação do pomar: a escolha das maiores áreas e variedades, que ainda requer muita pesquisa. É preciso saber como manejar o solo e fazer com que a planta seja produtiva não somente no início do ciclo. “Os aspectos técnicos tem que ser respeitado para que esse futuro projeto seja bem sucedido e que tenha produtividade constante, porque estamos num clima úmido em vez de temperado, onde a oliva teve origem”, diz.

O degustador Sandro Marques comentou que o trabalho com inovação é importante e é bom que o estado esteja dando importância a esse tema. Para ele, o azeite de oliva do Rio Grande do Sul se desenvolve a partir da fé dos produtores. “Eles tiveram que acreditar e apostar num produto que ninguém sabia se iria dar certo”, disse. O degustador pondera: mesmo com premiações que colocam o azeite brasileiro no mesmo patamar que países com produções milenares, o país ainda está em uma curva de aprendizado.

A principal dica de Marques para os consumidores é que invistam na criação de um repertório. Para isso, é importante comparar o azeite brasileiro ao azeite comercial, aprendendo a reconhecer características como picância, amargor, frescor, aroma e o frutado (expressão que o azeite traz tanto da folha quanto da fruta). “Quanto mais picância e amargor, mais biofenóis, portanto melhor para a saúde”. Para ser bom, o azeite deve ter um aroma fresco e nítido.

*Sob supervisão de Danton Júnior


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895