Força da juventude marca presença na Expointer

Força da juventude marca presença na Expointer

Processo sucessório nas propriedades começa mais cedo e incentiva o interesse de filhos pelo legado rural dos pais

Camila Pessôa

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Nunca, em 45 edições de Expointer, tantos jovens marcaram presença entre expositores, criadores, agricultores e visitantes. Quem andou pelas ruas do Parque de Exposições Assis Brasil durante os nove dias de evento, certamente, observou o vaivém de novas gerações e o interesse de crianças pelo agronegócio. Só na Feira da Agricultura Familiar, os jovens eram responsáveis por 95 dos 337 empreendimentos. Nas pistas, foi comum assistir pais e mães comemorando grandes campeonatos com filhos adolescentes e crianças. Eles também acompanhavam os pais (e os orientavam) na compra de drones ou de balanças de gado inteligentes, por exemplo.

“Hoje não se pode fazer o que as gerações anteriores sempre fizeram porque a tecnologia revoluciona tudo, então isso cria um novo relacionamento, inclusive entre pais e filhos”, diz Francisco Vila, consultor internacional e diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), que palestrou na XVII Jornada NESpro, durante o evento. “A gestão das fazendas passou da força do braço para a força do cérebro, e a força do cérebro é a incorporação de um espectro enorme de tecnologias”, exemplifica. Com essa necessidade de atualização constante, Villa assinala que é preciso começar o processo de sucessão mais cedo e de forma mais gradual. Para o consultor, hoje, a propriedade precisa ser tratada como uma empresa e os sucessores como sócios. 

Empresas rurais

Essa visão de negócio foi necessária para que houvesse uma evolução da pecuária brasileira, como opina Ana Doralina Alves Menezes, gerente nacional do Programa Carne Angus Certificada. “Deixamos de ser fazendas e propriedades, para sermos empresas rurais, e isso é muito importante. Essa visão de empresa rural é muito ampla, não é simplesmente para quem eu vou passar o bastão”, explica Ana. “Eu tenho que ter produtividade, eu tenho que pensar em qualidade, eu tenho que produzir resultados e tenho que ser sustentável”.

Na visão de Ana Doralina, a Expointer é também uma oportunidade para que os jovens conheçam o campo. “O evento serve para que o jovem puxe para si essa responsabilidade e saiba o quanto isso evoluiu na agilidade da informação, na ponta do dedo do celular, numa rede social”, comenta. O jovem, no processo de sucessão, precisa se capacitar e modernizar a produção. “No momento que tu trabalha a propriedade como um negócio, já está incentivando a aproximação com os filhos”, afirma André Bordignon, analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-RS). 

Para evitar que os jovens saiam do campo, diz ele, é preciso mostrar que eles têm um futuro dentro da propriedade rural. “O principal é formar uma base para que aquele jovem se enxergue na propriedade no futuro”, enfatiza. Segundo o analista, o jovem só vai permanecer na propriedade seconseguir enxergar que vai ter retorno financeiro.

A veterinária Stephany Martins Melo dos Santos (na foto, atrás do touro), 29 anos, é proprietária da Cabanha Floripana, de Urupema (SC), dona do grande campeão Angus da 45ª Expointer, Don Francisco TEI435. Ela já está colhendo os frutos de um bom processo de sucessão familiar. “Stephany é veterinária e eu trabalho com construção civil. Então, de certa maneira, eu quis meio que encaminhá-la”, diz Oreste Melo Júnior, pai de Stephany e fundador, há nove anos, da Floripana. Segundo ele, a filha já cuida de toda a parte documental dos animais, do contato com os colaboradores e equipe. 

Com 3 mil hectares, a cabanha é voltada para a criação de gado de elite. “Entrei na Faculdade de Medicina Veterinária para dar continuidade ao projeto que é tão grandioso. Para mim é um orgulho fora de série”, diz Stephany. Outro proprietário jovem é Leonardo Locatelli, 24 anos, da Vinícola Vista Gaúcha, na região Celeiro do Estado, presente há 10 anos na Feira da Agricultura Familiar da Expointer.

“Com a ajuda de equipamentos e um pouco mais de conhecimento e estudo você consegue aperfeiçoar aquele mesmo produto tradicional, dando um toque diferente para ele”, afirma Locatelli. A empresa existe há 23 anos, e há quatro é gerida pelo rapaz. Ele, no entanto, avalia que a sucessão familiar é ainda uma grande barreira e o campo passou por profundas mudanças no método de trabalho. “Hoje precisamos estar mais ativos, sempre buscando novas oportunidades e ficando mais atento ao mercado”, explica Locatelli. 


Correio do Povo
DESDE 1º DE OUTUBRO 1895