Para artesãos, Expointer é momento de visibilidade, mas de lucro incerto

Para artesãos, Expointer é momento de visibilidade, mas de lucro incerto

Expositores buscam cada vez mais se aproximar dos clientes, apesar do faturamento contido

Caroline Grüne / Especial

Marilene Zottis Jurach é moradora de Santa Rosa e retornou a Expointer após 12 anos de ausência

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Há 34 anos pintando quadros em Santa Rosa, no noroeste do Rio Grande do Sul, Marilene Zottis Jurach participou da Feira de Artesanato da Expointer durante 14 anos. Mas, em 2007, teve que se afastar por problemas pessoais, como uma doença e a morte no marido. Em 2019, após recuperar-se, ela e suas obras retornaram para o pavilhão de artesanato da Expointer. Lá, vários clientes a reencontraram. Um deles, inclusive, chegou com seu cartão de 12 anos atrás dizendo que desde então procurava por seus quadros na feira.

Para os artesãos, a Expointer é assim: um momento de proximidade e reencontro com seus clientes. No primeiro final de semana da Expointer, a Exposição de Artesanato do Rio Grande do Sul (Expoargs) contabilizou a venda de 5.985 produtos, que somaram R$ 302.137,70 para os artistas. São 184 artesãos de 52 municípios em 118 estandes, que expõem e comercializam seus produtos na maior feira de artesanato gaúcho, promovida pelo Programa Gaúcho de Artesanato (PGA).

De acordo com a coordenadora do programa, Marlene Leal Garcia, os produtos mais vendidos no final de semana foram peças de cutelaria, couro, arreio e espora. O projeto é uma iniciativa que incentiva a formalização de artesãos e fornece carteiras de trabalho. Para participar da feira na Expointer, por exemplo, 678 artistas formalizados enviaram cinco de seus trabalhos para avaliação, que levava em consideração pontos como como porcentagem de trabalho manual, matéria-prima utilizada, conhecimento da técnica, personalidade no estilo, critérios no desenho e estética.

A triagem foi realizada no mês de maio em Porto Alegre, Novo Hamburgo, Tramandaí, Caxias do Sul, Passo Fundo, Santa Rosa, Santana do Livramento, Bagé e Santa Maria. Mas é na Expointer que anualmente todos se encontram.

Loiva Camargo e sua família são de Ametista do Sul. Eles são donos da World Stones, uma empresa que faz arte com pedras preciosas. São eles mesmos que desenvolvem o trabalho desde o garimpo das pedras. É um trabalho que passa por pelo menos quatro mãos: os Camargo lixam, montam e transformam as pedras em árvores e santinhos com as pedras clássicas da sua cidade. Sobre a venda na feira, Noiva diz que na segunda-feira o fluxo estava mais fraco, “mas ainda não dá para se queixar”.

Os proprietários das Bombas Schneider, ourives que desenvolvem bombas de chimarrão em prata, participam da Expoargs há 28 anos. Para Schneider, “tempo suficiente para fazer mais que clientes, fazer amigos”. Na Feira, vários deles retornam para reencontrá-los e, além de comprar novos produtos, fazer a manutenção dos antigos.

Nadia Carbinato, da empresa Arte em Ferro, também vai para a feira em busca do público e da visibilidade. Mas afirma: “a expectativa de lucro é sempre incerta”. Para alguns artesãos, a visibilidade por si só pode não ser suficiente. Marco Cardona, de Alegrete, participa da Expoargs há 10 anos com seus trabalhos de artesanato que remontam a cultura gaúcha em forma de esculturas. Folheando as notas fiscais de suas vendas nos últimos anos, mostra sua preocupação com a redução das vendas deste ano em comparação aos anteriores. “Hoje sinto a crise afetar como nunca”, afirma.

Foram 10 vendas nos primeiros dois dias de feira, que significam uma redução de quase R$ 2 mil no faturamento em relação ao ano passado. A ideia é vir como vitrine, mas a viagem custa caro. São R$ 660 para ter a banca, um valor baixo com o auxílio subsidiado pelo Estado. Mas não é só isso. Os artesãos pagam por sua estadia, para chegar em Esteio e para trazer suas obras em segurança até aqui. Ao todo, as despesas podem ultrapassar R$ 3 mil. Para Cardona, ano que vem será um grande termômetro, que pode o fazer até desistir de retornar à Expointer.


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